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Distúrbios de sono de crianças autistas pioram na pandemia: 60% passaram a dormir no quarto dos pais

Com a pandemia, 60,4% das crianças passaram a dormir no quarto com os pais - Shutterstock
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Publicado em 24/05/2021, às 10h11 - Atualizado em 12/04/2023, às 14h26 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco


A pandemia trouxe, de fato, diversos distúrbios que afetaram de alguma forma a população em geral. Um desses impactos, segundo uma pesquisa inédita divulgada pelo Instituto do Sono, foi uma piora na qualidade do sono das crianças e adolescentes com autismo, nas quais antes da pandemia 48% dormiam no quarto dos pais, passando para 60,4% neste período.

Houve ainda uma preocupação delas permanecerem acordadas por mais de 30 minutos ao longo da noite. Com a alteração dos hábitos, o risco de 3,8 vezes disso acontecer passou a ser de 4,6 vezes. “A privação de sono modifica o comportamento de crianças e adolescentes com autismo, provocando agressividade, irritabilidade, desatenção e hiperatividade. Com a crise sanitária, os distúrbios de sono aumentaram, abalando ainda mais o cotidiano das famílias”, afirma a Professora Doutora Sandra Doria Xavier, que coordenou o estudo, mãe de Fernando e Caio.

Realizada de forma on-line com 319 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, 106 apresentavam Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), 53 têm a síndrome do Cri du Chat, considerada rara e afetando 1 em cada 50.000 nascidos vivos, e 160 não tinham nenhum questão neurológica. Os resultados mostraram que os três grupos apresentavam 1,7 vez mais risco de acordar durante a noite com a chegada da pandemia.

Com a pandemia, 60,4% das crianças passaram a dormir no quarto com os pais (Foto: Shutterstock)

Nos grupos com autismoe síndrome do Cri du Chat, foi notado também que foi apresentado uma necessidade duas vezes maior de ter um adulto no quarto durante o momento do sono em comparação com o grupo que não apresentou nenhuma questão neurológica. Sem exacerbação na pandemia, as crianças e adolescentes com a síndrome rara possuem quatro vezes mais chances de despertar ao longo da noite.

O que é a síndrome de Cri du Chat?

A condição genética, considerada bastante rara, atinge cerca de 4.500 pessoas no Brasil. Sandra Xavier explica que as crianças que possuem a síndrome de Cri du Chat apresentam um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, sendo que 40% delas também têm TEA. “O nome cri du chat, que é grito de gato em francês, foi dado pelo pediatra e geneticista Jerome Lejeune em 1963. Ao descrever a síndrome, o médico notou que as crianças nasciam com um choro semelhante ao miado de um gato, decorrente da alteração na musculatura da laringe, onde ficam as pregas vocais”.

Por que crianças com TEA tem mais chances de desenvolver distúrbios do sono?

De acordo com Sandra Xavier, há uma prevalência de distúrbios do sono de 50% a 80% em crianças com TEA, quando comparado com crianças neurotípicas, ou seja, cujo desenvolvimento neuropsicomotor está dentro dos padrões da normalidade. “O motivo de uma maior prevalência nesta população é multifatorial e não totalmente esclarecida. Acredita-se que possa haver alteração nos genes responsáveis pela regulação do ciclo sono-vigília, assim como alteração nas ondas e maturação cerebrais dessas crianças”.

Outro fator é a alteração no perfil sensorial, na qual há uma resposta exacerbada ou diminuída no cérebro da criança que está recebendo uma informação, seja auditiva, de movimento, tátil, visual ou gustativa. “Essa hiper ou hipossensibilidade pode refletir no sono, dificultando o início ou manutenção dele. Por último, há ainda estudos mostrando alteração na produção e metabolização da melatoninanas crianças com TEA, hormônio fundamental para um sono adequado”.

Quanto a insônia, há uma prevalência de que 86% das crianças com autismo sejam afetadas, número esse duas a três vezes maior do que as que não apresentam o transtorno. Isso pode refletir em pioras acentuadas do comportamento, principalmente se os efeitos se referem também a outros meios da privação de sono.

Pandemia x distúrbios do sono de crianças com TEA

Com a desestruturação da rotina das crianças com autismo na pandemia, houve um impacto importante quanto as dificuldades de aceitação no dia a dia, que afetam diretamente o comportamento. “As crianças com TEA geralmente têm rotina muito bem estabelecida, o que traz segurança e previsibilidade no dia-a-dia. Isto foi por água abaixo na pandemia. Ter rotina é um dos pré requisitos para uma boa noite de sono, mesmo para as crianças neurotípicas, e isto foi mudado sem aviso prévio”. Consequentemente, a médica alerta que isso trouxe uma maior ansiedade, assim como repercussões no sono.

As crianças com TEA precisam ter uma rotina, mesmo que seja diferente do momento pré-pandemia (Foto: Shutterstock)

No pós-pandemia, é importante que as crianças com TEA continuem tendo uma rotina, mesmo que ela seja diferente da pré-pandemia. Por isso, as famílias precisam programar atividades diurnas, que devem acontecer até o momento do pré sono. “Para melhorar o sono, é importante ter rotina, mas essa rotina envolve a rotina do dia também. Deve se organizá-la para ter a noite também estruturada”, explica a a Professora Doutora Sandra Doria Xavier.

Como criar uma rotina de sono com crianças autistas

Independente da criança ter ou não TEA, a rotina do sono é fundamental para qualquer indivíduo, seja para repor as energias, eliminar toxinas do cérebro, reorganizar fatos aprendidos durante o dia, entre outras funções. “Sem tê-lo em quantidade e/ou qualidade adequada, gera consequências comportamentais em todos, mas nas crianças com TEA isto é visto de forma mais acentuada”.

Para criar uma higiene do sono e estabelecer uma rotina antes de dormir, é muito importante seguir princípios básicos, como não expor as crianças a eletrônicos nas duas horas que antecedem, ter horários para ir para a cama e também acordar. Sandra Xavier dá a dica também de manter o quarto escuro e silencioso.

“Para as crianças com TEA, muitas vezes, há necessidade de escrever ou desenhar a rotina para entender a sequência pré sono (o que chamamos de pistas visuais). A adaptação de cada criança com TEA para a adequada higiene do sono deve ser individualizada e compartilhada com toda a família para que todos tenham a mesma fala a ser seguida”, conclui a especialista.


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