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Ansiedade infantil: saiba quais os fatores mais comuns para o surgimento e como lidar com a situação

Ansiedade infantil é coisa séria (Foto Divulgação)
Ansiedade infantil é coisa séria (Foto Divulgação)

Publicado em 19/09/2019, às 09h21 por Regina G Politi


Ansiedade infantil é coisa séria (Foto Divulgação)

Não vou esgotar o tema da ansiedade infantil, mas comentar alguns fatores comuns que originam e/ou aumentam a ansiedade em crianças pequenas, bem como opções para lidar com ela. São eles:

  • Medo de ser abandonada
  • Sentimento de culpa exacerbado
  • Ineficiência infantil X impaciência parental
  • Atritos entre os pais
  • Morte, quando o luto não é realizado

Medo de ser abandonada

Toda criança nasce e cresce com medo de ser abandonada e/ou não amada pelos pais, já que dependem 100% deles para existir.  Esse medo natural surge sempre, dependendo do que acontece na relação cotidiana com os pais.  Quando a mãe sai para ir ao mercado, o filho vai ter medo (inconsciente) de não ter mais a mãe, de que ela nunca mais volte e o abandone. Se o pai se ausenta por um tempo, pode ter medo (também inconsciente) de perder amor dele.

São situações inexoráveis, pois os pais não ficam grudados (e nem deveriam) nas suas crias o tempo todo, onde o medo do abandono surge, e gera uma ansiedade na criança pelo o que vai acontecer.

Dada a situação de vulnerabilidade da criança, cabe aos pais assegurar que o medo não procede, pois o filho nunca será abandonado. Claro que isso não se dá por uma comunicação única e racional, mas sim por ações contínuas em linguagem continente e pertinente a cada faixa etária, que reassegura o filho e diminua ao máximo o medo do abandono.

Entretanto, como não temos escola de pais, acabamos criando situações estressantes para nossos filhos sem nos dar conta que elas geram muita ansiedade, tais como não nos despedimos quando saímos de casa.

Ou seja, saímos escondidos para que eles “não sofram”, por exemplo. Isso só reforça a fantasia do medo do abandono! Devemos nos despedir claramente e expressar que voltamos logo, que a avó ou o responsável que for ficar com a criança está lá caso ela precisar de algo. Não temos que fugir e nos esconder. Fazer isso deixa a situação confusa para a criança e, portanto, a deixa insegura.

Ouvimos pais e mães dizendo frases como: “me dê a mão, senão  vou te largar aqui na rua sozinha”, ou  “se não vier logo, te deixo aqui para sempre”, ou “me dá a chupeta senão vou te  devolver para o berçário”.

Essas e outras tantas ameaças de abandono que ouvimos frequentemente não são banais, são extremamente danosas, pois  alimentam e confirmam a fantasia do perigo iminente de abandono. Ou seja, a criança faz qualquer coisa para que os pais não lhe deixem sozinhas no mundo. A ansiedade aumenta demasiadamente!

Aos poucos temos que ir mostrando que a ausência não é abandono. Faz parte sair e voltar, pois ela não é o centro do universo.

Leva tempo para isso ficar seguro na mente de uma criança, tem que ser construído desde bebê, com a voz calma dos pais, palavras carinhosas e gestos que as ajudam a suportar as pequenas ausências, pouco a pouco. É o que chamamos de apego seguro.

É assim que começa a ser desenvolvida a confiança de que ele jamais será abandonado pelos pais. Vamos ensinando aos nossos filhos a superarem a dor da separação, que faz parte do crescimento.

Ansiedade devido à culpa intensificada

Intencionalmente ou não, os pais provocam nos filhos um sentimento de culpa. Lógico que a culpa, assim como o sal, é um ingrediente útil para dar sabor a vida, mas se usado em demasia, a criança entra em muita ansiedade.

Por exemplo, quando uma criança transgride uma regra social ou moral, há lugar para a censura e para a culpa. Contudo, quando a criança é proibida de ter sentimentos negativos ou maus pensamentos, ela se sentirá extremamente culpada e ansiosa. Para evitar sentimentos de culpa desnecessários e exagerados, os pais poderiam lidar com as transgressões das crianças do mesmo modo que um mecânico lida com um automóvel danificado. Ele conserta, corrige, mas não fica humilhando, nem envergonhando o dono do carro por ter quebrado tal parte, inquirindo-o severamente em busca da causa do defeito.

Isso representa um alívio para as crianças. Elas irão ser responsabilizadas, afinal temos que educá-las, e aprenderão a se desculpar pela culpa. Mas não serão perseguidas como as piores pessoas do mundo, portanto, dignas de punições exageradas e não  merecedoras da aprovação e amor dos pais.

