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Saiba mais sobre Daniela De Rogatis

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Publicado em 07/03/2012, às 07h00 por Redação Pais&Filhos


Quando pequena, entrou numa escola brasileira sem falar português, matriculada no ano errado, e ainda foi obrigada a escrever com a mão direita sendo canhota. Coincidência ou não, virou uma referência na área de educação. Hoje, comanda o Grupo Rogatis, no qual presta consultoria às famílias, ajudando-as a encontrar oportunidades de aprendizado para as crianças.

Por Mariana Setubal, filha de Cidinha e Paulo
Qual é o papel dos pais atualmente?

O papel da família sempre foi e sempre será educar e formar o filho. Com a modernidade, e a mulher ingressando no mercado de trabalho na forma como o mundo propôs, a criança ficou num caminho do meio. Não que a mãe ou o pai não tenham vontade e interesse em educar, mas o tempo de dedicação que a família tem para o filho foi muito reduzido. 
E o da escola? 
A escola sempre teve o papel de educar para o conhecimento, de integrar a criança ao conhecimento científico para que ela tenha um repertório inicial sobre como funciona o mundo. Com a mulher saindo para trabalhar, a escola ganhou novas responsabilidades. E também com essa questão de o aluno ter uma personalidade, uma identidade, uma maturidade, a escola acabou se modernizando, procurando maneiras de acolher a pessoa do aluno. 
Então você acha que ficou um pouco confuso o papel de cada um?

Com esses movimentos, aconteceu um fenômeno no qual a obrigação sobre quem forma e quem educa ficou de certa forma perdida. A escola continua dando a aula, mas quem guia a educação é a grande questão. Vejo que as famílias estão aos poucos se propondo a retomar essa liderança, e a dúvida é por onde começar. A família é o líder estratégico e afetivo da formação do filho. A escola é uma ferramenta que a família tem no que se refere à formação social.
Delegar responsabilidades para a escola tem consequências negativas para a criança? 

Se a família não estiver 100% alinhada aos valores da escola, uma vez que a escola é o líder disso, a família é colocada em xeque. A criança passa a questionar os valores que a família propõe. 
Como?

