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Mãe deixa bebê de 11 meses na calçada: o que leva uma mulher a situações extremas como essa?

Reprodução/Rede Globo
Reprodução/Rede Globo

Publicado em 23/07/2019, às 16h09 - Atualizado em 22/01/2020, às 14h16 por Jennifer Detlinger, Editora de digital | Filha de Lucila e Paulo


O vídeo de uma mulher colocando um bebê de 11 meses na calçada e depois entrando no carro para dar ré viralizou esta semana nas redes sociais. As imagens foram captadas por uma câmera de segurança em João Pessoa, na Paraíba. O caso foi exibido no programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo (21).

Trata-se da história de Beatriz Fernandes, de 23 anos. Em entrevista ao programa, a mãe disse que se arrependeu de sua atitude e afirmou que estava nervosa. “Não teve um dia desde que isso aconteceu que eu não tenha me arrependido. Eu sei que jamais faria aquilo de novo. Eu estava nervosa, não foi pensado. Quem é que nunca errou na vida?”.

Após o caso, Beatriz acabou perdendo temporariamente a guarda da filha. Há 41 dias, a guarda está com o pai da menina, o advogado Eduardo Aníbal. Ele e Beatriz eram namorados e tinham uma relação conturbada quanto à guarda compartilhada da filha.

A mãe explicou que estava tentando entregar a filha para o ex desde a manhã do dia anterior, sábado. Cansada de esperar o ex-namorado chegar para ficar com a bebê, ela acabou tendo uma crise de estresse. Segundo o policial civil que foi chamado após o ocorrido, Beatriz parecia transtornada. “Foi uma atitude num desespero, num momento de estresse extremo, que eu passei por muitas vezes para chegar nisso. Não foi uma atitude pensada para machucar a minha filha, para abandonar a minha filha. Eu tô sentindo a falta dela – disse a mãe, em lágrimas”.

Eduardo abriu um inquérito contra Beatriz, que ainda deve ser ouvida pelas autoridades. Atualmente, ela só pode ver a filha em um berçário e nos fins de semana, mas sempre acompanhada dos pais.

O que levaria uma mãe a prejudicar seu filho?

Quando ouvimos falar que um bebê nasceu, a imagem que vem à nossa mente é de uma família feliz admirando o novo membro que chegou. Bem comercial de margarina mesmo: os primos querendo aprender a segurar o bebê, os tios babando, o pai todo orgulhoso e a mãe realizada por finalmente conhecer o rosto do seu filho.

Mas a realidade é outra: no Brasil, em cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê. O dado vem do estudo Factors associated with postpartum depressive symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study, feito entre 2011 e 2012 pela pesquisadora Mariza Theme. Nos Estados Unidos, pesquisadores na área de Psicologia estimam que 1 em cada 4 mães tenha pensamentos ligados à morte de seus bebês.

(Foto: Getty Images)

Esses dados mostram que o esgotamento mental das mães existe e precisa ser falado. E nem sempre trata-se de uma depressão pós-parto ou um baby blues, por exemplo. “A gente não deve pensar nesse momento como sendo uma atitude patológica de uma doença específica. Casos como o da Beatriz trazem à tona a exaustão das mulheres, em paralelo com a idealização da maternidade”, explica Silvia Lobo, mãe de Adriana, Suzana e Mauricio, psicóloga, psicanalista e autora do livro “Mães Que Fazem Mal”.

É importante enxergar a realidade das mães que não têm apoio, que se sentem sozinhas, desamparadas e esgotadas. Quando tratamos uma depressão pós-parto como algo comum e normal entre as mulheres, existe uma banalização e normalização do termo e também dos sentimentos dessas mães. Não deveria ser normal uma mãe se sentir tão esgotada ao ponto de ter vontade de machucar ou matar o próprio filho. Ao mesmo tempo, não deveria ser normal uma mãe ser julgada por chegar a esse extremo.