Crianças entre 7 e 14 anos apresentam maiores índices tristeza e ansiedade (Foto: Getty Images)

Ansiedade do desempenho infantil X impaciência dos pais

Ou seja, a eficiência é inimiga da infância.

É claro que as crianças pequenas não executam certas tarefas com muita habilidade, destreza e rapidez. Demoram  para amarrar sapatos,  tomar banho, abotoar o casaco, comer certos alimentos,  guardar brinquedos, e por aí vai. Caso os pais não tenham paciência no dia a dia e não permitam que a criança leve esse tempo todo, e ainda assim não façam perfeitamente, criticando e hostilizando o filho, um forte sentimento de fracasso e desapontamento domina e aumenta a ansiedade da criança.

Muitos pais dizem: “Que absurdo, nem isso faz direito! É tão fácil, deixa que eu resolvo”. Isso mostra a impotência e incompetência da criança perante o adulto, gerando raiva nos filhos, pois são desqualificados, rotulados e não valorizados pelo esforço envolvido, fomentando quadros de ansiedade de desempenho.

É a negação da futura autonomia dos filhos e possível desistência de se esforçar para treinar e melhorar, desmotivando e aumentando o medo de falhar. Este também é um dos fatores  de aumento de  ansiedade frente seu próprio desempenho.

Atritos e competições entre os pais

Quando os pais brigam ou competem, os filhos ficam muito ansiosos. Sentem seu lar ameaçado, suas necessidades abandonadas, e até culpados (inconscientemente) pela briga e competição do casal.

Justificadamente ou não, os filhos supõem que são a causa do conflito doméstico. Que se eles fossem filhos melhores, pai e mãe estariam contentes e não brigariam. Seriam mais felizes e não ficariam competindo entre si.

Outro ponto importante que gera ansiedade: eles, os filhos, não ficam neutros nessas disputas, sempre vão se identificar com um dos lados. Ou tomam partido do pai ou da mãe, ficam “enredados” no nó do casal.

Sofrem problemas de lealdades divididas, propiciando danos afetivos permanentes, pois os  pais, para tentarem obter apoio dos filhos que não o apoiaram, podem usar métodos antipedagógicos, como suborno, adulação e até mentiras. Enfim, criam um padrão relacional disfuncional, destrutivo e patológico.

Pelo alto grau de ansiedade que vivenciam, acabam se tornando filhos manipuladores para obter vantagens na briga entre eles, desencadeando problemas de caráter e identidade.

Morte na família

Alguns pais tentam proteger os filhos pequenos da dolorosa e triste experiência da morte de um ente querido, de um animal de estimação, amigos ou cuidadores, privando a criança de afligir-se, de sofrer, lamentar, chorar, entristecer e até viver o luto. Assim, elas aprendem desde pequenas que não podem exprimir seus anseios, dores e emoções negativas.

Acabam se tornando extremamente ansiosas, ocultando principalmente a dificuldade dos pais em lidar com a morte, e portanto, privando-se da vida como ela é.

São pais que a tragédia da morte os destrói, pois é eterna e irreversível, mas para as crianças, a morte é um enigma, cheio de mistérios, que pode acontecer, infelizmente.

A criança tem o direito de se despedir de seus afetos, amores e relacionamentos, lidando com a realidade da morte, que é comum a todos os seres vivos. Não podemos excluí-las dos cerimoniais e rituais quando algo dessa gravidade acontece. Faz parte do seu desenvolvimento como ser humano.

Enterrar o peixinho querido é mais saudável do que de repente os pais ocultarem com uma desculpa qualquer a ausência dele, por exemplo. Ir ao enterro do avô ao invés de dizer que ele foi viajar e vai demorar muito para voltar, esperando que ela se esqueça do velhinho, ou contar apenas sobre a perda depois de 10 anos da morte.

A criança é livre para expressar seus sentimentos e cabe aos pais falar, por exemplo: “você sente falta da avó? Ela amava muito você. Seria tão bom que ela estivesse viva, é difícil acreditar que ela morreu, você se lembra bem dela? Vamos ver as fotos. Vamos brincar de que eu sou a neta e você a avó?”.

Enfim, procurei trazer as situações mais comuns que atendo em meu consultório com crianças extremamente ansiosas, privadas de uma infância segura, saudável e construtiva.

Mande um e mail para [email protected], caso queira perguntar mais sobre ansiedade infantil.

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A família também tem papel fundamental no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Veja as dicas de Roberta e Taís Bento no vídeo abaixo:


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Família

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