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Mãe fala sobre escolher com quem construir uma família: “A minha própria versão de felizes para sempre”

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Publicado em 24/07/2019, às 16h11 - Atualizado em 25/07/2019, às 07h12 por Com a Palavra


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Minha infância foi marcada com fábulas repletas de príncipes e seus cavalos brancos, fazendo acreditar que eram reais as fantasias amorosas mais impossíveis. Algumas mulheres, assim como eu, estabeleceram um padrão de parceiro ideal com essas estórias absorvidas quando criança. Acreditam que a tampa de sua panela será perfeita, sem sequer um arranhãozinho na prataria devido ao uso indevido da palha de aço.

Acostumadas a buscar o “homem de nossa vida”, baseado em um pergaminho unicamente de predicados, tentamos nos convencer de que o tal do moço encantado ainda está por vir – e, se ele estiver demorando, provavelmente é porque ele estava preso no trânsito, alimentando as crianças na África ou construindo um império na rede hoteleira para poder comprar aquele anel de noivado gigantesco de caixinha azul… Enfim, independente da razão, ele está perdoado. Talvez ano que vem a gente se encontre e, assim, seremos impecavelmente felizes para sempre.

Entretanto, essa ânsia pelo amor correto pode nos induzir a alguns tropeços provenientes de pura afobação. Eu não sei vocês, mas já encontrei transitando pelas ruas inúmeros “príncipes” – nenhum encantado – com complexo de Herói, que poderiam estampar a capa de qualquer ordinário Romance de Sidney Sheldon. Esses aí são fáceis de encontrar. Usam roupas atraentes dignas de herdeiros do trono Real; utilizam como transporte o último modelo da cavalaria lustrada; chegam com uma prosa decorada e perguntam sua graça. Pronto. Você já crê que ele é o ser celestial que havia encomendado e, então, apaixona-se.

O problema é que esses personagens desvanecem rapidamente sobre um olhar mais próximo, minucioso. São tão medíocres que são encontrados em qualquer conto. Logo, a fantasia acaba e você, que estava toda saltitante em nuvens, tropeça e dá de cara com a parede de granito. E poxa, como dói! Maravilha. Agora corre para pegar os estilhaços que sobraram e remonda o mosaico de pessoa que você era antes. Peça por pecinha.

É… Foi assim que passei grande parte de minha vida adulta. Reconstruindo a minha autoestima após uma sequência interminável de relacionamentos malsucedidos. Buscava n’outro a minha felicidade. Buscava n’outro o meu valor. Soa um tanto errado, não é? Infelizmente, demorou um bocado para que eu conseguisse realizar essa autoanalise de maneira tão precisa. Tive que contabilizar erros e corrigir o rumo algumas vezes até me encontrar e compreender a minha concepção de “o que é o amor”. Aliás, já reparou a facilidade danada que as pessoas se propõem a dissertar sobre o amor, sem jamais ter se permitido mergulhar em apneia no assunto?

Narram toda a polpa, o entusiasmo, a excitação… Isso mexe com a gente que está aqui, do outro lado, confunde. Ninguém vai lá e enaltece a rotina de uma relação, embelezando o bafo matinal do outro ou a clássica tampa da privada que insiste em ficar levantada. Parece que o romance não permite a intimidade do dia-a-dia; não fica cor-de-rosa na foto do Instagram. E aí eu pergunto, o que acontece quando o desavisado tromba com a realidade do amor? Entra em pane. Quebra. Desilude. Joga fora. Para mim, descrever fidedignamente o amor romântico nos dias de hoje seria como se eu tentasse ser coautora de uma novela Homero, escrita em russo e de ponta cabeça, com palhaços esquizofrênicos como protagonistas. Sei lá.

Em meus sonhos maiores, eu comecei a almejar alguém estilo High Fidelity, um Macunaíma, humano-homem e seus defeitos. Não queria aquele fácil de lidar, sem opinião própria ou blasè. Eu queria tudo! E quando eu digo tudo, incluo as complicações, as cafonices, os anseios, as frustrações compartilhadas, os berros carregados, as contas atrasadas, a casa desmontada…  Esse “tudo” bem palpável valeria à pena se, no final do dia, houvesse aquele abraço apertado, o espaço para a conversa sobre o nada, o ouvido paciente, a lábia delicada, o companheirismo amistoso e o beijo sincero.

