Criança

Veja quais são os comportamentos inusitados do seu filho que você não precisa se preocupar

70% das crianças com desenvolvimento típico se envolvem em movimentos repetitivos e aparentemente sem propósito - Reprodução / Parents
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Publicado em 19/10/2021, às 13h38 - Atualizado às 15h21 por Redação Pais&Filhos


“Meu filho de seis anos é um ‘espremedor’”, diz Amanda Ponzar, de Alexandria, na Virgínia, nos Estados Unidos. “Ele costumava apertar a parte flácida do braço de todas as mulheres que encontrava: eu, a avó, até as professoras dele”, disse. “Isso é bastante comum e ele acidentalmente chegou até a apertar o braço de estranhos. Eu estava sempre me desculpando por esse comportamento, e o pai dele o punia. Na verdade, não sabíamos o motivo dele estar fazendo isso”, contou.

Já a filha de Erin Haskell é uma ‘chacoalhadora’. “Desde que Mollie tem dois anos, ela se deitava com as mãos cruzadas sobre o peito e balançava para frente e para trás por uns bons 20 minutos antes de dormir. E eu não sabia o que fazer com isso”, contou. “Isso me preocupava tanto que eu levava o assunto às consultas com o médico dela até ela completar 8 anos”, completa.

No caso de Holly Pevzner, jornalista da revista americana Parents, o que ela tem em casa é um fissurado por colocar objetos na boca. “Estou sempre pedindo para o meu filho mais velho tirar o Lego, o controle remoto ou o pedaço aleatório de um boneco da boca dele. E ele não é um bebê – longe disso: ele tem quase 10 anos, e mesmo assim peças de Lego vivem na boca dele”, conta.

70% das crianças com desenvolvimento típico se envolvem em movimentos repetitivos e aparentemente sem propósito (Foto: Reprodução / Parents)

Se identificou? Relaxa. Esses comportamentos podem até te confundir, te preocupar, irritar e até ser motivo para um momento constrangedor na frente de estranhos. Mas a verdade é que nada disso merece sua preocupação. “Hoje em dia, se você pesquisar ‘balançar para frente e para trás’, pode chegar a algum site sobre transtornos mentais. Ou, se você descrever algum comportamento peculiar do seu filho numa reunião de pais, logo receberá o ‘ombro amigo’ de uma mãe que dará ao seu filho o diagnóstico de autismo, distúrbio de processamento sensorial ou ansiedade”, diz Lindsey Biel, terapeuta ocupacional pediátrica e coautora do livro ‘Criando uma Criança Sensorialmente Inteligente’. Embora ninguém queira voltar à época em que os pais não estavam cientes de quais eram os primeiros sintomas das diferenças neurológicas, a linha é muito tênue entre um diagnóstico desses e apenas uma criança com um comportamento peculiar.

Na verdade, 70% das crianças com desenvolvimento típico se envolvem em movimentos repetitivos e aparentemente sem propósito, como sacudir as pernas, roer as unhas ou enrolar o cabelo no dedo, de acordo um relatório publicado em 2018 na revista científica Seminars in Pediatric Neurology. E não apenas esses comportamentos peculiares são considerados normais (alô, que adulto não faz uma dessas coisas também?), mas as crianças os fazem por um motivo: eles são uma maneira de autorregular os seus sentidos.

“Depois de entender o porque seu filho está fazendo o que faz e para que serve, você não enxergará mais isso como um comportamento estranho ou peculiar, mas como um comportamento com propósito”, promete Amanda Bennet, médica pediatra de desenvolvimento no Hospital da Criança da Filadélfia, nos Estados Unidos.

Caso 1: levando tudo até a boca

“Crianças que costumam levar objetos à boca, seja para mastigar ou chupar, podem estar fazendo isso porque têm a boca um pouco insensível”, explica a médica. Em outras palavras, seu filho que sempre está chupando camisetas pode ter perdido um pouco a sensibilidade oral e, por isso, exige mais estímulos da boca para satisfazer essa falta. “Para essas crianças, é possível que esses hábitos orais liberem neurotransmissores reconfortantes como a serotonina e a dopamina, que os ajudam a se sentirem mais calmos, menos entediados e mais engajados”, Biel explica.

