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Como aproveitar os jogos da Copa para a criança aprender a perceber e a gerir as suas emoções?

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Publicado em 22/06/2018, às 14h46 por Ligia Pacheco


Antes do “como”, iniciemos pelo “porque” começar na primeira infância a educar as emoções. Destaco apenas três dos tantos motivos.

1. Esta é a principal fase de neurodesenvolvimento da vida e recebe forte interferência do meio, iniciando pela família. Fase que requer extremo cuidado e as emoções muito dirão deste processo.

2. As memórias emocionais da infância são tão fortes e poderosas, que podem continuar servindo de base para a formação de novas memórias até quando já somos crescidos. Basta notar como muitos processos terapêuticos voltam à infância e como muito de nossos problemas por lá se encontram. E nós, pais, interferimos nas emoções das crianças e em suas memórias, muito mais do que imaginamos. Melhor cuidar desde cedo.

3. São as emoções que nos movem, como etimologicamente seu próprio nome sugere: movimento para fora. E por isso há que educar o movimento de ‘dentro para fora’ e a melhor hora é agora, pois elas interferem nos processos perceptivos, cognitivos e comportamentais. Educá-las é preciso.

E por que o jogo da copa ajuda? O jogo é repleto de exemplos para discutir com as crianças temas relacionados à moral, julgamentos, comportamentos e tantos outros que os pequenos estão começando a despertar para. Além disso, os jogos afloram muitas emoções, boas e ruins, e em geral os assistimos em grupos e as emoções são contagiosas ficando mais fácil percebê-las, aprender delas e a como lidar com elas. E nada melhor do que aprender em casa e em família, e quando (e quanto) vale se contaminar e quando (quanto) não.

Então, como fazer? Sugiro os passos: perceber, sentir, nomear, pensar, gerir e agir. Trago exemplos de perguntas, que devem ser adaptadas de acordo com o nível de linguagem da criança e de seu desenvolvimento.

O primeiro passo é ajudar a criança a PERCEBER a emoção e o seu poder. Provoque perguntas que a ajudem a identificar a emoção nos outros e nela. Do tipo: “O que um gol do Brasil provoca nas pessoas? E o gol do adversário? O que acontece em cada um de nós? E na nossa torcida? E na vizinhança?” Explore e leve então a criança a SENTIR a emoção. “O que acontece no seu corpo quando o Brasil faz gol? O coração dispara? Dá calor?” Ajude a criança a perceber a  emoção no corpo, as boas e ruins, e de preferência no momento. Isto faz parte do autoconhecimento. Pois, as emoções são isto: manifestações fisiológicas. A alegria, tristeza, raiva, medo, nojo provocam em nós mudanças nos batimentos cardíacos, pupilas, tonicidade muscular, sudorese, preparam o corpo para uma ação baseada nas experiências vividas anteriormente. Todavia, antes de agir, temos a chance de interpretar pela razão todo este movimento, gerir a emoção, criar um sentimento e agir melhor, a fim de não meter os pés pelas mãos. Alerta! O desenvolvimento ainda precário do sistema nervoso, faz com que a criança tenha dificuldade para interpretar a emoção, e então ela inicia por nos imitar. E o que imita? Atentemo-nos aos nossos comportamentos, pois estas memórias na criança ficarão e interferirão em suas experiências.

Percebida e sentida a emoção, ajude a criança a NOMEAR o que sente. “Alegria” para o nosso gol, “tristeza” frente ao gol adversário. E então, ajude-a a PENSAR qual a melhor forma de administrar o que sente e nas tantas possibilidades de sentir o que o movimento da emoção provocou. Um gol do Brasil ativa a alegria e pode gerar sentimentos de felicidade, euforia, entusiasmo. Qual deles traz melhores benefícios? Um gol do adversário pode ativar emoções como a raiva, o nojo, a tristeza, que podem criar sentimentos de frustação, desprezo, desespero, ansiedade. Ou despertar a tenacidade, vontade, urgência, união. Qual destes contamina menos o corpo e é melhor? Ajude-a identificar o que sente e a pensar em alternativas de sentimentos mais saudáveis para bem GERIR as emoções. E por fim, o AGIR,  que resulta de todos esses processamentos internos e, portanto, há ene possibilidades. Note que quando um jogador erra o pênalti, não foi por falta de treino. Em geral, foi a má gestão emocional que interferiu nos outros processos e impediu o gol. Chame a atenção disso à criança, bem como as agressões em campo e fora dele, pois os contraexemplos também são ótimos aliados para esta aprendizagem.

Assim, aproveite toda e qualquer situação onde as emoções se manifestam e converse com a criança sem deixar de curtir o jogo. Provoque-a com perguntas e a deixe também fazê-las: “O árbitro foi justo? O que a ação do árbitro provoca em mim? O jogador que puxou a camisa do outro fez certo? Como o outro reagiu? Foi bom? O que o jogador sente quando sofre falta ou fica machucado e não pode mais jogar? Como você se sentiria no lugar dele? Como agiria?” Conforme as situações vão surgindo, chame a atenção da criança para o comportamento dos jogadores, árbitros, torcida, familiares, visto que ele é resultante do perceber, sentir e pensar de cada um. Por isso, use e abuse da diversidade de comportamentos em campo e fora dele, e de acordo com a idade da criança, ajude-a a perceber o máximo de elementos possíveis. É mais fácil perceber no outro, mas sempre traga as questões para a criança também: “Já aconteceu isso com você? Como sentiu? Como agiu? Como poderia melhorar?” E siga fazendo provocações amorosas para que ela aprenda das emoções. Pois estas conversas, ajudarão a criança a perceber-se, a sentir, nomear e pensar no agir das emoções, seja no comportamento alheio ou em si, enquanto a família ensina também de seus princípios e valores.

Agora me resta desejar que tenhamos muitos jogos para as emoções viver e tantas outras experiências, para aprendermos a perceber e a gerir as emoções. Pois só aprendemos a usá-las a nosso favor, nos emocionando, sentindo, nomeando, pensando e aprendendo a gerir enquanto as gerimos. Tanto pais, quanto filhos.

Vamos lá, Brasil!

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