Família

Soul por Leandro Karnal: “A vida é curta e cada momento é significativo, é um erro perder esse tempo”

Soul estreou em dezembro de 2020 - Reprodução/ Pixar
Reprodução/ Pixar

Publicado em 21/01/2021, às 15h29 - Atualizado às 16h20 por Marina Paschoal, filha de Selma e Antonio Jorge


Soul, lançamento da Disney Pixar chegou no Disney plus em dezembro de 2020 e deu o que falar desde o início – falaram muito bem, claro. Seguindo a linha de “Divertidamente“, que traz humor e leveza em questões existenciais e importantes da vida, o filme pode ser visto por crianças e diverti-las, mas também pode ser visto por adultos e até virar assunto num bate-papo filosófico. E foi isso que a Disney Pixar fez: a Pais&Filhos participou, nesta quinta-feira, 21 de janeiro, de uma análise e conversa sobre Soul com ninguém menos do que o historiador Leando Karnal.

Com o tema “O melhor da vida”, o professor nos convidou a refletir sobre vários pontos que a animação traz, e entrou em detalhes dos personagens para entender à fundo os comportamentos (atenção, a análise contém spoilers!).

Soul estreou em dezembro de 2020 (Foto: Reprodução/ Pixar)

A paixão que vem da alma

Para começar, Karnal nos fez pensar a respeito do próprio nome do filme, “soul“, que pode ser interpretado ao pé da letra como a tradução para o português, que significa “alma“, mas que também traz referência ao tipo de música que envolve o jazz – a paixão de Joe, personagem principal.

E por falar em Joe Gardner, o homem de meia idade afro-americano, que é um professor de música, vive uma rotina monótona e vida comum, e acredita que para alcançar a felicidade precisaria realizar o sonho de fazer parte de um grande grupo de jazz, já que a música é a sua paixão, e esse é o seu propósito na vida. Mas tudo isso vai por água abaixo quando ele acidentalmente cai num bueiro e tem a alma separada do corpo – sim, isso mesmo.

O filme é dominado por protagonistas negros (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez: a vida pré-vida

No outro plano que, como destaca Karnal, não traz referências religiosas e nem Deus, ele entra numa jornada de descoberta. Neste plano superior em que almas habitam não existe céu ou inferno, ou separação entre almas boas e ruins – todas as almas desencarnadas seguem na mesma escada, para o mesmo destino. Mas Joe, que não aceita o fim da sua vida justo quando tinha encontrado seu propósito, tenta escapar da tal escada e encontra o lugar do “pré-vida”, chamado de “You Seminar”, onde as almas ainda são ‘crianças’, vivem num ambiente em que mais parece um pátio de uma escola, e estão se preparando para vir para o mundo real.

É neste lugar que as almas se desenvolvem e vivem paixões antes de nascerem na forma de bebês, como se fosse uma vida antes da que temos na terra – e pela primeira vez, nos deparamos com ênfase na vida antes da vida, e não com o que acontece após a morte em uma animação.

O filme é dominado por protagonistas negros (Foto: Divulgação)

Lá, Joe conhece a alma 22 – que é diferente de qualquer outra alma de lá e insiste em não querer vir para o mundo que conhecemos, já que está presa no “You Seminar” por tanto tempo que acabou desenvolvendo uma visão de vida um pouco obscura e pessimista. “As almas no pré-vida têm o lúdico, e isso ajuda a encontrar o sentido da vida. Joe, que se recusa a brincar, foi ficando pesado. E a lição é que precisamos explorar coisas novas dentro do lúdico para encontrar a centelha, que somada a minha identidade me faz encontrar minha paixão, sem a qual nada tem sentido. Independente de quem eu seja, preciso exercitar a paixão dentro de eventos diários”, o historiador observa.

A redescoberta da vida

Numa reviravolta, Joe e alma 22 vêm parar na terra – ele, no corpo de um gato, e ela, no corpo do músico. Nem precisamos comentar que a partir daí a diversão fica ainda melhor, né? A alma 22 começa a descobrir (ou, redescobrir) sabores e sensações de estar vivo, como o vento batendo no rosto e a beleza das folhas caindo das árvores, e nos leva a pensar nos pequenos momentos e o quanto realmente valorizamos cada um deles.

O filme é dominado por protagonistas negros (Foto: Divulgação)

“A reflexão é que sempre existe ônus e bônus. Ou seja, quando os personagens estão no plano superior, por exemplo, as coisas não têm sabor, mas eles também não sentem dor. Isso nos leva a pensar no Carpe Diem, uma frase latina muito usada por americanos, que em seu real significado diz que a vida é curta, e que devemos tornar cada momento significativo. É um erro perder tempo, porque a vida é formada desse tempo”, Karnal explica.

Ter um propósito

É claro que fatores como genética e o ambiente social em que uma criança se desenvolve influencia na vida dela, mas Karnal explica: “Não são papéis em branco, e nem marionetes. Precisamos pensar no caminho do meio”. E essa é uma grande jornada de descoberta, a partir de um autoanálise.

O filme não faz leitura moral, fala de uma consciência do indivíduo – que precisa encontrar a própria paixão, e essa é uma busca em si, temos que buscar um sentido próprio“, ele esclarece. Na prática, nada mais é do que gastar o tempo com algo que faça sentido para você. Para o Joe, por exemplo, é a música que traz sentido para a vida dele, e ele precisou descobrir ao longo da animação isso – de que era a música em si, e não o fato de virar um jazzista famoso. E isso deu sentido à existência dele. “Em um mundo em que se fala muito da fama e do destaque, vem essa questão de que você não precisa brilhar – basta você ser quem você é, e são esses elementos que te tornam especiais e único”, Karnal acrescenta.

A importância do que realmente importa

Apesar de ser uma animação com diversidade e muitos personagens afro-americanos, a mensagem que está nas entrelinhas é: o que realmente importa é o que somos por dentro, é a nossa alma e a nossa essência. “As almas são indistintas no pré-vida e percebemos que o corpo vida só uma capa superficial diante de algo que está por baixo – e essa é uma aposta numa grande igualdade. Somos diferentes – porque cada um tem uma centelha, tipo de felicidade e personalidade, mas somos iguais em dignidade, direitos e assim por diante. Seguimos as mesmas leis e regras”, o historiador aponta.

(Foto: Reprodução / Insatagram / @leandro_karnal / Divulgação Disney Pixar)

E Joe consegue sentir isso na pele – ou melhor, na alma, no momento em que toca pela primeira vez estando de volta ao próprio corpo. “Nesse momento, ele perde o fio da meada, porque a vida não tem roteiro ou uma forma única de pensar. O que temos na vida é o diálogo que fazemos com a própria centelha, a própria paixão, o próprio sentido em relação às coisas que estão ao redor”. E essa, como o especialista destaca, não é uma missão dada por alguém, mas que temos que descobrir dentro de nós mesmos.

Ao comparar Soul e outras animações que nos fazem refletir com as que costumava ver na infância, Karnal finaliza a análise otimista: “Não posso afirmar que teremos uma sociedade muito melhor, mas eu sei que sociedade surgiu a partir de contos como João e Maria, por exemplo. Eu me sinto esperançoso de que se formem pessoas que pensem nos outros, aceitem as diferenças, encontrem o sentido em si e na própria busca”.

Veja o trailer de soul abaixo:

Vale lembrar que a animação foi dirigida por Peter Doctor, que também foi o diretor dos famosos filmes “Divertida Mente”, “Up: Altas Aventuras” e “Mostros S.A.”.


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