“Se tratarmos o caso com algo patológico, eliminamos automaticamente todos os outros aspectos de abandono materno, e tiramos a carga e a responsabilidade de outras pessoas, como o pai da criança. Com doenças, a ‘solução’ é imediata é de internar ou dar medicamentos e não entender de fato o que aquela mãe está passando. Acredito que a Beatriz se via em uma profunda solidão para dar conta da filha. É uma ilusão pensar que o caso só diz respeito à mãe. Também diz respeito ao parceiro, ao homem que escolheu gestar aquela criança junto com ela”, defende Silvia.

Para a especialista, deve existir um compromisso entre o casal que escolha ter filhos, que transcende o fato de ficarem juntos. “Sentir-se mãe não cai do céu, faz parte de um processo de aprendizado, descobertas e mudanças que percorrem anos de uma vida inteira. O parceiro ou parceira que escolheu gestar um bebê ao lado do outro deve estar presente de fato. Antes de ter um filho, é essencial para a mulher ver se está em condições de levar essa gravidez pela frente e saber o quanto poderá contar com o parceiro”.

A culpa é de quem?

“A mãe foi ignorada por todos que estão em torno dela. Prefeitura, governo e estado também são responsáveis na criação daquele ser, que será um cidadão no futuro. Eles também se negam a dar ajuda. Quanto mais o estado for omisso em assistir essas mães e mulheres, estará sendo conivente com uma sociedade solitária, menos democrática e evoluída”, explica Silvia.

Vivemos em uma sociedade em que ser mãe sempre fica a cargo de uma mulher. “É um círculo diabólico: tratam a tarefa de criar e cuidar de filho, que é tão difícil e sofisticado, como se fosse natural e sadia. Mas quando a mãe se vê em situações econômicas difíceis, exaurida, exausta e sem apoio de quem está ao seu redor, e chega ao ponto de deixar o filho na calçada, dizem que ela é louca”, diz Silvia.

“Precisamos tomar a consciência de que uma criança precisa ser bem tratada. Para isso, a pessoa que cuida dela precisa ser bem tratada. A mãe precisa de apoio, com condições dentro de cada bairro e atendimento psicológico. Também é importante que as mulheres que gestam e que têm filhos se unam, compartilhem, falem umas com as outras. É muito difícil se sentir um monstro porque não correspondemos às regras do manual de mãe. E se vermos pessoas que se sentem da mesma forma, temos apoio e nos sentimos mais acolhidas”, defende a especialista. 

E lembre-se sempre de não deixar a culpa tomar conta do seu dia a dia. “Ao lado do cuidado com seus filhos, as mães devem lembrar que vieram antes e têm suas próprias necessidade e desejos. Que mães possam respeitar-se na necessidade de solidão, de silêncio, de exposição e de convívio, que possam explicitar o que querem e terem voz para não desaparecerem como as pessoas que são por terem se tornado mães”, finaliza Silvia.

(Foto: iStock)

Você não está sozinha

Nós reunimos alguns depoimentos de mães que se identificaram de alguma forma com Beatriz, para mostrar que as mulheres muitas vezes podem se esgotar e que isso não dá o direito de julgar. Os comentários foram feitos na página do Facebook da Pais&Filhos e os sobrenomes foram omitidos para manter a privacidade das mães:

Karol: “Não justificando o ato dela, mas ninguém sabe a exaustão de ser mãe com depressão pós-parto. Sorte minha que minha família me ajudou muito, porque se eu fosse sozinha, nem eu, nem minha filha estaríamos vivas”.

“Quando a mãe pira, chove julgamento de mulheres perfeitas que nunca se cansaram na vida”

Andressa: “Já tive um surto de estresse e depressão pós-parto, quando meus gêmeos tinham 7 meses. Hoje, eles estão com 15 anos, mas ainda não consigo me perdoar. Todos os dias da minha vida vou levar na memória aquele dia que deixei meu bebê chorando no berço e saí de casa. Eu estava muito surtada, sem dormir desde o parto, cuidando de dois bebês e ainda com depressão. É tão fácil virem aqui e vomitar os julgamentos, mas ninguém ajuda uma mãe. Ninguém. A mãe passa noites acordada, come mal, não toma banho direito… fica mega estressada por conta dos hormônios, do cansaço… e NINGUÉM socorre essa mãe para ela descansar. Daí, quando a mãe pira, chove julgamento de mulheres perfeitas que nunca se cansaram na vida. Eu só observo essa hipocrisia”.