Uma lacuna segura onde a mesmice pudesse habitar sem ter vergonha por existir. E foi aí mesmo, na monotonia de um dia ordinário, que encontrei quem seria o pai de minha filha. E sabe como eu soube? Reconheci-o ­quando senti paz. Consegui tirar rosto e pele para deixar expor confortavelmente a versão mais sincera de mim mesma. Ressalto isso, pois a aceitação da simplicidade que deparei nessa relação será essencial para compreender a nossa sobrevivência como casal, apesar dos perrengues que seguirão nos próximos parágrafos.

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Bom, voltando, a nanquim nem chegou a secar. Na primeira linha da história que começamos a escrever à quatro mãos, decidimos multiplicar o amor e abrir milhões de asteriscos, notas de rodapé e uma biblioteca gigantesca em meio da narração. Sim! Grávidos. Extasiados. Ansiosos. E, um tanto desesperados rs. Um turbilhão de pensamentos correram em minha cabeça brincando com a minha sanidade quando recebi aquele positivo.

Não me leve a mal… Eu estava genuinamente contente até que um nó se amarrou em minha garganta, deixando entalar as inúmeras coisas que EU deixaria de fazer, dos quilos que EU ganharia e da despedida da vida como EU conhecia. É impressionante, mesmo tendo programado a gestação, aqueles primeiros minutos foram sufocantes para o meu egocentrismo.

Ademais, naquela semana, eu estava encrencando com o Fernando, meu marido, enlouquecidamente! Não conseguia olhar para a cara dele sem querer tacar um vaso em sua cabeça. Engasguei por alguns instantes antes de contar a ele a notícia. E como foi? Eu conto para você… foi lindo. Nada cinematográfico. Mas foi lindo. Ele me enrolou em um tenro abraço. Assim permanecemos por uns 10 minutos. Na multidão. Só nós. E nada mais importava.

De repente, tudo aquilo fez sentido. Antes, eu estava dominada pelos hormônios no melhor do estilo “Demônio da Tasmânia”; agora, eu me tornara mãe… Gerava uma vida em mim. Nada é mais grandioso que isso. Sentia-me poderosa, rainha, absoluta!

A gestação foi uma experiência transformadora. Não apenas por ter remodelado meu exterior com uma belíssima curva adquirida ao longo dos 8 meses em que esperava minha filha ou pelos 23kg extras sem vergonhas que teimavam a serem desvendados pela crueldade da balança. Mas eu também mudei por completo as minhas prioridades. Conquistei uma paciência que eu não reconhecia em mim, uma ansiosa-compulsiva-frenética assumida. Do dia para noite precisei me tornar a denotação de calmaria em pessoa, um jeito quase Lexotan de ser, para conseguir enfrentar os três meses que precisei permanecer na cama, em repouso absoluto. Encaramos uma gestação de risco e tive muito receio de não conseguir nutrir minha filha por tempo suficiente em meu útero para que ela tivesse forças para sobreviver fora dele. A preocupação era contínua e latente.

Não ­havia um minuto de respiro sem que eu não ficasse tensa, monitorando seus movimentos em minha barriga. Foram incontáveis idas ao Hospital, ao consultório médico e ao laboratório. A nossa programação fora de casa se resumia em realizar ultrassonografia e o exame de cardiotocografia fetal. Apesar dos pesares, o crescente afeto por minha filha durante a gravidez me fez amadurecer e superar muitas de minhas inseguranças. Nem sempre foi fácil. Confesso ter sentido medo muitas vezes, afinal, foram muitos os sustos durante este período. Entretanto, reconheço que fiquei mais forte com a fase conturbada. Parece que precisei passar por isso para me preparar para ser a melhor mãe que eu poderia ser para minha filha.

Não teria conseguido sem o Fernando, que permaneceu ao meu lado em todos os momentos, que compareceu em todos os exames, que não me deixou perder a fé e que pintava um verdadeiro arco-íris quando os dias estavam nublados e cinzas pelo tédio do repouso. E bota tédio nisso!

