Família

Quem tem amigo, tem tudo: a importância da amizade no desenvolvimento do seu filho

As crianças falaram sobre a importância da amizade - Getty Images
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Publicado em 07/05/2022, às 05h53 por Luiza Fernandes, filha de Neila e Mauro


Não existe nada mais gostoso do que ver os filhos descobrindo o mundo. Seja dentro de casa, na escolaou na praia: as crianças são naturalmente curiosas. Mas, para além dos pais, existem outras pessoas que são capazes de ensinar sobre a vida: os amigos.

A amizade na infância é capaz de trazer frutos inimagináveis para a vida adulta. É dentro dela que as crianças aprendem como socializar, resolver conflitos e até desenvolvem o autoconhecimento. Mas, é claro, essas situações chegam em diferentes fases da vida e, em cada uma delas, é importante entender o valor de um verdadeiro amigo.

Cada amigo no seu tempo

Ao longo da vida, as crianças entendem um pouco de tudo: o valor da família, da escola, do amor… Com a amizade, não é diferente. Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Espírito Santo com crianças entre 7 e 11 anos comprovou que o vínculo de amizade, de fato, passa por transformações ao longo do desenvolvimento.

O estudo pediu que os investigados respondessem a treze perguntas sobre noções básicas de amizade e fizessem ainda um desenho sobre esse conceito. Os pesquisadores perceberam que, no desenho, todas as crianças representavam a amizade com ilustrações de personagens em grupo.

Contudo, as respostas das perguntas foram diferentes entre as diferentes faixas etárias. Para os entrevistados mais novos, com idades entre 6 e 7 anos, a amizade com outra criança se relaciona com o fato dela não lhe fazer mal e, por isso, é uma amiga. Para os de 9 anos, por outro lado, a amizade se resume a uma pessoa que já faz parte de sua vida e, enfim, para os de 11 anos de idade, o conceito de amigo une não só uma pessoa que lhe faz bem e parte de sua vida, mas também alguém com quem eles contam e querem estar por perto.

As crianças falaram sobre a importância da amizade (Foto: Getty Images)

Beto Bigatti é criador do blog ‘Pai Mala’, colunista e embaixador da Pais&Filhos – além de pai de Gianluca e Stefano. Para ele, a diferença na forma como os filhos de 9 e 16 anos enxergam os amigos é incrível – e só mostra como essa companhia não perde o valor com o passar do tempo.

“Para o meu caçula, amizades são para brincar, jogar, dar risada. Às vezes rolam disputas e discordâncias, e na medida do possível, deixo eles se entenderem. Tudo é aprendizado! Para meu filho adolescente, as amizades ganham um papel ainda mais potente: são grupo de afirmação e de trocas fundamentais para seu desenvolvimento”, conta.

Apesar de irem compreendendo aos poucos, as crianças entendem que um amigo é uma parte essencial da vida – seja para brincar, conversar, rir ou chorar junto. Para Silvia Lobo, psicóloga, psicanalista, autora do livro ‘Mães que fazem mal’ e mãe de Adriana, Suzana e Maurício, o vínculo do amigo é uma parte muito importante da vida dos filhos.

“Ser amigo é uma capacidade a ser aprendida ao longo da vida, exercida dentro e fora de casa”, afirma ela. “Entre os pequenos há a troca de experiências e uns influenciam a outros nos comportamentos, nas preferências e nas habilidades. As brincadeiras, os jogos, a linguagem passeiam soltas e servem de exemplo e estímulos de imitação. E nesta área o ‘melhor amigo’ é imbatível!”.

Tempos de solidão

Os últimos dois anos foram intensamente marcados pela pandemia e pelo medo de se contaminar com o coronavírus. Contudo, além dos riscos da saúde, outra coisa preenchia a nossa cabeça: o isolamento social.

Todo mundo sentiu saudade dos amigos e de quem mais ama nessa fase – mas, para as crianças, isso pode ter sido ainda pior. É na escola que a maioria delas faz mais amizade, brinca, aprende e descobre o mundo. Dentro de casa, como ficou essa questão?

Fernanda Teles é psicóloga e educadora parental, além de mãe da Liz, do Théo e da Mel. Para ela, os tempos pandêmicos mostraram que a presença de um amigo na vida de uma criança, principalmente durante situações desafiadoras dentro e fora da escola, é muito influente.

“O ser humano é o mamífero mais dependente de outros – e assim vamos do nascer até o morrer. Acredito que é muito difícil ser feliz sozinho. E os inúmeros estudos feitos durante a pandemia nos mostrando o quanto o isolamento social afetou a saúde das pessoas prova isso”.

A psicóloga relatou que são muitas as famílias que se consultam com ela e se preocupam com a recuperação do rendimento escolar da criança – muitas vezes perdido no meio do ensino à distância. Apesar de sabermos que, sim, a vida acadêmica é muito importante na vida adulta, é com o social que devemos nos preocupar.

“Nem sempre a gente percebe o quanto as crianças pequenas são apegadas aos seus amigos e o quanto pode ser problemático não nutrir esses laços”, afirma Fernanda. “Nesse cenário pós-pandêmico eu tenho visto muitas famílias e escolas dando uma importância muito maior para o cenário acadêmico. A criança que está socialmente bem inserida se sente aceita e vai ter muito mais facilidade e motivação para aprender e se dedicar aos estudos. Ou seja: nutrir os laços sociais e amizades é muito mais importante do que focar em conteúdo”.

