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Racismo não é bullying: educação antirracista e o enfrentamento ao preconceito no ambiente escolar

Racismo e bullying são coisas diferentes e precisam de ações diferentes - Unsplash
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Publicado em 24/04/2023, às 11h49 por Toda Família Preta Importa


**Texto por Rosana Rufino, mãe de João Pedro. Filha da dona Terezinha. Advogada, professora e gestora de projetos em compliance, D&I e ESG. Mestranda em Humanidade, Direitos e outras Legitimidades pela USP. Colaboradora do Justiça Materna. Presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB Seccional São Paulo. Co-fundadora do Instituto da Advocacia Negra Brasileira (IANB). Coordenadora do Movimento Elo – Incluir e Transformar

Racismo e bullying são coisas diferentes e precisam de ações diferentes (Foto: Unsplash)

No atual contexto social de violências nas escolas o debate sobre bullying volta a ser o centro das atenções nas instituições e na sociedade civil. Inegável que o bullying é uma questão que precisa ser enfrentada e combatida, mas não se pode mais aceitar que não se dedique igual atenção para o enfrentamento ao racismo no ambiente escolar e se discuta o que configura atitudes racistas ou quais comportamentos são inaceitáveis. Embora o bullying e o racismo possam, muitas vezes, acontecer simultaneamente são formas diferentes de opressão que afetam as crianças em um ambiente de aprendizagem, sendo de suma importância enfrentarmos essas questões como conflitos de natureza, origem e reflexos diferentes para, efetivamente, combater a discriminação racial.

Enquanto o bullying é uma prática cada vez mais discutida fora e dentro do ambiente escolar o racismo segue sendo prática frequente, se materializando de maneira velada ou explícita também no ambiente escolar, tornando-se um problema abordado de maneira esporádica ou superficial, mas que prejudica amplamente a qualidade de vida e a saúde física e mental de crianças e adolescentes em idade escolar e com reflexos nocivos inclusive na vida adulta. Embora ambos sejam comportamentos prejudiciais, a maioria das instituições de ensino trata os atos de racismo que ocorrem dentro do ambiente escolar como bullying, enfrentado de maneira igual problemas que, por terem natureza diferentes, precisam de ações de prevenção e combate distintas.

O racismo é caracterizado pela discriminação, preconceito e opressão com base na raça ou etnia de uma pessoa, enquanto o bullying é caracterizado por comportamentos agressivos, de violência física ou psicológica, repetitivos e intencionais que podem ser baseados em vários fatores, entre eles aparência, habilidades, interesses, orientação sexual e que afeta apenas um indivíduo ou um grupo pequeno de pessoas. O racismo, por sua vez é uma construção histórica e estrutural que se baseia na crença de que há diferenças biológicas e hierarquia entre as raças, levando a discriminação, marginalização e opressão de pessoas, especialmente pessoas negras, e que é naturalizado ou negado e, assim, perpetuado também no ambiente escolar.

O racismo pode se manifestar de várias formas nas escolas, desde a discriminação evidente até a discriminação velada, como a exclusão de estudantes de determinados grupos de atividades, a segregação nas salas de aula e a falta de representação de diferentes culturas e etnias no currículo escolar e ausência de diversidade étnico-racial na composição do quadro de funcionários em toda a estrutura escolar. Isso colabora para que estereótipos, piadas, comentários jocosos e ofensas racistas sejam reproduzidas, sem que sejam devidamente reconhecidas e combatidas e fazendo que episódios racistas sejam, equivocadamente, classificados como bullying.

Desta forma, muitas vezes, a instituições reproduzem um ambiente racista que silencia diante de discriminações e se omite em colocar a questão racial como o cerne da violência sofrida por seus alunos e alunas negros e negras. A mestre em educação Raquel Carapello em seu artigo “Racismo camuflado de bullying” reforça a importância de encararmos o racismo como um problema mais profundo e sistêmico: “Quando dizemos que o racismo vem sendo camuflado pelo bullying não queremos diminuir os impactos que o bullying causa, ou minimizar a importância de seu real combate, mas buscamos destacar que são violências distintas, o racismo tem uma origem, um alvo, uma motivação distinta e é preciso considerar estas questões e suas implicações para combatê-lo.”

O combate ao racismo deve ser prioridade no ambiente escolar
O combate ao racismo e ao bullying deve ser prioridade no ambiente escolar (Foto: Arquivo Pessoal)

É preciso, portanto, que as instituições de ensino pautem o racismo como problema social – que nem sempre estará relacionado às práticas de bullying – que afeta toda a sociedade e tem enormes reflexos nas desigualdades sociais, fazendo com que este seja repetidamente reproduzido no ambiente escolar. A escola não é apenas uma instituição onde crianças, adolescentes e adultos vão para aprender, é também um espaço de aprendizagem para toda a comunidade escolar e de transformação das relações sociais e raciais. É fundamental entendermos a diferença entre bullying e racismo para que possamos distinguir esses comportamentos e abordá-los de maneira adequada e eficaz por meio de práticas distintas para o combate e prevenção de quaisquer destas violências, seja o bullying ou racismo.

O racismo no ambiente escolar precisa ser combatido com medidas políticas, educacionais e culturais mais amplas, enquanto o bullying pode ser abordado, por exemplo, por meio de medidas disciplinares e educacionais em nível escolar ou em outras instituições. Urgente que consideremos o ambiente escolar como o primeiro lugar onde o racismo deve ser discutido e debatido em um esforço conjunto de todos os envolvidos no processo educacional, sejam profissionais da educação, familiares ou estudantes. É necessário oferecer um ambiente inclusivo e acolhedor para estudantes de diferentes origens étnicas e raciais e promover uma educação antirracista, que ajude a conscientizar sobre a existência do problema e a construir uma cultura de respeito e valorização da diversidade.

Além disso, é preciso estabelecer políticas claras de inclusão, que garantam a participação e a representatividade de todos, independentemente da sua raça ou etnia, inclusive com a formação de professores para o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana e a contribuição dos povos africanos para a construção deste país; contratação de uma equipe de gestores e professores mais plural e diversa e; palestras e treinamentos periódicos de sensibilização e conscientização para reconhecer e eliminar condutas, expressões e práticas que reproduzem racismo. Racismo e bullying são coisas diferentes e uma escola verdadeiramente antirracista precisa ser um ambiente de combate ao racismo e à discriminação racial e não mais um lugar onde estas violências se manifestam.

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