Publicado em 18/10/2023, às 07h07 por Cecilia Troiano
Talvez vocês tenham visto uma notícia recente, a da economista americana Claudia Goldin, estudiosa de Harvard, que se consagrou a terceira mulher na história a levar um prêmio Nobel na área de Economia e a primeira a recebê-lo sozinha. Só por isso já é algo extraordinário, mas o mais importante pensando em nossas vidas de equilibristas foi o conteúdo de suas pesquisas que a levaram a tal glória. Em uma extensa pesquisa, a economista debruçou-se nas razões históricas que levaram ao gap salarial entre homens e mulheres, retrocedendo séculos, mapeando também porque tal diferença ainda se mantém persistente.
Numa perspectiva histórica, a pesquisa mostra que as diferenças salariais entre homens e mulheres eram explicadas no passado pela diferença entre educação e ocupação. Mas hoje nenhuma dessas coisas é verdade, mas a diferença se mantém. Por quê? Aí é que entra nossas vidas de equilibristas, gerenciando família e carreira. Segundo a ganhadora do prêmio Nobel, a principal desvantagem das mulheres começa a aparecer após o nascimento do primeiro filho de uma mulher. Mais precisamente, um a dois anos depois de ter o primeiro filho, o abismo começa a se formar e não para mais.
Ou seja, a maternidade vem acompanhada de uma penalidade na vida profissional das mulheres. É um caminho que parece já escrito e definido a priori. Se você quer ser mãe, reorganize suas finanças porque seus rendimentos cairão! Apenas para demonstrar essa realidade, vale relembrar os números brasileiros onde a diferença de salários entre homens e mulheres desempenhando o mesmo papel é de 22%, segundo o IBGE. Nos Estados Unidos esse número é bastante similar, 20%.
Podemos pensar no nosso dia a dia e não é difícil listar hipóteses para entendermos tais números. Desigualdade na divisão das tarefas domésticas entre os casais, horários de trabalho pouco flexíveis (o home office é uma realidade e privilégio de poucas), falta de políticas públicas que apoiem a mulher que é mãe e tem uma carreira, uma visão preconceituosa ainda reinante em boa parte da sociedade que vê com olhos desiguais mães e pais no mercado de trabalho, só para citar algumas. Lendo o Estadão recentemente vi algo que custei a acreditar ser verdade. Um desembargador criticava uma advogada que havia faltado à sessão, falando: “Gravidez não é doença”. Ele apenas não “notou” que sua colega faltou porque simplesmente estava em trabalho de parto! Comentários machistas ainda rondam nosso mundo, até bem perto de nós, e vão contribuindo para a manutenção desse inaceitável gap salarial.
Há estudos que mostram que nos cargos de liderança, as mulheres quando chegam lá, têm menos filhos. Ao contrário, homens na mesma posição têm mais filhos. Claro, para elas, o gerenciamento das vidas de equilibristas, em cargos de alta responsabilidade é um desafio muito maior do que para eles, que muitas vezes contam com esposas que fazem esse papel ou não se sentem tão emocionalmente divididos como as mães.
A verdade é que enquanto a divisão de tarefas domésticas continuar desequilibrada, com as mulheres executando mais do que o dobro que homens, o equilíbrio na vida profissional não será atingido. E, mais do que isso, os prejuízos são para ambos os lados. Já é mais do que tempo disso mudar, para o bem dos dois lados. Ao final, teremos pais mais envolvidos com a família e com a casa, mães mais realizadas de forma plena, sem precisar abrir mão de uma coisa pela outra e filhos podendo conviver com a potencialidade máxima de cada um.
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