Família

No começo era o hormônio na geladeira

Imagem No começo era o hormônio na geladeira

Publicado em 25/08/2014, às 14h03 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h31 por Redação Pais&Filhos


Faixa branca com faixa vermelha não se misturava aos outros itens da geladeira. Entre frutas, legumes e o pote de requeijão, ela guardava um conjunto de seringas e a esperança. Iniciamos o tratamento no final de novembro e em janeiro já estávamos grávidos. Como assim? Foi rápido demais. Tanto tempo sem conseguir e, passado pouco mais de um mês da primeira injeção, recebemos com alegria o resultado do teste de gravidez. Embora não tenha sido um procedimento natural, foi o que viabilizou a chegada de nosso pequenino. Incrível, arrebatador. No entanto, a fertilização in vitro demandou uma série de cuidados que não constavam entre as receitas dos médicos.

Desde julho daquele ano percorremos um longo caminho de elaboração interna. Tivemos conversas inesperadas, rompantes emocionais, troca de expectativas, lembranças e receios. Repensando o percurso, posso afirmar que a gestação começou quando engravidamos de palavras e gestos.

“Vamos ter um filho?” Muito longe das  experiências de nossos pais e avós, a reprodução assistida poderia ser entendida como algo de outro mundo, assim como o hormônio acondicionado em nossa geladeira. Pesquisar e visitar médicos e clínicas, conhecer laboratórios de embriologia, planejar o pagamento de uma quantia considerável, além de contabilizar os riscos do tratamento. Tudo nos trouxe questões muito novas. Antes a resposta era simples: “Sim”. Mas, após a ideia de buscar uma clínica, a pergunta não era mais a mesma: “Vale a pena correr os riscos? Vale a pena o investimento? E se não der certo da primeira vez, vamos tentar de novo? Até quando?”

Entramos num mundo à parte de nossa realidade. Incrível e maravilhoso, ainda que asséptico, misterioso e frio. Apesar dos sorrisos e cumprimentos das secretárias e enfermeiras, era um pouco como o interior de nossa geladeira. A caixa branca “venda sob prescrição médica” continuava a nos provocar. Falamos, para amenizar, das nossas histórias: nossas gestações nas barrigas das avós de Miguel. Enjoo? Sangramento? Repouso? Construímos um sentido para o desconhecido, como as cláusulas do contrato: o que fazer com os embriões excedentes? Congelar, doar a outro casal, ceder para pesquisas científicas?

Dentre os gestos, fotografar foi o primeiro que me ocorreu. Apertar o botão da máquina era algo simples, direto: armazenagem do hormônio, preparo do pó e do líquido, a seringa e o ventre à espera. Uma picada, um beijo, uma foto. Quantas vezes ao dia? Não me lembro.

Acompanhei minha esposa em todas as conversas médicas, consultas e procedimentos; lidamos juntos com o pagamento, injeções e notícias, além dos termos técnicos. Resposta inadequada hormonal e/ou ovariana; indução e coleta de óvulos; transferência embrionária; preparo de endométrio; aspiração de folículos; fertilização e evolução dos embriões. Sem tempero, todo um palavreado, meio indigesto, que demandou uma camada generosa de recheio, mais bate-papo olho no olho, mais sal curado.

Profissionais com mais e menos tato e prudência também cruzaram nosso passo a passo. Por exemplo, fomos mal-informados, no primeiro ultrassom, de que a gravidez tinha sido um resultado falso. Tratamos de nossas feridas, eu e a futura mamãe, um do outro, até repetir o exame em outro laboratório, dias mais tarde. Nos momentos mais delicados, vale lembrar, contamos com a experiência e o apoio da família, amigos e terapeutas; nossa gratidão, sorrisos bochechudos. A cada elaboração, o processo se tornou mais íntimo, humano, in vivo. E hoje é o Miguel.”


Palavras-chave
Aconteceu comigo

Leia também

Imagem Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Bebês

Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Pai de Davi - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Pai de Davi não concorda com posição do filho e decide ir morar com Mani

Imagem Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Família

Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Se você procura um nome de menina, aqui estão 180 ideias diferentes - Pexels/Moose Photos

Bebês

180 nomes femininos diferentes: ideias de A a Z para você chamar a sua filha

Copo Stanley - Divulgação

Super desconto

App Day Amazon: os famosos copos térmicos da Stanley com até 55% de desconto

Virginia Fonseca - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Virginia Fonseca toma atitude após Maria Alice empurrar Maria Flor: “Dói mais na gente”

Isabella Fiorentino explica o motivo de não mostrar o rosto do filhos - Reprodução/ Instagram

Família

Isabella Fiorentino explica o motivo de não mostrar o rosto dos filhos em fotos nas redes sociais

Taiza Krueder, do Clara Resort, fala sobre carreira e maternidade - (Foto: Arquivo Pessoal)

Família

Taiza Krueder, CEO do Clara Resort, fala sobre inspiração da família no trabalho: "Criei 3 filhos aqui dentro"