Por exemplo, há anos meus filhos me falam “mãe, não use sacola de plástico, mata as tartarugas”. Isso eles aprenderam na escola. Isso abastece as famílias. Mas eu também proponho que as famílias estejam ligadas no que é contemporâneo, e que sejam capazes de liderar e de construir para os filhos um mundo que elas sonham e propõem, e não a escola. O maior prejuízo é o questionamento dos valores que a família tem.
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E quando existe uma comunhão de ideias? Ou isso não existe?
Existe. Às vezes os pais estão abertos à escola propor valores. Por exemplo, eu estou aberta à escola dos meus filhos explorar o tema da sustentabilidade. Acho ótimo, aprendo muito, mudo meu comportamento e faço essa revisão. Nem todas as famílias são receptivas, e quando é assim acontece um choque de valores e de condutas. Quando a família e a escola estão na mesma organização flui melhor, mas também há menos questionamentos, e por isso, menos aprendizado.
Como lidar com isso?
A questão é que não se pode colocar a criança em um lugar em que ela se sinta insegura em relação ao seu núcleo familiar. Quando ela é muito nova e o núcleo é questionado, ela constrói a personalidade, o temperamento e o conhecimento dela sobre uma base fraca. A confiança, o bem-estar e o viver com a família são as bases sobre as quais a criança vai desenvolver todo o conhecimento dela. A escola vem depois, e não antes da família. Essa inversão não pode acontecer.
O que fazer para que não aconteça?
A escola que a gente conhece é uma autoridade. De um lado, colocamos ela neste lugar, que dá para ela o exato lugar de líder, mas por outro já sabemos que o núcleo familiar é a base para a sustentação e o desenvolvimento das pessoas. Antes, o que era relevante era o conhecimento. Hoje, entrou um fator chave que é: a pessoa do seu filho também é relevante. Quando esse movimento aconteceu, a liderança teve que retomar para a mão da família, porque a escola cuida de um grupo de crianças. A escola é sempre de um pra vários, e a família é sempre de um pra um. Mesmo que você tenha cinco filhos, o olhar do pai e da mãe para cada um é único. 
Então a novidade não é a autoridade da escola, mas os pais quererem tomar mais conta dos filhos?
É liderar, ser um pai e uma mãe pensantes, atuantes, e não leigos.  O cuidado que antes era só do coração, “eu amo meu filho e por isso cuido dele”, hoje é “eu amo meu filho e por isso cuido dele direito”, e isso inclui saber preparar para o mundo. 
O que os pais podem fazer para preparar os filhos para o mundo? 
Para isso você tem que saber um pouco sobre o que se passa ao seu redor.  A minha geração foi liderada para a competição. Vestibular competitivo, trabalhar para ser o primeiro, ter atitudes cuja ética pode ser questionada em prol de conseguir um trabalho melhor. Já meus pais pensaram um mundo diferente. Um mundo da colaboração, onde o bem-estar prevalece, as boas relações são relevantes, a saúde física e mental também. Quando a gente lidera, a gente faz essa projeção. E criamos a possibilidade de termos pessoas preparadas para viver nesse mundo. 
Muitas famílias querem que o filho se prepare para o vestibular desde o primeiro ano. O que você acha disso?
Quando você elege o conhecimento acadêmico como única possibilidade e cria seu filho única e exclusivamente para o vestibular, é negado a ele um acesso a todo um universo de interações. Com a natureza, com as outras pessoas, com conteúdos mais criativos, mais lúdicos e com repertórios culturais. Se a infância for trocada por um tempo de competitividade e estresse para o conteúdo acadêmico, a criança já é formatada para isso.
Muitos pais apontam que a competitividade é intensa…
A competitividade é uma coisa do século passado. Quem vive sob esse pensamento está louco. Há um momento da infância em que você já conhece seu filho, e já há a possibilidade de saber quando é a hora certa de se investir nessa prática pró-vestibular. Às vezes o repertório para ser um excelente banqueiro não veio da faculdade, veio da sua interação com computadores. O mundo caminha para um lugar onde o autor de sua arte, seja de mercado financeiro, de advogado ou cozinheiro, tem valor por ser individual. E isso uma escola que educa só para o vestibular não tem condição de ensinar.
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E como você acha que dá para estimular a inteligência da criança desde cedo?
Para desenvolver a inteligência, tem que se respeitar a maturidade da criança. Se você avança em temas que ela não tem maturidade para elaborar, gera reação e não conhecimento. Essas famílias que investem em equipar com tudo o que é possível, e mais moderno, estão trabalhando contra a construção da inteligência. Às vezes as pessoas me perguntam “tecnologia, sim ou não?” Sim, mas não só a tecnologia. A tecnologia é uma realidade, mas a natureza, as expressões artísticas, musicais e do corpo são essenciais para a construção da inteligência. Muitas pessoas falam “ah, mas hoje em dia a gente tem babá, não precisamos fazer nada”. E isso é errado, precisa sim.
Você acredita que essas facilidades podem atrapalhar na educação?
