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Isabel do vôlei, uma equilibrista

O equilibrismo de Isabel Salgado, do vôlei, é um dos muitos exemplos dentro da maternidade - Shutterstock
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Publicado em 28/11/2022, às 07h39 - Atualizado às 14h49 por Cecilia Troiano


Sou apaixonada por esportes, gosto de praticar, gosto de assistir, gosto de ler notícias relacionadas, me interesso pela vida dos atletas e por aí vai. Enfim, é um tema que me cativa há anos e que quase me levou ao curso de Educação Física. Certamente, puxei do meu pai essa paixão, já que ele era atleta e também amava esportes. Lembro do meu pai, em época de Olimpíadas, antes das TVs por assinatura, colocando todos os aparelhos de TV da casa numa sala para que cada um estivesse sintonizado num canal, e assim não perder nenhuma modalidade.

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O equilibrismo de Isabel Salgado, do vôlei, é um dos muitos exemplos dentro da maternidade (Foto: Shutterstock)

Essa semana, fomos tristemente surpreendidos pela inesperada e precoce morte da Isabel Salgado, a Isabel do vôlei, mãe de 5 filhos e 4 netos, aos 62 anos. Lendo nesses dias sobre ela, na tentativa de buscar alguma explicação racional para uma morte tão sem sentido, eu que já era muito fã dela, me identifiquei ainda mais. Claro, eu já imaginava como deve ter sido complexo para ela manter a carreira de atleta com treinos e jogos acontecendo cada dia em uma cidade, com a maternidade. Mas foi no jornal O Globo que encontrei relatos de seu equilibrismo e do quanto a Isabel se virava em mil para dar conta de tudo.

Em 1980, aos 28 anos e já com os 4 filhos, recebeu uma proposta para jogar no Japão e tornou-se a primeira brasileira do vôlei a ter uma carreira internacional. Para a temporada japonesa precisaria passar 3 meses por lá e não teve dúvidas: “Vão todos comigo porque eu não suportaria ficar esse tempo longe deles”. Alguém se identifica com essa fala da Isabel? Nem consigo imaginar quão difícil deve ter sido se mudar para o outro lado do mundo, uma cultura totalmente diferente, uma língua incompreensível para nós, com 4 filhos pequenos a tiracolo, com treinos puxados e crianças precisando de cuidados. Sem falar que não tínhamos internet nesta época!!!! O que é equilibrismo para uma brasileira no Japão, sem Whatsapp nem Google?

Calma que tem mais. Em momento posterior na carreira, ela, que era carioca e morava no Rio, foi convidada a jogar pelo então time da Sadia, em São Paulo. Por um ano se dividia passando as semanas na capital paulista e os finais de semana no Rio, quando não tinha jogo. Mas as saudades dos filhos apertaram e ela sem medir o cansaço, muitos dias largava o treino no fim da tarde e corria para uma ponte aérea SP-Rio. Dormia com os filhos, fazia um chameguinho e pela manhã já retornava aos treinos, pegando mais uma ponte aérea. A vontade de estar ao lado dos filhos e o coração dividido venciam o cansaço dos treinos. Se alguém se identifica, levanta a mão!

Coincidentemente, ontem li um relato de uma mãe de 3 filhos, hoje já crescidos, executiva de multinacional, a Chris, que escreveu em sua página no Linkedin qual era seu método para se mostrar próxima dos filhos nos dias em que o trabalho pedia longas jornadas. Se chegasse tarde e os filhos já estivessem dormindo, ou quando saía antes de acordarem, entrava no quarto das crianças e dava um nó no lençol para que eles soubessem que ela havia passado por lá. Um carinho para todos os lados que certamente criou um ritual inesquecível.

Eu mesma criei meus rituais com meus filhos, uma almofadinha que um dia Beatriz e Gabriel fizeram na escola para mim. Ao sair, deixava a almofadinha com eles. Era como uma garantia de que eu ia, mas voltava, sempre. Pensar na almofadinha faz meu coração ficar apertado de saudades daqueles tempos. No final, após tantos anos passados, todos os filhos estão bem, saudáveis e tocando suas vidas. Os da Isabel, da Chris, os meus e os de tantas de nós. Os nós no lençol, as almofadas, as pontes aéreas da Isabel valeram a pena, nossos filhos são prova disso.

Isabel Salgado ao lado das filhas, Carol Solberg e Maria Clara Salgado, grávidas
Isabel Salgado ao lado das filhas, Carol e Maria Clara, que também seguiram carreira no vôlei (Foto: Reprodução/@carol_solberg)

Volto à Isabel que me inspirou a escrever esse texto. Eu já a admirava como atleta e, hoje, mesmo tardiamente, a admiro igualmente como mãe. Nem vou falar de sua postura política ativa, também motivo de muitos aplausos. Curiosamente, no final de semana anterior à sua morte, estava assistindo com meu marido a partidas de vôlei de praia pela TV e vi dois de seus filhos jogarem, Carol e Pedro. Também Clara, sua segunda filha, era atleta do vôlei de praia, mas já largou a carreira. O exemplo de Isabel foi sem dúvida uma inspiração para seus filhos e vê-los hoje adultos, dedicados e seguindo o legado da mãe, é o maior atestado de que todo o esforço da Isabel valeu a pena.

Como brasileira, amante dos esportes e do vôlei e mãe equilibrista, senti a morte da Isabel como quem perde uma pessoa próxima, alguém que admirava à distância. Hoje a entendo ainda mais e sinto pena de não tê-la conhecido ao vivo. Minha solidariedade à família da Isabel. O Brasil perdeu uma mãe, uma avó, uma atleta e uma equilibrista.

Assista ao podcast com Marcos Piangers que rolou no 14º Seminário Internacional Pais&Filhos


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