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Jovem tem 18 personalidades e mãe relata: ‘A gente aprende a amar, cada pedacinho é ela também’

A paciente diagnosticada convive com 18 personalidades - Reprodução/TV Globo
Reprodução/TV Globo

Publicado em 21/08/2023, às 10h35 - Atualizado às 10h44 por Mayara Neudl, Estagiária | Filha de Lidia e Rogerio


O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) ganhou grande repercussão nas redes sociais nesta segunda-feira, 21 de agosto, após ser tema de uma matéria do Fantástico, da Rede Globo, no domingo, 20 de agosto. Giovanna Blasi, denominada como Sistema Resistência, convive com 18 personalidades e deu entrevista sobre a condição.

O transtorno é um quadro grave psiquiátrico, onde a pessoa acometida pela doença mental sofreu alguma experiência traumática na infância, e o desenvolvimento natural é interrompido, levando à criação de múltiplas personalidades para lidar com a dor acometida.

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A paciente diagnosticada convive com 18 personalidades (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Na época que eu entrei em crise dissociativa, eu trocava pelo menos 14 vezes por dia”, falou a paciente que, hoje, troca em torno de 7 a 8 vezes diárias. A mãe dela, então, procurou profissionais da saúde mental, uma psiquiatra e uma psicóloga. O diagnóstico de TDI para Giovanna veio alguns meses depois do início do acompanhamento.

Geralmente na primeira infância, antes dos 6 anos de idade, esses traumas podem ser situações de abuso sexual, abuso físico, negligência, ou morte de alguma pessoa próxima, por exemplo. A personalidade, então, se divide para lidar com o sofrimento.

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A mãe de Giovanna procurou ajuda de profissionais da saúde mental para acompanharem a filha (Foto: Reprodução/TV Globo)

“No começo eu fiquei meio assustada, mas depois eu fui entendendo, porque cada uma tem uma característica e essas características têm a ver com a Giovanna. Então, a gente aprende a amar, porque aquele ser inteiro que está ali, cada pedacinho é ela também”, conta Cris Lima, a mãe da jovem.

É como se aquele ser vulnerável e frágil, que é a criança, criasse um mecanismo de defesa e sobrevivência, e deixasse que a nova personalidade que surgiu assumisse o seu lugar para que não seja mais ferido. Mais de uma consciência, então, passa a viver dentro de um mesmo corpo.

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Cris Lima, a mãe de Giovanna, contou que aprendeu a amar cada pedacinho que compõe a filha por completo (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Personalidade, trejeito, forma de falar, gosto, tudo diferente”, relatou Giovanna. Christian Dunker, psicanalista, pontuou que: “Vai formando uma espécie de sistema ou constelação, em que várias versões da mesma pessoa estão ali coabitando e vivendo junto com ela”.

“Acho que desde criança eu sempre percebi que tinha alguma coisa errada comigo”, desabafou Giovanna. “Ninguém nos entendia, nem a gente se entendia, porque a gente tem algumas lacunas de memória na infância e adolescência“, disse Patrícia Fagundes da Silva, denominada Sistema República, que também é acometida com o transtorno.

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A personalidade Dandara, a protetora, tomou a frente dos “alters” (Foto: Reprodução/TV Globo)

Os pacientes do transtorno compartilham que há um tipo de dicionário para entender melhor. As identidades presentes no corpo podem ser chamadas de “alters”, e são elas que compõem o sistema. Quem está no “controle”, falando por todas elas, está no chamado “front”, que basicamente seria a frente da consciência, enquanto os outros “alters” estão no “headspace”, o inconsciente do paciente.

Bruna Bartorelli, chefe do Ambulatório de Transtornos Somáticos do IPq-HCFM/USP, conta que cada uma das identidades podem ter, inclusive, sotaques diferentes. “Eu fui afastada da faculdade e do trabalho por tempo indeterminado, ainda estou afastada, porque eu estava disfuncional, estava trocando muito, de uma forma descontrolada”, desabafou Giovanna.

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Ariel é um dos “alters” masculinos do Sistema Resiliência (Foto: Reprodução/TV Globo)

Os estudos apontam que 70% dos casos acontecem em países ocidentais, e 50% desses 70, ocorrem nos Estados Unidos e no Canadá, o que indicaria componentes socioculturais importantes para a manifestação do transtorno. Além disso, a incidência é de 1% na população mundial.

“Pela raridade do transtorno e pela necessidade de afastar esses diagnósticos diferenciais, ele acaba não sendo o primeiro diagnóstico a ser pensado”, apontou Fernanda Sassi, psquiatra do Ambulatório dos Transtornos de Personalidade e do Impulso do IPq-HCFM/USP.

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Laura, um dos “alters” do Sistema Resiliência, denominação da constelação de Giovanna Blasi (Foto: Reprodução/TV Globo)

Bruna Bartorelli também contou que o TDI não tem uma medicação específica, então se há um quadro conjunto de, por exemplo, depressão ou ansiedade, a medicação é ministrada para essas outras condições: “O tratamento de eleição é a psicoterapia para tentar integrar as personalidades e a pessoa consegue não apresentar mais, ou diminuir a frequência, a quantidade, melhora a funcionalidade”.

A reportagem ressaltou que não cabe à outras pessoas questionarem o diagnóstico dado a alguém, já que o indivíduo provavelmente está em sofrimento e precisa ser acolhido, ao invés de maltratado. Esse assunto cabe apenas aos profissionais especializados que atendem e acompanham o caso.

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A reportagem deixou claro que os pacientes estão em sofrimento e não cabe a quem não for especialista invalidar o diagnóstico (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Existem dois pontos. Ou a pessoa fala que a gente tá fingindo, que a gente tá inventando, que isso não existe. Ou elas vão pelo lado espiritual: ‘É demônio, é espírito’. Ou eu já ouvi coisas como: ‘Você deveria estar em um manicômio’, então é muito difícil o jeito que a gente é tratado socialmente”, desabafou Giovanna.


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