Relato de mãe: “precisamos mudar o foco do somos todos iguais para cada um é do seu jeito”
Nossa colunista Ana Castelo Branco conta como mudou sua percepção de mundo após ter filho
Ana Castelo Branco, nossa colunista, conta que depois de muito tempo, descobriu que todos somos diferentes – e está tudo bem ser assim.
“Somos todos iguais.
Somos todos iguais.
Somos todos iguais. O mantra da pessoa bem-intencionada-engajada-do-bem que já entoei tanto por aí. Até entender que a verdadona mesmo é exatamente a oposta: somos todos diferentes.
A ficha caiu quando tive meu primeiro filho. Na real, foi um tempo depois. Logo que ele nasceu, assumo, ainda foquei por um tempo e com todas as forças na teoria de que somos todos iguais.
Até que, um dia, a ficha contrária caiu. E posso falar? Foi libertador. Porque, enquanto acharmos que o bacana, o correto, é nos enxergarmos como iguais, não chegaremos a lugar nenhum. À primeira vista, pode parecer supernobre desconsiderar cromossomos a mais, cromossomos a menos, paralisias, tons de pele, talentos, dificuldades, orientações sexuais, endereços ou idades. Mas isso nada mais é do que a continuação pela busca da tal “normalidade”. Por outro lado, quando você muda seu foco para “somos todos diferentes”, um portal bem grandão abre na sua cabeça. Não apenas sobre o filho com um cromossomo a mais. Não apenas sobre a filha com todos os cromossomos nas quantidades recomendadas. Não apenas sobre o colega cadeirante. Não apenas sobre questões grandonas. Mas sobre você mesmo. Sobre aquele bullying que você sofria na escola e que nem tinha esse nome ainda. Sobre aquele cara genial que você adora mas ninguém entende. Sobre seu vizinho que faz umas coisas estranhas. Mas que você começa a sacar: só parecem estranhas porque você acha que deveríamos ser “todos iguais”.
Sabe aquela pergunta superclássica que diz assim: como podem filhos criados pelos mesmos pais serem tão diferentes? a resposta é simples: não somos todos iguais. A mãe é diferente do pai, que é diferente do filho 1, que é diferente do filho 2. E todo mundo também é diferente na relação com este ou com aquele. Os pais eram “assim” quando nasceu o primeiro filho. E “assado” quando nasceu o segundo.
Todo mundo é de um jeito na quarta-feira. E de outro no domingo. É um grande nó de gente, dias, momentos, relações. Tudo junto. E, muitas vezes, separado.
Pela questão do meu filho, o tal cromossomo 21 a mais, mesmo sem querer, tornei-me uma ativista da inclusão. Uma ativista empírica. Não tenho nenhuma formação no assunto. Apenas observo, falo, escrevo, falo, escrevo, observo e falo pra caramba.
Mas, vou te dizer, se tem uma coisa que aprendi ao longo dos últimos cinco anos é que o mundo precisa mudar o foco do “somos todos iguais” para “cada um é do seu jeito”.
Um tempo atrás, quando eu ainda entoava o tal mantra da pessoa “bem-intencionada-engajada-do-bem”, não fazia a menor ideia de que faltavam quatro ou cinco hífens: “-precisando-entender-mais-um-pouquinho”.”
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