Publicado em 20/02/2019, às 06h54 - Atualizado em 27/11/2020, às 13h01 por Redação Pais&Filhos
Um vídeo que circula nas redes sociais vem causando revolta. Ele mostra uma mulher em trabalho de parto sendo agredida por um médico obstetra, que a acompanhava na Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus, no Amazonas.
Além da agressão, em que o médico Armando Andrade Araújo (que faleceu no dia 29 de julho de 2020, segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas, por insuficiência respiratória) bate com as duas mãos na virilha da gestante, o registro prova diversas irregularidades no momento do parto: a paciente está completamente nua e sem o avental hospitalar específico usado em maternidades, além do médico colocar a mão em cima das partes genitais da mulher.
Segundo a denúncia, o médico de 70 anos já foi preso em 2015 na “Operação Jaleco” da Polícia Civil, que colocou na cadeia profissionais de saúde suspeitos de participação em um esquema de cobrança ilegal de cirurgias em unidades de saúdeda rede pública do Amazonas — eles chegavam a cobrar entre 1 mil e 2,8 mil reais para fazerem cirurgias em hospitais públicos. O médico exigia das famílias altos valores para fazer cirurgias de cesáreas, além de abusar sexualmente das pacientes ao examiná-las na sala de repouso.
A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que tomou conhecimento do vídeo apenas na última terça (19) por meio das redes sociais. Segundo a maternidade, a família não fez denúncia na Ouvidoria na época da gravação do vídeo. A Susam está encaminhando à Procuradoria Geral do Estado o pedido de afastamento do médico ginecologista obstetraArmando Andrade Araújo. O profissional é do quadro terceirizado, contratado pelo Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde para mais informações. A assessora de comunicação do órgão, Roseane Mota, enviou uma nota de esclarecimento sobre o caso:
“A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informa que o fato divulgado no vídeo que circula nas redes sociais e na imprensa é de 2018, ocorreu há nove meses na maternidade Balbina Mestrinho e que tomou conhecimento hoje por meio das redes sociais. Não há qualquer registro na maternidade ou na Ouvidoria à época de denúncia.
A Susam não está de acordo com o tipo de conduta praticada pelo médico. Por este motivo, o vice-governador e secretário de estado de Saúde, Carlos Almeida, irá solicitar à direção do Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas (Igoam), empresa ao qual o profissional é cooperado, o seu afastamento. E também reiterar pedido de providências ao Conselho Regional de Medicina (CRM). Já tramita na secretaria um processo administrativo para apurar outra denúncia de negligência contra o médico”.
No Brasil, dados mostram que 25% das mulheres já sofreu algum tipo de violência obstétrica. Sem saber, muitas mães já foram vítimas desse tipo de agressão, que pode ser física ou verbal, durante ou antes do parto.
“Agressões físicas e verbais são consideradas violência em qualquer especialidade médica, isso é indiscutível. O consentimento é essencial. Quando a relação é de confiança, acolhimento e empatia, toda a intervenção necessária é aceita sem que haja desconfortos ou disputas, sabendo que todos estão buscando a melhor forma de nascimento para esse bebê”, explica Fabiana Garcia, ginecologista e obstetra e sócia-fundadora do Espaço MAE, dedicado ao atendimento integral da mulher e da gestação.
“Através de vídeos absurdos como esse, a gente constata a tristeza e a revolta sobre como ainda existe uma situação de poder do médico sobre a paciente. Um sistema misógino e desrespeitoso que não proporcionou a essa paciente as possibilidades de escolhas de ser ouvida por suas vontades”, reitera Paulo Noronha, médico especialista em medicina fetal.
A Organização Mundial da Saúde fez uma lista de possíveis violências no parto para que as gestantes e acompanhantes saibam identificar e combater nos hospitais e maternidades: abuso físico, abuso sexual, preconceito, discriminação, não cumprimento dos padrões profissionais de cuidado, mau relacionamento entre as gestantes e os profissionais e condições ruins do sistema de saúde.
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