Publicado em 22/06/2022, às 12h13 - Atualizado em 09/09/2022, às 14h38 por Redação Pais&Filhos
Recentemente, no dia 20 de junho, a procuradora-geral do município de Registro, Gabriela Samadello Monteiro de Barros, de 39 anos, foi agredida pelo procurador Demétrius Oliveira Macedo, de 34 anos, dentro da prefeitura onde trabalham. A motivação da agressão teria sido um processo administrativo contra ele, por ter um comportamento errôneo no ambiente de trabalho, segundo o boletim de ocorrência que o G1 Santos e Região teve acesso.
Gabriela ficou com o rosto ensanguentado após os golpes. No vídeo gravado por outra funcionária da prefeitura, são visíveis os socos e chutes direcionados à procuradora. Demétrius também deferiu fortes xingamentos contra ela. Outras mulheres que trabalham lá ainda tentaram segurar o homem, que inclusive empurrou uma delas contra a porta com força. Mas, em cada indivíduo há uma história a ser contada e às vezes, um comportamento agressivo pode ser, na verdade, um Transtorno Explosivo Intermitente que pode vir em diversas magnitudes.
Este transtorno é um diagnóstico que pessoas incapazes de gerenciar seus impulsos agressivos recebem. Esses indivíduos normalmente tem ataques de fúria e comportamentos agressivos desproporcionais. Após as explosões, é comum que o paciente sinta arrependimento, vergonha, culpa ou tristeza.
Tatiane de Sá Manduca, psicóloga clínica e autora do livro Valida-te, mãe de Mateus, explica que, nestes casos, a avaliação clínica que o profissional faz é essencial: “É necessário a investigação clínica pelo médico psiquiatra e acompanhamento psicológico a compreender o diagnóstico em adição a outros transtornos relacionados. A avaliação é clínica.” E relacionou com o crime realizado por Demétrius: “Lembrando que não é uma tarefa simples apontar o motivo da necessidade compulsiva de certas pessoas de cometer atos violentos, como a crueldade “desse caso noticiado” criminoso que assombrou e chocou a maioria das pessoas, ainda se tratando novamente de mais uma violência e transgressão às mulheres. Importante lembrar que a desumanização é uma das características mais frequentes das perversões.”
Tatiane salientou que é bastante importante focar no emocional do paciente: “Se nós, psicoterapeutas nos limitarmos a diagnosticar uma patologia e rotular o paciente afim de não olharmos o que acontece em seu mundo psíquico, na sociedade, nas leis e regras, ambiente e político pública estaremos simplificando fenômenos extremamente complexos que se trata do sofrimento emocional.” Ela contou também que mesmo assim, às vezes o medicamento é necessário: “Com relação a uso de tratamento medicamentoso conto com meus parceiros de trabalho ao qual se faz necessário em alguns casos, e aciono colegas médicos psiquiatras.”
A partir dos 6 anos de idade, sim. “É importante salientar que independente da natureza da explosão de agressividade impulsiva, a característica básica do transtorno explosivo intermitente é à incapacidade de controlar comportamentos agressivos impulsivos. Um diagnóstico não deve ser feito em indivíduos com idade inferior a 6 anos ou nível equivalente segundo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5”, destaca Tatiane. Ela ainda explica que cada pessoa tem uma vida a ser respeitada: “Pela experiência clínica observamos que há em cada indivíduo uma história a ser contada na qual ele se constitui. Muitos casos como relato em meu livro: “Valida-te”, dizem respeito a situações onde a criança sofreu em ambientes violentos e não pode se defender, outros de naturezas diferentes que se agravam. O fato de não haver recordação consciente não significa que o trauma tenha sido esquecido.”
Ao ser perguntada se é possível imaginar que Demétrius tenha o transtorno apenas com base no vídeo, Tatiane diz: “O dano causado pode se manifestar pela necessidade de se envolver em situações arriscadas à exemplo tornando-se pessoas violentas, passando de vítimas precoces a ofensores cruéis. E assim repetem nessa “ inversão de papéis”. Alguns conseguem analisar a relação entre a dor insuportável do passado e sua condição do presente em atos de crueldade. Neste caso percebemos o indivíduo vivendo como um agente ativo de violência colocando em ato a dor infligida seja ela física e emocional com a crença em sua liberdade na fase adulta, enfrentando repetições de experiências tão precárias.”
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