Família

Marcos Piangers e Ana Cardoso falam sobre disciplina e educação dos filhos: “Crianças farão pirraça, como fizemos eu e você”

Evelen Torrens
Evelen Torrens

Publicado em 16/08/2019, às 13h59 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h35 por Cecilia Malavolta, filha de Iêda e Afonso


(Foto: Evelen Torrens)

Marcos Piangers é pai de Anita e Aurora, jornalista e palestrante. Esse mês, ele nos convida a refletir sobre o amor.

Estava no corredor número oito do supermercado do bairro assistindo à minha filha pequena fazer um glorioso escarcéu anunciando para todos os clientes o quanto queria ganhar doces e o quanto o seu pai (o papai pop!) era péssimo ao não satisfazer suas vontades chocólatras. 

Ela gritava coisas do tipo “mas eu queeeeeerroooooooooo” e eu me lembrava que, antes de ter filhos, jurava que jamais aceitaria que filho meu fizesse cena no supermercado, ele iria levar um tapa tão bem dado que ficaria desnorteado e jamais pediria nada nunca mais, pelo contrário, decidiria ali mesmo começar a trabalhar e se formaria em medicina antes dos dezoito anos. 

Pobre ilusão, o fato é que minhas filhas vieram e acabei incapaz de agredi-las, que bom que todas as pesquisas científicas comprovam que palmada é a pior atitude mesmo e o certo é explicar as coisas para a criança. Ufa. 

Pra piorar, toda vez que minhas filhas dão vexame tem alguma pessoa que me reconhece por perto, todas as pessoas que leem esta coluna, e meus livros, e veem meus vídeos e palestras e esperam que eu seja o pai perfeito e minhas filhas tenham comportamento impecável. 

Óbvio que isso não acontece, primeiro porque não sou pai perfeito, pergunte à minha esposa, e segundo porque não existe criança que não faça algum tipo de drama quando quer ganhar alguma coisa. 

Lá estava eu no corredor de número oito do supermercado e um cidadão de bigode e óculos passou com seu carrinho, percebeu a cena que minha filha estava fazendo e disse: “Escrever é fácil, né?”, enquanto eu tentava acalmar minha filha. Alguns leitores são muito desagradáveis, como podem ver. Tenho certeza de que não é o seu caso, mas foi o caso daquele senhor de bigode e óculos, que se eu não me engano levava papel higiênico no carrinho e não era nem da marca mais cara. 

Não tenho vergonha de dizer que aqui em casa minha filha de sete anos lava a louça de vez em quando, já preparou sua própria comida ( fez arroz, fritou o bife e o ovo) e sempre que acaba de se alimentar coloca o prato na pia. Ela também escova os dentes e dorme cedo, faz a tarefa de casa e arruma o quarto sempre que pedimos, considero-a uma menina muito obediente mas, como já disse, de vez em quando dá um show de indisciplina, geralmente em lugares públicos e quando alguém que me considera o melhor pai do mundo está vendo.

Quando ela não quer ir embora da casa de uma amiga, por exemplo, lá estou eu ajoelhado implorando para que ela venha comigo enquanto peço desculpas aos donos da casa. Ou pior, quando estamos em algum restaurante e ela fica chateada de não ganhar sobremesa, todas as pessoas sentadas perto da nossa mesa ouvem os gritos e pensam: “jamais permitiremos esta algazarra quando formos pais!”. Rá, penso comigo mesmo. Faço votos de fertilidade.

E quando uma repórter me entrevistava e perguntou “como criar crianças perfeitas?” e eu respondi, rapidamente: “Não sei!”. Não conheço crianças perfeitas, não conheço pais perfeitos e, certamente, não conheço adultos perfeitos. Conheço apenas aqueles que tentam acertar e que aprendem com os erros. 

Crianças farão pirraça, como fizemos eu e você. Em lugares públicos, minhas filhas colocarão em cheque minha fama de bom pai. Mas elas são comportadas quando ninguém está olhando. Eu juro que são.

(Foto: Reprodução)

Ana Cardoso é mãe de Anita e Aurora, jornalista e socióloga. Esse mês, ela nos convida a refletir sobre o amor.

As pessoas, em geral, adoram as minhas filhas. Ou fingem muito bem. A mais velha gosta de conversas adultas, interessa-se profundamente por artes e é a ídola da pirralhada da família. Sua criatividade para fazer caça ao tesouro é reconhecida em todas as capitais do sul do país. Sobre a menor, sorridente e amável, nunca ouvi maus relatos ou reclamações. Mas, não são assim todas as crianças? 

Trabalhar com educação e parentalidade, entretanto, nos coloca em um lugar um bocado desconfortável. Como se a gente não pudesse errar. Mas, o que é acertar? Há mães que querem que o filho tire as melhores notas, outras se preocupam com as brigas e mordidas e tem uma meia dúzia bem tranquila, que só quer que a prole seja feliz, sem perturbar os outros. Gosto de pensar que sou deste grupo. 

Há controvérsias, minhas filhas devem achar que eu as cobro demais. Que o Marcos é bravo. Que a escola é difícil. Na sociedade, o filho do outro nunca é perfeito. Sempre vai ter alguém apontando o dedo e criticando algo na forma que educamos, na dieta, nas roupas, na escola escolhida. 

Hoje em dia, até o tipo de literatura que oferecemos às crianças é assunto público. Nosso filho também nunca é perfeito. Sempre vai incomodar alguém. Não existe uma receita para criar os melhores seres humanos do mundo. A grande verdade é que, querendo ou não, no final das contas, nossos filhos serão muito parecidos com a gente. Então, se você é legal, ético, bom amigo…. É o modelo que seu pimpolho tem para reproduzir. 

A psicóloga da minha filha mais velha segue uma linha sistêmica de tratamento. Outro dia a questionei sobre como minhas sobrinhas podiam ser tão diferentes das minhas filhas. Ela explicou que, para ela, 50% é genética, mas todo o resto é uma soma de condições e, por isso, parentes podem divergir tanto. Nessas “condições” estão a escola, o bairro, os locais que frequentam, as referências culturais, a saúde, o relacionamento dos pais e muitas outras. A partir dessa soma (genética + circunstâncias) as pessoas desenvolvem seus valores, crenças e princípios. Ou seja, são tantas variáveis que é muita pretensão para uma mãe ou pai achar que vai conseguir de nir quem seu filho vai ser ser. 

Quem lembra dessa frase: “faça o que eu falo, não faça o que eu faço”? Em se tratando de educação, o que vale é justamente o contrário. Temos que dar o exemplo. O que a gente fala ou escreve só importa para os outros. Da porta pra dentro, ser a nossa melhor versão me parece ser a grande jogada.

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