Publicado em 05/08/2021, às 08h39 - Atualizado às 08h44 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Nesta semana, Alicinha Cavalcanti, uma das promotoras de eventos mais famosa do Brasil, acabou, infelizmente, perdendo a luta contra uma doença rara, chamada de Afasia Progressiva Primária (APP). A partir do caso da promoter, só foi possível reforçar (ainda mais!) o quanto é importante conscientizar sobre a condição que afeta 1 a 9 pessoas a cada 100 mil.
Podendo estar ligada diretamente a outros fatores, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), a APP é considerada uma doença neurodegenerativa e é caracterizada como um quadro de demência progressiva. Para entender mais sobre o tema, conversamos com o Dr. Beny Schmidt, médico patologista neuromuscular e neurologista, pai de Anita, Marco e Jacqueline.
Segundo o especialista, a Afasia Progressiva Primária é uma doença neurodegenerativa, caracterizada pelo comprometimento da linguagem, de diversas maneira. “É progressiva e, muitas das vezes, a causa é indefinida na literatura”, comenta o Dr. Benny.
Vale lembrar ainda que os quatro tipos de afasias são degenerativas e chamadas de primárias, mas, segundo o médico especialista, existem também as secundárias, ou seja, causadas por traumatismos, acidentes vasculares, entre outras. “Nas afasias primárias progressivas, existe perda de neurônios do córtex frontal inferior e temporal. Portanto, são chamadas de afasias frontotemporais”, comenta.
Em alguns casos, as afasias também podem ser desencadeadas por fatores emocionais, por isso, seja qual for a condição, é muito importante que o paciente tenha acompanhamento psicológico, fonoaudiológico e neurológico concomitante. “Dessa maneira, é possível prolongar a fala das pessoas e manter a qualidade de vida com exercícios de reabilitação”.
Outro tipo de afasia, apesar de ser considerada bastante grave, é a amusia. Nesta condição, a pessoa perde a capacidade de cantar. “Todas as afasias são raras, mas esta é mais rara ainda”, explica o médico neurologista.
A doença pode sim ser considerada grave, mas existem vários níveis de comprometimento. “Algumas são indistinguíveis e irreconhecíveis de tão leves”, reforça o Dr. Beny. Ainda segundo o médico, alguns pacientes podem desenvolver fraqueza muscular nos casos mais avançados, por isso, o atendimento e acompanhamento deve ser completo pela tríade de profissionais: psicólogo, fonoaudiólogo e neurologista.
Apesar de raro, os casos mais graves podem evoluir para uma Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), comprometendo algumas das atividades cerebrais do paciente. Além disso, a doença “quebra” as células nervosas e reduz a funcionalidade dos músculos que dão suporte.
Sim, podem. Mas, vale lembrar que os casos de afasia nas crianças costumam ser mais graves do que nos adultos e comprometem, muitas das vezes, a consciência e inteligênciado paciente. “Em casos mais extremos, podemos ter idiotia (condição que afeta o desenvolvimento) acompanhada da afasia”.
Não! Segundo o Dr. Beny, é muito importante que as duas condições não sejam confundidas, pois o Alzheimer é bem definido tanto clinicamente, quanto anatopatologicamente. “Na afasia, a pessoa apresenta comprometimento da fala e pode apresentar fraquezas musculares, nos casos mais graves e nos mais idosos. Portanto, este sintoma de fraqueza às vezes é confundido. As lesões no cérebro causadas pelo Alzheimersão diferentes das lesões caudadas por afasia”, comenta.
Depende. É possível que a Afasia Progressiva Primária evolua de forma muito acelerada, ou ainda que fique estacionada por muitos anos. “Isso varia da constituição genética de cada pessoa”, explica o Dr. Beny. Diferente das doenças relacionadas à demência, os casos de afasia podem acontecer em qualquer idade.
Para diagnosticar a condição, o paciente deve ser consultado por psicólogos, fonoaudiólogos e neurologistas. Em seguida, é importante diferenciar se a doença é primária ou secundária para depois identificar a gravidade e o tipo da afasia.
O tratamento para a APP é feito a partir da reabilitação neuromuscular dos músculos relacionados à fala, como língua, palato, faringe, entre outros. Se a afasia acontece por distúrbios psicológicos e emocionais, é importante o acompanhamento psicológicopara oferecer ao paciente a melhor qualidade de vida e também da fala.
Apesar de ser possível realizar tratamentos e oferecer a melhor qualidade de vida e fala possível para o paciente, a afasia primária não tem cura. Os riscos da doença são relacionados com as complicações da neurodegeneração.
Segundo o Dr. Beny, é muito importante ter um estilo de vida saudável e também amoroso para a prevenção de diversas doenças. “Principalmente quando falamos de Afasia e ELA, por exemplo, onde ainda não existem causas bem definidas”, conclui.
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