Luci: “Sou mãe solteira. Meu filho é e sempre foi uma benção e uma escolha minha. Mas não posso dizer que não tive vários momentos de desespero nesses quase 23 anos! Você se sente sozinha, sobrecarregada, avaliada, julgada, culpada. Estão culpando a mãe… Mas por que o pai não foi buscar a criança quando a mãe pediu? Agora todos vão socorrer esse “coitado”. E essa mãe quem socorreu? Quem se dispôs a ficar com a criança para que ela tivesse alguns momentos para si?? Fácil julgar, difícil é estar no lugar dela. Foi errado? Sim. Mas também foi errado o pai não estar presente quando deveria”.

“Você se sente sozinha, sobrecarregada, avaliada, julgada, culpada. Estão culpando a mãe… Mas por que o pai não foi buscar a criança quando a mãe pediu?”

Anne: “Não estou dizendo que atitude dela foi certa ou errada. Nós mães passamos por muitas situações difíceis e estressantes. Assim como ela, nunca consegui entrar num acordo, a guarda do meu filho é minha, e o pai tem direito aos fins de semana e às vezes ele usa isso como uma forma de vingança, eu já tive que ir buscar meu filho com o conselho tutelar. E numa situação dessas as vezes perdemos o controle, ficamos transtornadas, então não vamos julgar… Nós mães sofremos em silêncio, e tudo que queremos é só um pouco de empatia. Que seja feito o melhor pela criança, pois eles são os mais vulneráveis nessa situação”.

Maria: “Ter filhos nos tempos de hoje não é fácil. Os jovens não aprenderam a lidar com problemas. Vivemos em tempo de muito egoísmo. Quando tive meus filhos, recebi apoio da família e principalmente de meu esposo. Minha mãe me educou para ser mãe sem esconder as dificuldades do parto, amamentação e o processo de recuperação. Tive minha licença maternidade e amamentação. Pude contar com babá e não foi brincadeira, não. Tive preparo. Hoje falta muito apoio para as jovens mães”. 

Rafaela: “É tão triste ver tantos julgamentos. Sou mãe de 3, nunca fiz algo parecido. Porém, que mãe nunca sentou e chorou de exaustão? Que mãe nunca quis sumir apenas para tomar uma xícara de café em silêncio? Imagino que essa moça possa estar passando por um momento de exaustão extrema, se sentindo sozinha, ninguém aqui sabe a condição financeira que ela está vivendo. Antes de nos sentirmos no direito de julgar, vamos tentar ter mais empatia pelo momento do outro. Ser mãe dói também, ser mãe leva a exaustão, ser mãe nos consome de forma extrema. Portanto, parem de quererem demonstrar uma perfeição que não existe. Apenas tenham empatia. O mundo precisa de EMPATIA. Desejo que essa moça se recupere, se reconstrua, se perdoe e seja muito feliz!”

“Antes de nos sentirmos no direito de julgar, vamos tentar ter mais empatia pelo momento do outro. Ser mãe dói também, ser mãe leva a exaustão, ser mãe nos consome de forma extrema”

Lumena: “Mulher com exaustão psicológica e depressão por cuidar de filho sozinha, faz mal ao filho sem querer, sim. Se arrepende depois, vê que perdeu o controle por besteira. Mas é INVOLUNTÁRIO. Ela é só mais uma mãe exausta emocionalmente”. 

Patricia: “Isso acontece todos os dias! Exaustão, depressão são coisas sérias. No caso dela, era apenas apoio o que ela precisava. não é jogo de empurra, e sim questão de obrigações que não estavam sendo cumprida! Mãe não tem obrigação de cuidar de filhos sozinha, pai também tem. No dia que alguns pais entenderem isso o mundo vai melhorar”.

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