Publicado em 17/10/2022, às 08h39 por Dado Schneider, Valesca Karsten, Marisa Eizirik e Bia Borja
A entrevista on-line se inicia com um sorriso largo de Luciana, com uma tala no braço. Questionada sobre o que houve, ela responde: “Sabes como é ser mãe, né? Peguei uma virose braba do meu filho menor e um dia, ao me levantar, fiquei tonta e caí. Lesionei o meu ombro e estou de licença médica, me recuperando”.
“Se eu pudesse voltar atrás, teria descansado mais, colocado alguns limites, como ter horário para me alimentar, dormir, fazer exercícios, enfim, me cuidar”, confessa Luciana Hodges, 45 anos, psicóloga, mãe do Theo, 8 anos e do Leo, 15 anos. Casada com o Charles, 51 anos, eles moram em Recife-PE e definem que os últimos anos têm sido uma aventura. Luciana conta que o seu forte era justamente não ter muita rotina, uma característica que ela teve que mudar ao receber a notícia de que o Theo tinha autismo: “Quando recebi o diagnóstico do nosso filho, decidi que mudaria, seria uma pessoa mais organizada, para poder ajudar ainda mais o meu filho. Não tinha como dar murros em ponta de faca, decidi fazer desse limão uma limonada e assim tenho feito”.
Na pandemia, a falta de interação social tornou-se um desafio ainda maior para a família, em relação ao Theo, que na época ainda estava no final da Educação Infantil: “Sem as terapias presenciais ficou ainda mais difícil. Como tenho formação e experiência com crianças com necessidades especiais, isso facilitou a minha interação com as terapeutas. Meu marido é parceiro, dividiu comigo o acompanhamento do Theo nas aulas remotas e nas terapias online”, conta Luciana.
O casal se dividiu entre sessões com a fonoaudióloga, psicoterapeuta, terapeuta ocupacional e psicopedagoga. O ritmo frenético entre todas as responsabilidades trouxe muito cansaço: “Para todos os profissionais foi um período difícil e desafiador, para os profissionais da educação não foi diferente. Eu trabalhei exaustivamente, alguns dias eu ia das 6h da manhã às 23h, nem sei como consegui dar conta de tantas demandas. Ainda bem que pude contar com o Charles, pois ele tinha mais flexibilidade de horários para acompanhar a vida escolar dos meninos”, desabafa. O outro filho, Leo, com 15 anos, conseguiu dar conta e acompanhar as aulas durante as manhãs e compreender, dentro do possível, essa nova dinâmica.
“Hoje valorizamos o agora, a presença, a nossa união. Não é que a rotina tenha mudado, nem que a gente tenha mais tempo livre, mas o tempo que estamos juntos, de verdade. Temos uma nova percepção de presença. E hoje fazemos mais esforço para ter esses momentos de qualidade, todos juntos. Percebi, também, que não preciso de muito para ser feliz. Me sinto imensamente feliz brincando com o pequeno e conversando com o mais velho – que alegria saber que meu filho adolescente gosta de conversar comigo”, comemora Luciana.
Daniela Borba, 44 anos, psicóloga clínica infantil, mãe do Douglas, 6 anos. Casada com o Luiz Carvalho, 48 anos, médico. Moram em Recife-PE. Nossa conversa com ela começa com um elogio: “Que importante esse trabalho do grupo de pesquisa PAISdemia, fico muito feliz em participar e espero ajudar, afinal, pouco ainda se sabe sobre a repercussão da pandemia na vida das pessoas e, principalmente, na vida das crianças.” Ela imediatamente relata um frio na barriga ao lembrar da pandemia: “De repente, me vi em casa com uma criança que tinha 3 anos e meio, com uma rotina escolar. Ficamos nós dois, o Douglas e eu, pois o meu marido, como médico otorrino, não parou. Lembro que a primeira coisa que fiz foi me debruçar em pesquisar coisas interessantes para entreter meu filho e, logicamente, coisas que estavam ao meu alcance de fazer, dentro das nossas possibilidades”, relembra Daniela.
