Publicado em 03/01/2022, às 14h01 por Redação Pais&Filhos
Charlotte Merryl Cohen-Tenoudji levou 25 anos para poder encontrar seu final feliz de cinema. Ela, que tem como verdadeira identidade o nome Isabella dos Santos, foi sequestrada com apenas 2 meses de vida e vendida no mercado de adoções ilegais para uma família francesa, e enfim pôde reencontrar a família de sua mãe biológica, que foi assassinada três anos depois de seu nascimento.
“Nunca tive natais felizes com irmãos, tios, avós que pudessem me contar memórias de família. Sou muito grata por ter encontrado minha mãe e, ao mesmo tempo triste porque, quando a achei, ela já não podia estar comigo. Mas quero estreitar laços com a minha família verdadeira e resolver questões com meu pai biológico ” diz Isabella, em entrevista ao jornal O Globo.
Ela conta que foi dada à uma família de alcoólatras que não tinham condições de acolher um bebê. Em desabafo, ela afirma ter sofrido diversos abusos e agressões, e, por isso, seus pais perderam o poder familiar e ela foi dirigida a um abrigo público. O pai adotivo, que tem 92 anos, está doente. A mulher dele, que sofria com um transtorno de bipolaridade, morreu.
Depois que descobriu ser filha adotiva e começou a perguntar sobre sua origem, a mãe adotiva dizia que a havia encontrado no lixo. Em 2018, ela realizou um teste de DNA que comprovou que sua mãe era Jacira Lima dos Santos. Jacira trabalhava como empregada doméstica na casa do casal que a vendeu e a enviou para a França. O assassinato de Jacira, em 1991, aos 25 anos, nunca foi totalmente esclarecido.
Após desvendar sua verdadeira origem, a jovem saiu da França em busca da família biológica. Falando muito pouco a língua portuguesa, ao chegar no Brasil, Isabella teve a ajuda de Wal Ferrão, da ONG Portal Kids. Elas investigaram os passos de um esquema de tráfico ilegal de crianças iniciado no Lar das Crianças Menino Jesus, orfanato dirigido pelo casal italiano Franco e Guiomar Morselli. Ambos morreram em 2015 e 2020, respectivamente.
Segundo investigações, Morselli teria vendido Isabella por 15 mil euros. Ao nascer, foi atendida pelo próprio nome em exames médicos feitos em um grande hospital de São Paulo, mas em outra consulta já surgiu como Charlotte. Esses documentos foram encontrados por ela aos 15 anos, revelando os segredos de seu nascimento.
“Minha vida é como se fosse a junção de várias novelas. Tentaram pulverizar a minha história, dividi-la em pedacinhos, e eu tive de catar cada peça”, relata a jovem. Agora, ela usa socialmente o nome de batismo original até que seus documentos sejam oficializados.
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