Quem não sabe arrumar o próprio armário terá mais dificuldade em aprender os conceitos de classe, série e ordem, que são os conceitos clássicos da inteligência. Toda vez que seu filho se relacionar com algo, ele criará um novo potencial de inteligência. Viajar é aprendizado, ficar junto é aprendizado, e fazer nada também é aprendizado, hoje em dia não muito valorizado, mas que é essencial, porque é o tempo que a mente precisa para poder processar o que ela aprende.
A tecnologia também pode ser ruim quando em excesso, não pode?
A questão é a locação de tempo. O dia tem 24 horas. Se meu filho fica quatro horas com eletrônicos, este é o repertório que estou oferecendo para ele. Em cinco horas dá para ele brincar, desenhar, ler um livro, jogar bola, pular corda. O que é nocivo na tecnologia é uma visão de que o acesso aos aplicativos e aos games gera mais inteligência que as outras atividades. Às vezes o conteúdo destes games é equivocado em relação à maturidade. E na infância o importante é a variedade. A questão é “que mundo meus olhos podem ver?”. Quanto maior o mundo, maior sua possibilidade de relacionar conteúdos, de encontrar soluções. 
A gente tem a impressão de que a educação hoje é mais difícil. Realmente mudou?
Incluiu-se a criança no todo que compõe a educação. Ela passou a ter uma existência. A partir do momento que olhamos a criança, a gente olha vários problemas, e vários perfis, comportamentos e atitudes. Porém, a gente quer que todo mundo se comporte igual e tenha desempenhos semelhantes e o problema fica gigantesco depois.
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O que faz a sua empresa?
A Rogatis Family é uma empresa que propõe que as famílias olhem seus filhos de forma personalizada, por meio de um produto que se chama Design de Aprendizagem, que nada mais é do que um mapa que olha quem é o seu filho, onde ele está em relação ao conhecimento e à maturidade e propõe recomendações de como uma família pode se estruturar e oferecer oportunidades de aprendizado.
Como você trabalha essas questões na sua casa, como mãe?
Eu tenho três filhos totalmente diferentes. De um lado tem coisas muito comuns sobre como nossa família pensa, que é comum aos três. O diferente é o que cada um precisa em cada momento. A questão da cultura é um ponto da minha família. São proporcionadas aos meus três filhos várias oportunidades de interação com a questão da cultura, das artes, das expressões. 
Então como funciona a atenção individual para  cada um?
Cada criança é uma. Eu tenho um filho que é objetivo, orientado para a lógica, que precisa de um reforço em relação às coisas mais fluídas. Então a gente propõe para ele muito mais contato com questões de arte e do corpo do que para minha outra filha que é super do corpo. Para ela, sugerimos a oportunidade de olhar as coisas com outros olhos, de organização, de planejamento. E tenho outro filho que equilibra bem no meio. Mas quando chega o momento de conseguir seu próprio espaço, ele tem dificuldade. Então a gente o ajuda com questões de como se colocar. O olhar é muito particular e focado em quem é cada criança. A gente tem que ter a possibilidade de traduzir o que eles estão mostrando. Eu não resolvo nada para os meus filhos, nós decidimos juntos juntos.
E você, quando era criança, teve alguma dificuldade como aluna?
Muitas. A primeira dificuldade que tive é que eu era canhota, e fui obrigada a escrever com a mão direita. A partir dali, todas as dificuldades aconteceram. 
Quais foram as principais dificuldades?
A primeira foi quando meus pais me colocaram na escola e eu não sabia falar português. Eles nasceram fora e falam outra língua. Quando eu fui pra escola e não sabia português, eu não tinha como me comunicar. Além disso, eu sou do fim de novembro, então eu era sempre a mais nova da turma, e meu pai achava que eu era inteligente, então quando a professora propôs que eu ficasse um ano para trás ele não deixou, e no lugar de me atrasar eles me adiantaram. Tive dificuldade para me alfabetizar, sempre fiquei de segunda época. 
Perguntas Pais e Filhos 
Família é tudo, concorda?
A família é tudo. É o líder estratégico e afetivo da formação e educação do filho. Ela é o norte. A família sempre é o norte, não importa qual família é. Mas tem que saber que é o norte e tem que se responsabilizar por esse norte. O mais difícil da família é se preparar e construir tudo para que o filho possa montar a família dele e sair da sua. A família é tudo porque ela é a base segura sobre a qual a criança se desenvolve . É o porto seguro para a inteligência, para o coração, e tudo junto. 
A infância passa muito rápido; como aproveitar melhor? 
O número um é não encurtar a infância, é permitir que ela dure o que ela tem que durar, que são bons 13 anos. E nunca perder a sua própria criança, não deixar a idade te endurecer. As famílias têm que curtir a infância, tem que dar o tempo, tem que poder estar junto. Essa perspectiva de que passa muito rápido eu não vivo. Nem penso nisso, acho que ela tem o tempo dela. Quem pensa que já foi, que passou depressa, não viveu na intensidade que poderia. Cada etapa tem o seu encanto. Quando vou na casa da minha mãe, com 40 e ela com 60, eu continuo sendo a filha dela, e a gente continua tendo momentos muito bons e adequados à nossa idade. Acho que se você aproveita a infância, ela tem o tempo suficiente.

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