Chamado aos pais: dados ainda mostram que há bastante desequilíbrio dentro de casa

Ajuda, colaboração, divisão. Qual a participação dos pais na rotina doméstica e na educação dos filhos? Para elas, que dedicam muitas horas a mais do que eles a esses afazeres, a nota de seus companheiros anda em baixa. Já os homens admiram a esposa que agarra a dupla missão e ainda dá conta de cuidar da casa e da família. O andamento da rotina sem essa mulher, se não impossível, fica bem mais difícil.

O casal contemporâneo vive seu descompasso. Se a mulher tem queixas por estar fazendo demais e diz que o marido não ajuda o suficiente, para ele as tarefas que cumpre em casa estão de bom tamanho. Quem sabe todos têm razão e isso tudo não passa de uma questão de perspectiva. Entender os comportamentos e as razões de um e do outro é um tremendo desafio, ainda mais porque mesmo com grandes mudanças relativas aos papéis de gênero, ainda há muito espaço para interpretações. Num grupo de pesquisa com maridos (de mulheres que trabalham e têm filhos) organizado há 12 anos, já se via um descompasso entre as antigas convicções e a prática vigente. Hoje, muitos anos à frente, avançamos bastante, mas muitos ainda usam o verbo “ajudar” a esposa no lugar de “dividir” as tarefas.

Colaborar e ajudar, tudo bem. Colocar a mão na massa, realmente, é virtude de poucos. Sim, porque a rotina da casa ainda sobra demais para a mulher, mesmo depois da entrada com força total no mercado de trabalho. No Brasil, enquanto as mulheres realizam afazeres domésticos por cerca de 20,9 horas semanais, os homens dedicam apenas 10,8 horas (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017, do IBGE). Cerca de 142,4 milhões de pessoas realizam afazeres dentro de casa – 91,7% do sexo feminino contra apenas 76,4% do masculino. Mulheres empregadas que cuidam da casa e de outras pessoas trabalham 4,8 horas a menos no mercado e 7,8 horas a mais em casa do que os homens. Não é pouco, considerando que a jornada semanal de trabalho costuma ser de 40 horas. Aliás, o fato de ambos trabalharem fora não muda os dados: os homens ocupados dedicam apenas 10,3 horas em média com filhos e lar (contra 18,1 horas delas), e os não ocupados investem só 12 horas, quase metade das 23,2 horas semanais utilizadas por elas.

Nota-se também diferenças regionais. O maior desequilíbrio está no Nordeste, onde os homens dedicam 10,5 horas na semana para os cuidados com casa e família, mas as mulheres somam quase 80% a mais (19,5 horas). No Centro-Oeste a participação masculina é a menor: apenas 9,6 horas por semana. Norte e Sul praticamente empatam, com as mulheres trabalhando 7 horas a mais. No Sudeste, elas trabalham 7,7 horas a mais do que os homens.

Analisando todos os dados, vejo que as proporções pouco se alteraram ao longo destes 12 anos entre as pesquisas que desenvolvi para meus livros. Portanto, o desafio segue sendo o mesmo: o de mudar a cabeça – ou melhor ainda, a rotina – dos homens. Não vale se enganar olhando apenas para poucos homens já bastante engajados com os filhos e com a casa. Infelizmente eles não retratam a maior parte dos homens, que ainda delega quase todas as tarefas domésticas e a responsabilidade com as crianças à mulher.

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