Criança

Tudo o que você precisa saber sobre puberdade precoce

Entenda o que é e os impactos da puberdade precoce nas crianças - (Foto: Getty Images)
(Foto: Getty Images)
Adium

Publicado em 11/03/2024, às 11h55 por Yulia Serra, Editora | Filha de Suzimar e Leopoldo


A puberdade é um processo natural de amadurecimento do ser humano, marcado por diversas transformações físicas, principalmente pelo desenvolvimento dos órgãos sexuais. Quando esse processo acontece antes do previsto, a puberdade é considerada precoce. A criança pode precisar de auxílio médico e, não raro, de apoio psicológico. Afinal, é extremamente importante preservar a infância da criança, período que tem, sim, data certa para começar e acabar.

Conversamos com o Dr. Vinícius Nahime Brito, endocrinologista, é membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica (ESPE) e da Sociedade Americana de Endocrinologia (ENDO-SOCIETY), além de responsável pelo ambulatório de puberdade precoce do Hospital das Clínicas da FMUSP; Dra. Sabrina Pani, psicóloga infanto-juvenil, que trabalha há 15 anos com Psicologia Clínica, atendendo crianças e adolescentes dos mais diversos perfis, mãe de Lorenzo e Eleonora; e Ana Elisa Salvatore, mãe de Nina, atualmente com 10 anos, que passou pela puberdade precoce para esclarecer os principais pontos sobre o assunto.

Broto nascendo
Tire suas dúvidas sobre puberdade precoce - (Foto: Getty Images)

1. O que é puberdade precoce?

Puberdade é o período de transição entre infância e vida adulta, marcado por diversas modificações físicas, comportamentais e psicossociais, como estirão de crescimento e aparecimento das características sexuais secundárias. Nessa fase, surgem os pelos pubianos, o broto mamário e, nos meninos, ocorre o aumento do volume testicular. Também é comum haver acne, oleosidade corporal, odor e pêlos nas axilas. A puberdade é considerada precoce quando esse processo começa antes do previsto.

2. A partir de qual idade a puberdade é precoce?

A puberdade é considerada precoce quando ocorre antes dos oito anos nas meninas e antes dos nove anos nos meninos. Após essa idade, a puberdade costuma acontecer até os 13 anos em meninas e 14 anos em meninos.

3. O que causa a puberdade precoce?

O médico explica que a puberdade decorre da ativação de um fator hormonal produzido no hipotálamo, chamado GnRH. Esse fator estimula a hipófise anterior a produzir dois hormônios: o LH (hormônio luteinizante) e o FSH (hormônio folículo estimulante), ambos vão atuar nas gônadas, ou seja, no ovário das meninas e no testículo dos meninos, estimulando a produção dos hormônios sexuais, que são o estradiol na menina e a testosterona no menino.

Há também outra glândula importante durante a puberdade, a suprarrenal, que produz hormônios responsáveis pelo aparecimento dos pêlos pubianos, da acne, do odor e dos pêlos axilares. “Esses são os dois principais mecanismos hormonais ativados na puberdade”, conclui o Dr. Vinícius. O histórico familiar também é muito importante. Se existirem casos na família, é necessária ainda mais atenção com as crianças.

4. Quais são os tipos de puberdade precoce?

Existem dois tipos de puberdade precoce. A puberdade precoce central, que ocorre quando o estímulo dos hormônios LH e FSH é iniciado precocemente - antes dos oito anos em meninas e dos nove em meninos. O outro tipo é a puberdade precoce periférica, causada por doenças ovarianas, testiculares, na glândula suprarrenal e nas gônadas. A puberdade precoce central é a forma mais frequente, respondendo por 80% dos casos. Além disso, ela é muito mais prevalente em meninas do que meninos, com cinco a dez vezes mais chances da condição surgir no público feminino. “Nos exames clínicos e laboratoriais, é muito importante fazer a diferenciação entre os tipos central e periférico, porque os tratamentos são completamente diferentes”, pontua o Dr. Vinícius.

5. Tem como prevenir a puberdade precoce central?

O especialista faz questão de enfatizar que esse é um assunto complexo, mas garante que manter um estilo de vida saudável pode contribuir para evitar a puberdade precoce, uma vez que há associação de sobrepeso e obesidade com adiantamento da puberdade. Isso implica em praticar atividade física, ter uma boa alimentação, construir um bom relacionamento social, evitar abuso de telas e ter atenção ao contato com produtos que contenham hormônios. Porém, algumas das causas da puberdade precoce não são preveníveis.

