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Mário Sérgio Cortella

Imagem Mário Sérgio Cortella

Publicado em 05/09/2012, às 07h00 - Atualizado em 28/01/2021, às 06h02 por Redação Pais&Filhos


por Mônica Figueiredo, mãe de Antonia

Com três filhos, um neto chegando e mais tantos agregados, Mario Sérgio Cortella gosta de família grande e casa cheia. “Muito movimento, muito choro, muita música, muita risada”, brinca. Para ele, reunir todos em volta de uma mesa, fazer comida juntos, escutar música, conviver, está na essência da família. Quando chegamos para entrevistá-lo, estava falando no rádio sobre as Olimpíadas. Em minutos, passou a falar de educação de filhos. Poderia ter falado também, com propriedade, sobre política, escola, culinária, gatos ou qualquer outro assunto. Nós, aprendemos sempre.

Não tem fórmula para criar os filhos, né?

Não tem regra. Filho não vem com manual de instrução, mas não é tão solto assim. Tem um mito nessa área de que não dá para programar. É claro que dá! Planejamento está no reino da ciência, adivinhação está no reino da magia. Embora cada indivíduo seja um indivíduo, não significa que não haja características comuns na humanidade. É possível aprender a educar pessoas.

Você se definiria como um pai de que tipo?

Algumas coisas eu trouxe da formação que meus pais me deram. Nem tudo o que vem do passado deve ser descartado. Algumas coisas tem que ser trazidas para o presente, guardadas, cultivadas. É o que a gente chama de tradicional. Muitas vezes se usa equivocadamente a palavra ‘tradição’.

Como se fosse ruim…

Isso. Tradicional é aquilo que preserva o antigo. O antigo não é o velho. Há alguns valores na formação familiar que são antigos: convivência, afetividade, ideia de gratidão, reverência à comunidade. O que é velho: o autoritarismo, a violência, o espancamento, o machismo, o cinismo na convivência. Por isso, dos meus pais, eu trouxe aquilo que eu entendo como tradição. A defesa da honestidade, a capacidade do amor exigente, isto é, “não é porque eu te amo que eu aceito qualquer coisa de você. É exatamente porque eu te amo que eu não aceito qualquer coisa de você.”

E aí entra uma coisa do amor paciente.

Sim, mas paciência não é lerdeza. Um amor paciente é aquilo que o Paulo Freire chamava de paciência pedagógica, histórica e afetiva. O que é a paciência histórica? As coisas têm o seu tempo. Não adianta eu falar com um menino de 7 anos sobre o exercício do sexo. Eu posso falar com ele sobre sexualidade. Há situações que uma criança não compreende.

Histórica no sentido da idade da criança.

Histórica de tempo, de maturação, de faixa etária. A segunda paciência é a pedagógica. As pessoas não aprendem do mesmo modo nem ao mesmo tempo.

Isso já melhorou muito.

Sim, porque os ritmos são diversos. E, terceiro lugar, a paciência afetiva, que é a capacidade de resistir a alguns momentos em que se daria para perder a paciência, e é preciso tê-la. Quem ama não desiste. Então, as paciências histórica, pedagógica e afetiva compõem um dos módulos da paciência. Paciência, repito, não é lerdeza. Mas também velocidade não pode ser pressa. Hoje uma parte das crianças e jovens está crescendo apressadamente.

Queimando etapas emocionais muito importantes.

A borboleta não pode sair do casulo antes da hora. Se isso acontece, pode até encantar num determinado momento, mas ainda não está madura o suficiente para voar sua autonomia. Toda borboleta que sai do casulo antes da hora é exuberante num primeiro momento, mas depois perece. Eu ouvi, ontem, uma mãe dizendo que, há alguns anos, as filhas queriam aprender a cozinhar com as mães, e hoje querem aprender a beber como os pais. Independentemente do componente machista que pode haver na frase, quer dizer, mulher cozinha, homem bebe, ainda é uma lógica bem expressiva. Há muitas borboletas saindo do casulo antes da hora.

Hoje a gente é mais permissivo?

Nós somos mais frouxos e, portanto, mais permissivos. Como hoje uma parte das pessoas fica muito ausente de casa, não tem convivência. E nós cometemos um equívoco, que foi fazer a família apartada.

Como assim?

Só 25% das famílias do mundo vivem no nosso modelo ocidental, isto é, pai, mãe, filhos. 75% das famílias do mundo vivem em comunidade familiar.

O que muda tudo.