Consumi o catálogo do Netflix já no primeiro mês de repouso absluto. Li vários livros sobre gestação e maternidade, que me deixaram mais confusa que clarificaram. Tentei scrapbook, meditação, escrita. Até aprendi a fazer minha própria unha! Só não consegui realizar cursos online, pois a minha concentração estava completamente comprometida (é o que chamam por aí de “gestonta”. Essa era eu). Não tenho dúvidas que, se tivesse ficado mais um pouco parada, começaria a pintar Romero Brito (afinal, não tenho capacidade artística para desenhar nada mais elaborado) com os pés. Juro!

A gravidez foi uma difícil aventura e, mesmo assim, a maior benção que poderia ter me alcançado! Por um tempo, haviam dois corações batendo em mim. O meu corpo não era mais só meu, era hostel com quarto compartilhado. Ele recebia um propósito maior. Ele regava a flor mais bela e a fazia crescer dentro mim. E eu ansiava por cada mudança. Aprendi a contar a gestação não por meses, mas sim por semanas. Despedi-me de minhas roupas momentaneamente e abri espaço em meu guarda-roupa para leggings e calças com elásticos. Comemorei cada centímetro aumentado de minha cintura. Celebrei o primeiro chute, mas me emocionei mesmo quando o Fernando sentiu pela primeira vez o sapateado que acontecia em meu útero (parecia uma apresentação de Lord of the Dance). Adorava que meu barrigão indiscreto chegava aos lugares antes de mim e, principalmente, do benefício da fila preferencial rs.  Vou contar que eu chegava até abusava um pouco da gentileza com que as pessoas me tratavam (é impressionante o magnetismo que as grávidas possuem). Deixava todo mundo acariciar a minha barriga, sério mesmo, sentia-me como um ser iluminado, como Buddha. Não reclamava do fato de me oferecerem comida a cada segundo, sou fanática por um docinho e aproveitei que ninguém distinguia gordura de bebê para compensar tantos anos de dieta! É, fiquei de repouso, mas soube bem como tirar proveito da situação hahahaha

Julie chegou de bumbum para o mundo com 36 semanas por uma cesárea de emergência. Lembro-me do frio que senti na espinha quando fui direcionada do Pronto Socorro à sala de cirurgia. Estava paralisada de temor por ter que fazer a cesárea, em tom de urgência e antes do tempo. Porém, já começava a sentir o alívio de não precisar mais ter que lidar com tantas incertezas, de estar no “escuro”. Havia chegado a hora. Fiz questão de colocar a playlist inacabada que tinha começado a fazer para o momento do parto.

Mas tudo aconteceu tão rápido, que essa breve playlist foi mais que suficiente. Julie nasceu ao som de Nat King Cole, com a épica canção Unforgettable, assim que fomos apresentadas formalmente e nunca mais nos desgrudamos. Ela veio pequenina, contudo, forte e de olhar penetrante, daqueles que te olham n’alma. Seus barulhinhos, caretas e cheirinho me encheram de incomparável alegria, estava quase radioativa de tão radiante apenas pela oportunidade de a segurar em meus braços. Ficamos uma boa hora – minha melhor hora – abraçadas, conversando, enquanto os médicos costuravam minhas camadas em uma feliz cicatriz para sempre me lembrar o quão poderosa a Natureza Humana é. E a mesma placenta que nos deu a Senhora-Dor-De-Cabeça, encheu-me de gratidão, pois ela é aquele órgão poderoso que nasce e morre para dar vida a um bebê. Magnífico isso, não?

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Demorou algum tempo após o parto para cair a ficha de que agora eu era mãe, de fato. Não tinha ideia da enchente que é a maternidade. É algo que não apenas preenche, como inunda e transborda. Ah, já não era mais “apenas” uma mulher, eu era vulcão! Simplesmente superlativa! Tornara-me mãe. E sabe quando as pessoas falam que o amor pelos filhos jamais para de crescer e a gente desacredita, porque acha que não tem como, não há mais espaço físico para esse sentimento expandir ainda mais dentro de nós? Pois bem, ele consegue sim aumentar. O dia 19 de Maio me mudou por completo. Nada fazia real sentido até o seu início. É engraçado, acho que a gente não tem ideia do quanto ainda temos para evoluir antes de nos depararmos com a parentalidade. ­

O pós-parto foi uma turbulência sem fim! Acho que nada nos prepara pelo que se segue. Não é à toa que chamam o período de puerpério. Acreditava que a amamentação seria algo natural e instintivo, mas não foi. Meu bico do seio rachou pela “pega errada” e chegava a sangrar. Era uma dor que eu nunca havia sentindo antes, berrava de agonia todas as vezes que a Julie pedia o peito. Nutrir minha filha foi um pesadelo pelas primeiras duas semanas.

