Publicado em 03/12/2021, às 08h12 por Toda Família Preta Importa
**Texto por Lívia Costa, baiana, administradora negra, modelo digital e plus size. Feminista, faz parte de coletivos de mulheres e é coautora do livro “Mães Pretas – Maternidade Solo e Dororidade, e é dona do perfil @leecostaofc. Mãe solo de Lavínia
Embora eu fosse filha de uma mãe solo, acreditei que o padrão não se repetiria comigo. Mas quando o meu casamento de dez anos terminou, foi um choque perceber que dali para frente eu estaria sozinha. Sozinha não. Eu estaria com a minha Lavínia.
Se eu disser que me divorciar aos 37 anos de idade foi fácil eu estaria mentindo. A sensação de fracasso e insuficiência era latente. Lavínia sempre foi uma criança planejada e totalmente esperada por nós. Então como explicar para ela e para o mundo que a família tradicional que eu sempre sonhei não existiria mais? E que agora ver o pai seria apenas de 15 em 15 dias?
Eu pensei que fosse o fim. Mas mal sabia eu que algo que um dia me destruiu, seria o movimento que eu precisava para me reerguer. Há alguns anos eu estava desempregada, entrando em depressão, sem enxergar nenhuma luz no final do túnel. Se naquela época alguém chegasse naquela Lívia e contasse tudo que mudaria, ela iria rir e achar uma piada de péssimo gosto.
Eu, que sentia vergonha de contar sobre a minha vida, para não demonstrar fraqueza; hoje tenho um livro publicado no qual eu sou coautora e conto das delícias e dores de ser mãe. Escrever o livro “Mães Pretas- Maternidade Solo e Dororidade”, sob organização da Thainá Briggs, me trouxe um título que até então eu não imaginava ter: o de escritora.
Eu, que tinha os cabelos caindo aos tufos de tanto estresse anos atrás, hoje trabalho como modelo plus size e sou exemplo de empoderamento e bem viver. Quando a Lavínia nasceu, eu engordei além do desejado e o espelho tornou-se um inimigo. As minhas primeiras fotos no Instagram @leecostaofc são apenas de rosto, porque eu não me enxergava naquele corpo. E essa vergonha perdurou por um bom tempo, até que um dia eu fui convidada por uma estilista para um ensaio em que eu seria a modelo e então me dei conta de que os quilos a mais que aparecem na balança não me definem. Que eu poderia sim me sentir bela e que não havia razão alguma para me esconder. Por sinal, me esconder não estava ensinando nada de bom para a minha filha. Era hora de mudar.
Criar uma menina preta me obrigou a voltar a me amar, porque o mínimo que eu poderia fazer era ser uma representatividade positiva para a minha filha. Ser mãe de uma menina preta trouxe à tona a importância de mostrar a todo momento que a beleza não comporta padrões e que somos belas independente dos corpos que nos abrigam. Que nossas peles, nossos rostos, narizes, cabelos, tons de pele não são fatores determinantes para validar se somos bonitas ou não. A Lavínia foi o impulso maior para a minha mudança e autoaceitação.
E minha filha tão amada, hoje aos 9 de idade, assume seus cachos, sua cor e tem se tornado cada vez mais exemplo para as meninas pretas de Salvador. E por muitas vezes juntas, nós estampamos catálogos de moda para a família. Nossa família de duas importa! Nossa família de duas é linda!
Nossa caminhada até aqui não foi fácil, mas tem sido incrível. E ao ver que todos os nossos esforços tem sido frutíferos, me faz lembrar de um passado do qual eu pensei que não daria conta de criar minha menina sem o apoio de um homem ao meu lado. Eu e Lavínia somos a prova de que é possível recomeçar.
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