Publicado em 21/11/2022, às 09h26 - Atualizado em 14/11/2023, às 15h56 por Marina Teodoro, Editora de digital | Filha de Ana Paula e Gilberto
Quando a comunicadora Alexandra Loras era criança, seus pais nunca falaram com ela sobre sua ancestralidade ou assuntos relacionados à sua cor. “Tanto meu pai negro nunca me falou sobre minha cultura africana da Gambia, tampouco minha mãe, branca, entendia de estudo racial”, conta.
Alexandra é uma mulher negra que nasceu em Paris, na França, e é filha de mãe francesa e pai gambiano. “Eu nasci em uma família bem racista, onde meus avós e bisavós nunca aceitaram minha mãe branca se casar com um homem negro”, lembra ela. Infelizmente, esse tipo de pensamento também é comum entre as famílias brasileiras – mesmo a população negra representando 56% da população brasileira, segundo os últimos dados do IBGE. No entanto, esse cenário tende a mudar nas gerações seguintes.
Pai de dois meninos, Benjamin e Lucas Belfort, 7 anos e 3 anos, Nicácio Belfort, empresário, influenciador e parceiro da Pais&Filhos, conta que já abordou o assunto racismo com o filho mais velho. “Falei com ele esse ano”, lembra. “Conversei que somos todos iguais independente de cor, crença, condição social. Ele entendeu e questiono, admirado como pode as pessoas terem preconceitos com os outros”.
Alexandra, que é mãe de Raphael, de 10 anos, (uma criança loira de olhos claros) conta que também já conversou com ele sobre questões raciais. “Falar com os filhos pequenos é essencial, pois estamos em um país onde a narrativa infantil é eugenista, vivemos em uma supremacia branca, então, precisamos ter a coragem de abordar esse tema desde muito cedo”, defende.
Além de jornalista, Alexandra também é ex-consulesa da França e influenciadora. Ela recorda que uma vez um seguidor ligou para ela chorando e falando que não conseguia entender como era possível a filha dele ter três anos e já ser racista, quando dentro da família eles não são.
“Ele ficou chocado, ela ainda não ia nem à escola. A situação aconteceu quando o pai estava lendo uma história de fadas, e dentro da história tinham fadas de todas as cores e com várias etnias, de cabelo loiro, ruivo e preto. Quando chegou a vez da fada negra, a menina perguntou se ela era a fada do mal”.
Nessa situação, o pai entendeu o quanto o racismo estrutural é forte dentro das narrativas das novelas, das notícias, e como toda a narrativa em nosso entorno vira preconceito estrutural desde a infância, conta Alexandra.
Para a pedagoga, doutora em educação e mestre em psicologia Kiusam Oliveira, é fundamental que mães e pais tenham “aquela conversa” com os filhos, e preparem o olhar das crianças para que façam, com sensibilidade, uma leitura interpretada do entorno e do mundo em que vivem.
“Deve-se incluir a educação para as relações étnico-raciais, central para que se pense, desde dentro, o ponto nevrálgico, a grande dor e vergonha desse país – o racismo -, e como deve ser enfrentado cotidianamente, a partir do letramento racial.”
Kiusam pondera que, para isso, é preciso que os pais e responsáveis também se qualifiquem e passem a perceber o Brasil, um país pautado no racismo e práticas excludentes, por outra perspectiva. “Reeducar as miradas é algo extremamente necessário e, focando nesse tema, é importante reconhecer que para uma pessoa adulta, ao mesmo tempo que ensina a criança estará aprendendo e reelaborando suas práticas”, afirma.
A especialista afirma que não existe idade para começar a falar sobre esse tema. “Essa conversa poderá ter início em qualquer idade e vai depender da demanda trazida pela criança dos espaços sociais que ela frequenta”.
Para Kiusam, quando a criança procura uma pessoa adulta com alguma questão é porque ela está pronta para aprender – até mesmo aqueles assuntos considerados os mais complexos pelos pais.
Nicácio fala que conversar com seus filhos pequenos sobre racismo e diversidade na primeira infância é de suma importância. “A criança começa a refletir sobre o tema, leva o debate para escola, começa atender o quanto ruim e terrível é o racismo, que quem não sofre na pele não imagina a dimensão que um discurso de ódio e preconceito pode gerar na cabeça do indivíduo que passa, desde baixa autoestima e até em casos mais tristes ao suicídio.