Segundo o especialista, essas também são as crianças que podem ter experimentado um atraso na fala, que fazem mais bagunça na hora de comer, segundo a médica. “Eles costumam ter problemas em controlar precisamente os movimentos de seus lábios e boca porque eles simplesmente não processam essas sensações táticas tão bem quanto outras crianças”, completa.

Crianças que costumam levar objetos à boca, seja para mastigar ou chupar, podem estar fazendo isso porque têm a boca um pouco insensível (Foto: Reprodução / Parents)

Embora esses comportamentos sejam geralmente inofensivos, você vai querer pensar e refletir se esse comportamento frequente do seu filho expõe ele a germes, se há perigo de sufocamento ou de alguma outra maneira pode ser prejudicial. Por exemplo, se ele continuar chupando o dedo após 4 anos, isso pode afetar o formato da boca dele ou causar problemas ortodônticos.

Caso 2: mexendo o corpo sem parar

Embora uma criança que se balança para dormir possa parecer muito diferente daquela que gira em círculos depois de um dia longo de aulas na escola, ela não é. Nos dois casos, essas são crianças que naturalmente têm um sistema que requer mais movimentos do que a maioria, porque têm uma sensibilidade aos estímulos abaixo da média. A chave com esse comportamento peculiar? Saber a hora que já é o suficiente e deve parar. “Existe algo chamado de curva em U invertido. Quando uma criança gira, sua excitação aumenta a capacidade dela permanecer calma e focada. Ou seja, até que ela chegue no topo da curva, quando a excitação continua a aumentar, mas o desempenho diminui”, explica Dra. Miller.

Crianças que naturalmente de balançam, chacoalham, giram, e pulam têm um sistema vestibular que requer mais movimentos do que a maioria, porque têm uma sensibilidade aos estímulos abaixo da média (Foto: reprodução/Parents)

Passar dos limites, porém, pode causar problemas de sobrecarga sensorial imediatos e a longo prazo. “É importante trabalhar com seu filho e possivelmente com um terapeuta ocupacional, para localizar o tão falado topo da curva”, aconselha Miller. Por exemplo, você pode sugerir que seu filho mude de direção ao rodar, ou que vá mais devagar. “Parar e reiniciar pode beneficiar as crianças ao dar mais informações aos receptores vestibulares, que processam as informações de movimento”, diz Biel. Também é legal ter em casa brinquedos que atendam às necessidades sensoriais do seu filho, como um cavalinho de balanço, por exemplo.

Esses hábitos quase nunca chegam até a vida adulta. Conforme as crianças com esse hábito esquisito vão envelhecendo, seus hábitos também se transformam. “Uma das minhas jovens clientes que se chacoalhava e rolava acabou ganhando uma bolsa na faculdade para equitação. Como muitas crianças, ela se voltou para o atletismo que a oferecia muitos estímulos sensoriais a todo corpo, incluindo estimulação no sistema vestibular, pressão profunda, e compressão articular”, conta Biel. Outros esportes que têm estímulos parecidos são a natação e a ginástica.

Caso 3: sentindo o cheiro de tudo

Ao contar que o próprio filho vive com um urso de pelúcia para cima e para baixo, que ele cheia o tempo todo, a jornalista da Parents foi questionada pela médica, Biel, se ele costuma fazer isso quando está chateado ou com sono. A resposta: sim, e sim. “O olfato é o único sistema sensorial que se conecta diretamente com o sistema límbico, que é a emoção, a memória, e o centro do prazer no cérebro”, ela explica. “É tudo uma questão de associação, e as crianças muitas vezes cheiram coisas que trazem boas memórias e que as reconfortem”.

Esse hábito pode simplesmente ajudar a criança a se sentir mais segura e protegida – ou relaxada o suficiente para facilitar o sono. E quando você para e pensa sobre isso, todos nós temos cheiros e aromas que nos levam a alguma lembrança boa e que recorremos como uma espécie de abraço afetivo. “É por isso que lojas têm perfumes agradáveis, corretores de imóveis usam cheiros confortantes – tudo para ajudar a vender”, diz Biel. “É por isso que algumas crianças estão procurando por mais informações sensoriais do que outras, elas são hipossensíveis e às vezes buscam cheiros que não são tradicionalmente considerados reconfortantes, como massinha ou giz de cera”.