6. Quais são os sinais de puberdade precoce central em meninas? E meninos?

“Na menina, a puberdade geralmente se manifesta com o surgimento do broto mamário (telarca) e a aceleração de crescimento. Depois, temos o aparecimento dos pêlos pubianos (pubarca). O evento final seria a primeira menstruação (menarca). Esse processo, desde o início da mama até a menarca, deve durar em torno de dois anos e meio, três anos. O menino passa pela puberdade um pouco mais tarde e o primeiro sinal é o aumento do volume testicular, o que, às vezes, é difícil de perceber pelos pais. Depois, temos o aparecimento dos pêlos pubianos, o aumento do pênis e a aceleração do crescimento também como um marcador”, explica o endocrinologista.

7. O que se deve fazer ao perceber os sintomas de puberdade precoce central no seu filho?

Dr. Vinícius destaca a importância de buscar imediatamente orientação médica com pediatra ou endocrinologista, para que a criança passe por uma avaliação clínica detalhada a fim de entender a causa dessa condição. Quanto mais cedo esses sinais forem detectados e quanto mais precoce acontecer a orientação médica em casos que exigem tratamento, maiores as chances de bons resultados.

8. Como é feito o diagnóstico de puberdade precoce central?

Quando a família procura um pediatra ou endocrinologista ao perceber sinais de puberdade precoce, a criança passa por uma anamnese (uma avaliação clínica muito detalhada) para entender se há histórico familiar, quando apareceram os sinais, como está sendo a evolução dessa puberdade, se houve contato com algum medicamento que eventualmente contenha hormônios, a história pregressa dessa criança, como está o avanço do crescimento, além de exames de sangue para saber como estão os níveis hormonais - que são importantes para diferenciar e entender se é um caso de puberdade precoce central ou periférica, e exames de imagem.

9. Quais são os impactos na vida das crianças com puberdade precoce?

O Dr. Vinícius pontua duas questões: prejuízo na estatura final e impacto psicossocial. Apesar da criança parecer alta no momento do diagnóstico, ela pode perder o potencial genético para a altura final, levando a uma estatura menor, uma vez que ocorre a maturação óssea precoce. Além disso, a literatura mostra que a puberdade precoce não tratada pode levar a níveis elevados de ansiedade e estresse, assim como depressão, uso de álcool e comportamento sexual. “A questão do abuso sexual e da gravidez precoce também nos preocupa bastante. Então, tratar a puberdade precoce é extremamente importante para evitar essas situações”, complementa o endocrinologista.

10. A puberdade precoce central traz algum risco para a saúde mental?

Sim. A Dra. Sabrina comenta: “O que acontece com a criança com a puberdade precoce é que muitas vezes é difícil para ela se adaptar às mudanças físicas e emocionais, que vão acontecendo num momento que há um descompasso entre o desenvolvimento físico e aquele emocional e cognitivo”. Por esse fator, é possível aparecer sinais psicológicos como questões de autoestima, ansiedade, depressão, bullying e sexualização precoce.

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Entenda como tratar a puberdade precoce - (Foto: Getty Images)

11. É importante que crianças com puberdade precoce central façam acompanhamento psicológico? Por quê?

Sem dúvidas! Principalmente para entender o quanto a puberdade precoce está impactando a vida social e familiar daquela criança. “O acompanhamento psicológico ajuda a entender o que do comportamento da criança é impacto da puberdade precoce, para uma orientação dos pais sobre como lidar com essas questões e diminuir o efeito desse diagnóstico recebido em todos”, diz a Dra. Sabrina.

12. Como os pais podem falar com o filho sobre puberdade precoce central?

A Dra. Sabrina enfatiza: “É muito importante nesses casos que a gente considere a criança também como alguém muito consciente daquilo que ocorre consigo, principalmente quando existem evidências de que algo está acontecendo e a criança vai percebendo a diferença no próprio corpo”. Por isso, a psicóloga incentiva que essa conversa aconteça de forma muito aberta, esclarecendo para a criança o que está ocorrendo e mostrando que há tratamento para retardar o processo. A especialista também recomenda mencionar que é normal se sentir irritada ou desconfortável. Também importante reforçar que podem ter questões de cunho romântico, mas não é o momento adequado para esse tipo de relacionamento. A via de mão dupla é fundamental nesse momento, como indica a Dra. Sabrina: “É importante ouvir como a criança está se sentindo e deixar um espaço aberto para que ela possa fazer as perguntas que tenha”. Nesse contexto, a psicóloga também destaca a importância de incentivar atividades de acordo com a idade cronológica da criança, mantendo interesse na vida infantil, assim como atenção ao modo de se vestir.