Um jeito sutil de começar a trazer questões raciais para o diálogo com as crianças é através do lúdico. Um jeito interessante é estimular a leitura de livros com protagonistas negros, o uso de brinquedos com personagens negros, e adotar atividades que incentivem a diversidade.
“Questionar se nos aniversários, nos churrascos, vocês convidam pessoas negras. Os pais precisam se questionar: estou trazendo a diversidade para dentro de casa?”, indica Alexandra.
Pensando em ajudar os pais a falarem sobre assuntos “difíceis”, Alexandra está lançando o livro-caixinha “Vamos Falar sobre Racismo”. Segundo ela, o material é um convite para trabalhar de forma lúdica a coragem de abordar temas sensíveis. “É normal errar muito para acertar, essa conversa é desconfortável, mas temos que ter a coragem de pensar, refletir e evoluir sobre essa temática”. A conversa, inclusive, não precisa ser algo pontual, mas diária.
Hoje, quando o tema surge na casa de Nicácio, ele conta que trata com muita naturalidade. “Também conversamos sobre outras formas de preconceitos e isso me enche de alegria, mesmo sendo temas delicados, precisamos muito debater e conscientizar principalmente as outras pessoas, pois a gente que passa por episódios de racismo é algo muito doloroso e cansativo”, pontua.
Aline Reflegria, escritora, professora de educação infantil e ludopedagoga é mãe de Elias, de 6 anos, e Clarice, 2, e conta que o assunto também surge com frequência. “Aqui em casa o tema é trabalhado constantemente, de forma lúdica e sem dar ênfase ao que é ruim. Os brinquedos são de todas as tonalidades de cores, de todos os tipos de cabelo e durante as nossas brincadeiras vamos conversando sobre respeitar o colorismo, as diferenças e se amar”.
“Procuro contar histórias reais da nossa família criando neles o sentimento de orgulho e honra pelos nossos ancestrais, é importante não resgatar essas histórias de forma negativa, como punição e sim de forma a valorizar o que os nossos familiares passaram e escolheram para que hoje estivéssemos aqui”, diz.
Com relação ao enfrentamento das práticas racistas, que com frequência ocorrem durante a socialização secundária, quando a criança vai para a escola, os responsáveis devem estar atentos às emoções manifestadas pelo bebê ou criança quando voltam para casa, explica Kiusam.
“Quando pela primeira vez o bebê ou criança relatarem que sofreram um ataque racista por parte de uma pessoa adulta da escola ou um ataque que reproduziu o racismo por parte de outras crianças, a pessoa adulta responsável deverá imediatamente acolher suas angústias com delicadeza, uma vez que o assunto é dos mais violentos”, indica ela.
Outra conduta importante, segundo a pedagoga, é ter tranquilidade, ouvir a queixa com atenção, sem demonstrar emoções exacerbadas para para não deixar o bebê ou criança ainda mais tensa e para que se sinta suficientemente acolhida para narrar, com detalhes, tudo o que aconteceu.
“É nesse momento que o conceito de racismo deverá ser explicado para a criança, pois ela aprendeu sobre ele fisicamente, vivendo uma experiência altamente perversa. De forma direta, o letramento racial deve se dar, abordando temas como racismo, escravidão, discriminação racial, preconceito racial, estigma, preconceito e estereótipo”, aponta.
Paralelo a isso, estratégias para o empoderamento real da criança vitimada pela violência vivida devem ser fortalecidas, a partir de um conteúdo diferenciado e afrorreferenciado. “A criança também deve ver as pessoas responsáveis intercedendo por ela, indo no local do acontecimento e tomando medidas que a favoreçam”, reforça Kiusam.
“Após isso, todo acolhimento: um abraço, muitos beijinhos, chá quentinho, bolo de fubá fresquinho, passeios em lugares preferencialmente repletos de pessoas negras e felizes”, inclusive, para grupos de atuação politizada como grupos de mulheres, do movimento negro etc. O que ela precisa saber é sobre sua potência e de que não está só”, finaliza.
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