Caso 4: sempre em movimento

“Tocar, sentir, apertar, cutucar, girar o cabelo no dedo, e todas as outras formas semelhantes de agitação geram sensações que alimentam a fome do toque de uma criança – e muitas vezes sua necessidade de um tipo muito específico de pequeno movimento também”, diz Dra. Miller. O corpo libera o neutrotransmissor de bem-estar, a ocitocina, em resposta aos movimentos de busca tátil dos dedos e mãos, como tocar repetidamente uma etiqueta macia ou gentilmente acariciar o cabelo de alguém, de acordo com um estudo do Journal Frontiers in Psychology.

Além do efeito calmante, essa agitação de tocar as coisas pode ajudar as crianças na concentração. “Todos sabemos que crianças tendem a se movimentar mais em atividades que são mais desafiadoras mentalmente do que durante as menos desafiadoras”, diz Michael J. Kofler, Ph.D., professor associado de psicologia na Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee. “As crianças usam os pequenos movimentos para estimular seus cérebros. Para algumas, particularmente aquelas que têm TDAH, a inquietação ajuda a manter o cérebro engajado e aumenta a memória de trabalho”, explica.

(Foto: Reprodução / Parents)

Por outro lado, descobriu-se que o fidget spinner, que seria uma ferramenta com o mesmo intuito de concentração, na verdade faz o oposto. “Quando crianças usam o brinquedo na sala de aula, elas na verdade acabam ficando ainda mais distraídas”, diz Dr. Kofler. Por isso, é importante encontrar uma maneira de tentar se acalmar e inquietar que realmente funcione para o seu filho – sem interromper a aula, claro.

“Nós tivemos sorte. A professora da pré-escola do meu filho fez ela mesma um balão de pressão caseiro, com bicarbonato de sódio. Ela os mantinha no bolso do avental e entregavam ao meu filho quando ele sentia a necessidade de apertar alguma coisa”, lembra Ponzar, mãe do menino que gosta de apertar coisas (e braços). A ideia da professora não apenas ajudou dentro de sala de aula, como diminuiu o hábito esquisito dele. “Às vezes enquanto estamos lendo juntos ele ainda procura meu braço para apertar, e eu recorro ao balão. É uma solução rápida e que funciona. Ele ama tanto aquele balão que dorme com ele debaixo do travesseiro”, conta.

Quando um hábito diferente é uma grande coisa

Se o comportamento do seu filho interfere na vida dele a ponto de interferir no funcionamento diário – digamos que ele fique tão incomodado com barulho alto que não suporta o recreio ou não gosta de pegar o ônibus escolar – pode ser um sinal de distúrbio de processamento sensorial, segundo Sara O’Rourke, uma terapeuta ocupacional em No Hospital da Criança de Nationwide, em Columbus, em Ohio, nos Estados Unidos.

Crianças com essa condição não conseguem responder apropriadamente aos sinais vindos de seus próprios sentidos, enquanto aquelas com peculiaridades consideradas normais encontram uma maneira de se autorregular. Se você estiver preocupada, converse com o pediatra do seu filho, que pode encaminhá-lo para um terapeuta ocupacional para que vocês tentem estratégias.

Socorro! Meu filho está me deixando constrangida

O negócio é o seguinte: tudo bem se você se sentir um pouco constrangida com o comportamento peculiar do seu filho. “Esse é um sentimento válido que os pais podem experimentar”, diz Dra Lucy Jane Miller. “Queremos que nossos filhos se encaixem, e não queremos que os outros os julguem”. Embora uma peculiaridade não seja nada demais para as crianças, um estudo publicado na revista científica Seminars in Pedriatric Neurology descobriu que a frustração delas aumenta quando os pais ou professores tentam interromper seu comportamento.

Então, antes de fazer isso, na próxima vez se pergunte: meu filho está com vergonha? Se a resposta for não, e se a peculiaridade não interfere em outros aspectos da vida dele, ignore o comportamento e saiba que outras crianças fazem o mesmo para conseguir atender às necessidades sensoriais também. É mais ou menos como você masca chiclete em vez de colocar Lego na boca.


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