13. Qual é a importância do apoio familiar para a criança que descobre a puberdade precoce central?

Fundamental. É assim que a Dra. Sabrina resume esse apoio e justifica: “Vai ser de onde vão partir as ações iniciais, frequentes e constantes para dar conta do cuidado dessa criança, que está passando por esse processo ao receber o diagnóstico”. A família precisa participar e é o elo principal de todo o cuidado e tratamento. Ana Elisa Salvatore, designer, mãe de Nina, atualmente com 10 anos, que foi diagnosticada com puberdade precoce, comentou sobre a própria experiência.

“Percebemos aos 8 anos que ela estava com início de desenvolvimento das mamas. Ela sentiu um carocinho e veio nos perguntar”, iniciou. Ao passar no pediatra, ela foi encaminhada para o endocrinologista que confirmou a puberdade precoce: “Nossa reação foi partir para o tratamento o mais rápido possível”. O tratamento começou com injeções mensais que foram substituídas por semestrais: “Isso ajudou muito”. Nina também faz exames periódicos de sangue e raio-X dos punhos para acompanhamento do bloqueio.

14. Puberdade precoce central tem tratamento? Como funciona?

Sim. Há um medicamento que faz o bloqueio da puberdade ao inibir a secreção de hormônios e hipofisários e, assim, inibir a secreção de estrógeno pelo ovário e testosterona pelo testículo. A partir desta ação, ocorre a regressão ou estabilização do processo puberal. “Essas medicações são chamadas análogos de GnRH. O GnRH é o hormônio hipotalâmico que estimula a hipófise. Quando a gente dá esse análogo de GnRH, ele se liga nos receptores da hipófise e faz com que haja um bloqueio na secreção do LH e do FSH, que são hormônios hipofisários, e com isso ocorre a diminuição desses hormônios que causam a puberdade”, aponta o Dr. Vinícius.

“A monitorização pelo endocrinologista é fundamental para saber se o tratamento está sendo eficaz. Em geral, esses medicamentos são muito bem tolerados, com poucos efeitos colaterais. O bloqueio puberal é feito até aproximadamente dez anos e meio, 11 anos de idade. Depois, ao parar o tratamento, o processo de puberdade é restabelecido. Portanto, o bloqueio é transitório e reversível”, pontua.

Entre os tratamentos disponíveis, existem medicações oferecidas gratuitamente no SUS e com uso semestral. É possível realizar aplicações subcutâneas (sob a pele), que são menos doloridas. A terapia de uso semestral tem se mostrado tão segura e eficaz quanto as demais, aplicadas em intervalos menores.

15. O tratamento melhora a qualidade de vida de crianças com puberdade precoce central?

“Existem estudos mostrando que o bloqueio puberal melhora a qualidade de vida”, garante o Dr. Vinícius.

16. Há alguma relação entre autismo e puberdade precoce central?

Estudos apontaram maior prevalência da puberdade precoce entre crianças que apresentam Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), porém o Dr. Vinícius acrescenta que ainda não se sabe exatamente a relação causal entre essas condições. Mesmo assim, é fundamental monitorar o desenvolvimento puberal de crianças com estes transtornos.

17. Há alguma relação entre Síndrome de Down e puberdade precoce central?

Há maior incidência de puberdade precoce em crianças com Síndrome de Down por fatores genéticos. Nesses casos, se torna ainda mais importante o cuidado físico e emocional, assim como apoio dos profissionais de saúde e familiares.

18. A pandemia aumentou os casos de puberdade precoce central?

Durante a pandemia da covid-19, alguns estudos apontaram um aumento da prevalência da puberdade precoce. Porém, o Dr. Vinícius esclarece que isso não é consenso. “As pesquisas que apontaram esse aumento atribuíram isso principalmente ao ganho de peso das crianças durante o período de sedentarismo e isolamento social, além de maior exposição às telas, levando a uma desregulação hormonal”.

Fonte: Ministério da Saúde. PCDT da Puberdade Precoce Central. Portaria Conjunta nº 13, de 27/07/22


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