Exatamente. Por exemplo, qual é o lugar em que os filhos aprendiam valores há algumas décadas? E ainda é na família africana, asiática, no mundo árabe. Com os avós. Como pai e mãe estão na atividade e os avós, em casa, faz mais sentido. Por exemplo, na casa da avó podia tudo menos o que ela proibisse. Parece uma contradição, mas não é. A noção de limite é exatamente essa. A questão é que algumas famílias ficaram muito solitárias, se apartaram de avó e avô, e isso produziu um prejuízo. Por se ausentarem, em função das distâncias das metrópoles, pela necessidade de trabalhar mais números de horas, pelo fato também de a sociedade no século XX ter trazido à tona um dilema que não existia até o século XIX – que é se a mulher trabalhava fora ou não – parte dos pais e mães afrouxou as capacidades de regulamento. Porque você só pode ter autoridade quando convive. Se você não convive, sua autoridade é frágil, na medida em que você não exerce o poder no cotidiano. É nos momentos de aproximação que são geradas as rupturas. Aí tem duas opções. Ou você, para não ter o conflito, sai fora e cede, ou você parte de maneira agressiva.

E as duas são furadas.

Claro. Aí você grita. Ao gritar, perde completamente a razão. Porque o uso da força para o controle de alguém é sinal de fraqueza. Desse ponto de vista, houve de fato um afrouxamento. E uma parte das famílias criou algo muito ruim: uma geração que vem crescendo sem a noção de esforço.

A conquista…

A criança não arruma a própria cama, não partilha o trabalho doméstico, não tem que cuidar. Quando eu era menino, a gente ganhava presente duas vezes por ano. No nosso aniversário ou no Natal. Isso significa que se eu ganhasse um carrinho, eu tinha que cuidar. Porque se eu não cuidasse, eu ia ficar sem. Até chegar o Natal ou o próximo aniversário. Essa formação do cuidado é decisiva para a ecologia, é decisiva em relação ao consumo. Hoje para uma criança soterrada de brinquedos nada vale, tudo é óbvio. Parte dos jovens parecem adultos em férias, isto é, vão ao cinema, ao restaurante, viajam… Só não trabalham. E isso deturpa uma personalidade. Parte dos jovens, não tendo ideia de limite, de esforço, se comporta como se fosse sempre um credor. A família está em débito com ele.

A vida está devendo para ele.

Sendo um credor, como ele não recebe tudo de volta, se coloca na postura de vítima universal. Ao se colocar na postura de vítima, ele está na posição de alguém que precisa sempre receber, que não precisa oferecer. Uma coisa que se perdeu, que tem muito a ver com futuro imediato, é a ideia de reverência. Reverência ao alimento.

No sentido do respeito?

Sim. Quando nós perdemos a capacidade de reverência, de respeito ao alimento, também perdemos reverência à vida, porque o alimento é o que nos mantêm vivos. E ao se perder a reverência à vida se perde a reverência ao outro também, portanto a vida do outro pouco vale. Aí você tem um caldo no qual pode ferver o biocídio. Quando eu, ou você, éramos crianças, seu pai e sua mãe não deixavam você sair da mesa sem terminar de comer tudo. Por quê? Porque alimento era sagrado. E é sagrado não só porque há fome no planeta, mas porque ele não pode ser desperdiçado. Hoje as famílias levam seus filhos aos fast foods, para que eles façam guerra de batata frita ou atirem catchup um no outro.

Não tem mais o ritual da mesa.

Isso, esse momento da refeição, que sempre foi o momento da comunhão, da partilha. Esse ausentar levou ao que é extremamente maléfico. A cultura ocidental fez isso em nome da praticidade – e muitas vezes o prático não é o certo. É mais prático furtar do que trabalhar, é mais prático colar do que estudar, é mais prático reclamar do que fazer.

Mas aí como a gente faz? Como você faz?

Nossa família não é uma referência, porque eu sou um professor, a Janete é jornalista, nós tínhamos horários variados. Em casa nós almoçávamos juntos todos os dias com os filhos.

Vocês sempre estimularam essa convivência.

Sempre. Era difícil, mas não era impossível. Terminado o almoço, íamos todos para o sofá. Aí rolava meia hora de conversa e depois ia cada um para a sua vida. Uma das coisas que mais une as pessoas é cozinhar juntos. Criança, de 4 ou 5 anos, quando participa de uma atividade na cozinha, como lavar e guardar, aprende o sentido do coletivo e do respeito às coisas. A segunda coisa que fazíamos, aos sábados à tarde, era ouvir música com os três filhos. Cada um tinha que apresentar aos outros as músicas que gostasse. Até hoje temos afinidade musical muito assemelhada.

Porque vocês foram criando o gosto ali.

Claro. Hoje eu não tenho nenhum tipo de rejeição ao ouvir Lady Gaga, Black Eyed Peas, ou seja, eu me habituei ao prazer dessa sonoridade. Assim como eles curtem Chico Buarque.


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