Pensei em desistir incontáveis vezes. Somado ao desafio da amamentação, tive que encarar a recuperação da cesárea que, querendo ou não, é uma cirurgia. O início da recuperação foi bastante complicado. Não conseguia me locomover direito e fiquei à base de analgésico para suportar o desconforto. Aí, quando as coisas pareciam estar começando a melhorar, chegaram as cólicas, as noites mal dormidas, os hormônios desajustados, a sensação de solidão… Diversas madrugadas eu chorava em silêncio de exaustão, achando que eu não daria conta. Eita fase intensa! Mas passou. Mas dei conta sim. Mas sobrevivemos. A única coisa que posso afirmar sobre o puerpério é que há luz no fim do túnel – Aleluia!

E outra, você lembra do início desta carta? Em que falo sobre a minha procura por um príncipe que fosse à prova de rotinas? Então, é muito fácil se manter no posto de “casal” enquanto há viagens, encontros, jantares, festas, amigos, shows, motel e, sobretudo, o tempo. Mas o que se faz quando há cansaço acumulado, enfado, banho por tomar, o peso da responsabilidade da criação, as olheiras, a falta de intimidade e atenção redirecionada 100% para aquele pequenino ser? Muitos casais sucumbem e dissolvem. Você ainda vai notar que é bem comum, no princípio, o casal se perder um pouquinho.

Por isso, ter a paciência para habitar na rotina é essencial. E, também, temporário. É preciso ter parceria para desbravar a parentalidade e, depois, entender que é necessário buscar o caminho de volta para si e, assim, retornar também ao outro.  Adquirir resiliência. Respeitar o tempo para se reconectar. Não é molezinha não. Tarefa de gente grande. Afinal, é tudo uma questão ajuste em situação de constante aprendizado. Eu, particularmente, ainda não resgatei a minha vaidade e sensualidade por completo. Tenho tido um pouco de dificuldade em compreender como deixar minhas versões de mulher e de mãe coexistirem dentro de mim, sem uma não “anular” a outra. Enfim, um passo de cada vez. Ainda chego lá!

A maternidade, definitivamente, não é para os fracos… A maternidade é para aqueles corajosos que se rendem para um amor que supera o tangível e atropela palavras. E olha que eu sou bastante exigente, são raríssimas as coisas me fazem perder a fala ou o chão – afinal, é uma capricorniana que lhe escreve aqui rs. ­Poderia tentar comparar com a sensação de saltar de paraquedas, você não tem sabe ao certo o que você está fazendo, entrega sua vida à outra pessoa e se joga na adrenalina com medo e euforia, tudo junto e misturado.

Mas vamos falar de amor materno, esse sim é gostoso de falar. Amor materno é se encontrar na doação; é se desdobrar para estar presente; é arrancar do peito o nosso coração e dizer “toma aqui todo o meu amor, ele é seu, faça o que quiser”, você está para sempre exposto. É refresco em dia quente. Oxigênio.  Dois em um. Invencível. Poderoso. Transcendental. Definitivo. Obcecado. Fusão heavy metal com new age. Essa maluquice abstrata aí mesmo. Ah, que delícia esse tal “padecer no paraíso”! Sou privilegiada.

Bom, melhor eu encerrar essa carta por aqui, porque se você me deixar eu lhe alugo por horas para conversarmos sobre família e muito mais! Todavia, se você topar, me encontra no Insta @papocompapinha! Lá tem várias entrevistas, papos e relatos com profissionais e outras mães abordando temas como maternidade, gestação, criação, família e saúde! Vai lá e me manda um Direct! Quero saber de sua história também. Compartilha comigo! Beijo grande!

Com carinho, Shelly Charmaine Fleury.

É essencial se nutrir para ter o que se doar.

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