Não é só a área médica que percebe como esses amigos são muito especiais: seja antes, durante e depois da pandemia. Thamirys Nunes é influenciadora, autora do livro ‘Minha criança trans?” e mãe de Agatha, de 7 anos. Para ela, perceber a filha criando vínculos afetivos com outras crianças é um verdadeiro alívio.

“Eu sou mãe, e por mais próxima e afetiva que eu seja da minha criança, nunca serei uma amiga, porque o meu papel é ser mãe dela e isso implica – na minha visão – em alguns limites. Já com as amigas e amigos ela pode explorar mais a relação de amizade, afinidades e segredos”.

Difícil seleção

Muitos pais, apesar de se sentirem satisfeitos com as vidas sociais dos filhos, se preocupam com as chamadas “más influências”, isto é: aquelas que podem “desvirtuar” as crianças e levá-las a fazer aquilo que bate de frente com o que a família acredita.

Beto Bigatti, por exemplo, afirmou que se preocupa tanto com o filho mais velho, quanto com o mais novo. Apesar das preocupações, ele contou a estratégia para entender com quem as crianças estão andando.

“Acho fundamental conhecer as famílias dos amigos. Isso faz muita diferença. Porque crianças ou adolescentes de famílias com valores semelhantes aos nossos nos deixam mais tranquilos com aquilo que acontece longe dos nossos olhos”, comentou. “Além disso, muita conversa desde sempre com os filhos”.

É fato que as crianças com as quais os filhos convivem são muito influentes na hora de moldar a personalidade deles – e é justamente aí que entra a preocupação de Thamirys.

“O que me preocupa são as ‘modinhas’, e aquela frase ‘fiz porque todo mundo fez’… Sempre que essa situação acontece, eu converso muito com ela”, relembra a mãe de Agatha. “É para que ela entenda que as amizades não podem nos forçar a fazer coisas com as quais não concordamos ou não são corretas”.

O diálogo é muito importante para garantir a construção da confiança e comunicação com o seu filho. Além de saber quando ele está sendo influenciado pelas pessoas erradas, é preciso ainda saber quando ele não está sendo influenciado por ninguém, isto é: está sem amigos.

“As crianças que se sentem mais solitárias, ou socialmente isoladas, tendem a ser mais deprimidas, têm mais problemas de saúde, podem se tornar mais egoístas, mais tímidas, por não terem aprendido as habilidades tão essenciais que brincar no coletivo promove. Então essa criança pode, futuramente, ter problemas na empresa que ela vai trabalhar, porque essas habilidades sociais como cooperação, respeito pelo outro, solidariedade, ajuda ao próximo, e até mesmo a criatividade e imaginação são fortemente nutridas nos relacionamentos sociais, com os amigos”, relembra Fernanda. “Isso é algo que acontece no parquinho, no recreio – e nutrir as amizades nesse momento é fundamental para o desenvolvimento da criança”.

Silvia Lobo relembrou, contudo, que é importante entender de onde vem a vontade da criança de ficar sozinha – e que é preciso avaliar cada caso antes de ficar preocupado: “Vale a pena considerar que a solidão social pode ser uma escolha: não por dificuldade em conviver, mas por prazer e satisfação na própria companhia. Esta escolha pode vir do passar dos anos, no amadurecimento pessoal. Crianças não têm recursos para isso. Se mostram-se isoladas é bem provável que esta atitude traga uma dificuldade a ser investigada: primeiro pelos pais. Depois por profissionais”.

Amigo é coisa séria

A amizade vai mostrar para o seu filho que existe um mundo de possibilidades que ele pode escolher ser. Você sabia que durante a infância, seu filho aprende habilidades básicas de socialização por meio das resoluções de conflitos nas brincadeiras?

Os principais estudiosos do desenvolvimento infantil, como Montessori, Piaget, Vygotsky e Winnicott, entendem que é na brincadeira que uma criança se desenvolve plenamente. Afinal, é nela que eles aprendem a lidar com os medos, frustrações e alegrias de ganhar ou perder um jogo, por exemplo. Por isso, Silvia Lobo ainda completa: “Brincar é uma necessidade básica da vida humana e não só para crianças”.

Amigo é coisa séria, e por isso deve ser sempre parte da vida do seu filho. “É sempre bom lembrar: não importa a quantidade, e sim a qualidade das amizades”, ressaltou ainda Fernanda.

A qualidade das amizades importa muito mais que a quantidade (Foto: Getty Images)

Para os pais, para além do que a amizade cientificamente traz para uma criança, assistir aos filhos sendo queridos pelo que são é um dos grandes alívios e felicidades de qualquer pai e mãe. “Ver meu filho recebendo carinho e sendo bem quisto pelos seus amigos é sempre bom, mas a melhor parte é ver os filhos felizes! Por exemplo, depois de uma tarde brincando com os amigos, Stefano chega radiante em casa”, afirma Beto Bigatti.

“Levo a sério e respeito muito quando Agatha expressa a vontade de estreitar os laços de amizade”, contou Thamirys. “Busco oportunizar ao máximo, convidando os amiguinhos para vir aqui em casa, fazendo desenhos e cartinhas para as amigas. Deixo muito claro que temos que cuidar dos nossos amigos. Temos um lema aqui em casa: ‘Se a brincadeira não fizer todos sorrirem, não é brincadeira e deve parar’, para que ela entenda que também tem responsabilidade com as suas amizades”.


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