A mudança drástica de rotina trouxe reflexos. Ao notar a confusão na cabeça do filho, Daniela teve a ideia de construir com ele uma rotina e colocar no papel: “Fizemos desenhos representando os horários e as atividades, colamos adesivos para decorar e fixamos em um lugar que ele poderia visualizar. Com isso, ele passou a se organizar melhor no tempo e no espaço dos dias. Algumas vezes eu o via olhando a folha e me dizia: ‘Mamãe, agora tá na hora do banho”.
Criatividade não faltou para ela. Várias atividades em casa como: tinta, desenho, colagem e pinturas, até festa de pirata virtual foram criadas para entreter e ajudar o pequeno: “Se eu pudesse voltar atrás, talvez negociaria comigo mais paciência. O tempo me mostrou que, apesar de valorizar o trabalho do pedagogo, o ofício deles é mais valioso do que eu imaginava. Vi a real importância da interação entre as crianças, a conexão. Como diz o provérbio africano ‘é preciso uma aldeia para educar uma criança’, o desenvolvimento da criança não está apenas no núcleo familiar, mas também na comunidade na qual vive e se relaciona”, destaca Daniela.
Interatividade e conexão, percepções também presentes no relato de Michele Kaiser, 39 anos, mãe da Mônica, 11 anos, e dos trigêmeos Marcelo, Murilo e Matheus, 8 anos. Michele é professora de inglês e produtora de conteúdo digital, casada com o Maurício, 44 anos, dentista. Moram em Caxias do Sul-RS: “Durante a pandemia ficamos muito em casa, principalmente no primeiro ano, procuramos respeitar as orientações sanitárias, e para a nossa família, com 4 filhos, a pandemia teve o seu lado positivo, porque eles não sofreram tanto quanto as outras crianças em relação ao isolamento e socialização, tinham uns aos outros”, relata Michele.
Em 2017, os meninos ingressaram na Educação Infantil na mesma escola da irmã, quando tinham 3 anos. Os pais optaram que cada um dos trigêmeos tivesse a sua turma. Em 2020, quando veio a pandemia, eles estavam em turmas diferentes. “Tínhamos que dar conta de quatro professores, você imagina a quantidade de horas e computadores que precisávamos para dar conta de tudo. Era praticamente impossível meu marido e eu darmos conta de assistirmos com eles todas as aulas, então decidimos que os trigêmeos, em casa, seriam da mesma turma”, conta a professora.
A experiência deles como colegas fez os pais repensarem, e hoje, eles permanecem como colegas na mesma turma. “Conversamos com eles, fizemos uma ‘reunião de família’ e perguntamos como seria isso para eles e a decisão foi unânime. Obviamente ficou mais fácil para nós administrarmos as demandas e a experiência na pandemia trouxe um aprendizado importante para nós.”
Ao ser perguntada se teria feito algo diferente, responde: “Se a gente soubesse que a pandemia iria se estender por tanto tempo, eu, talvez, pudesse ter me organizado melhor, mas isso de nada adianta pensar agora. Nessas horas lembro de uma coisa que o meu pai me diz: ‘Quando o jogo terminou é fácil falar, dar palpites, difícil mesmo é quando o jogo está rolando’. Penso que fizemos tudo que estava ao nosso alcance e aproveitamos a nossa configuração familiar para fazermos companhia uns aos outros”, finaliza.
A pandemia, de fato, foi um verdadeiro tsunami na vida das famílias. Pais e filhos tiveram de se reinventar e trazem novos olhares agora. Em meio ao turbilhão de emoções, percebemos que o imperativo de (con)viver é unânime. Todos no mesmo espaço, 24 horas por dia, todos os dias; agora a vivência traz os reflexos do conviver daquela época. Percebemos união e conexão conquistadas de forma corajosa – tanto pelo pais, como pelos filhos. Organização, tolerância, paciência, resiliência, e muito esforço para manter o equilíbrio.
São questões que ficaram e permanecerão por muito tempo como impactos reais nas famílias, conduzindo a múltiplas aprendizagens. Todos os entrevistados mostram bom senso, otimismo, a necessidade de enfrentar o medo, procurar formas de organização da vida, encontrar meios de conjugar os diferentes interesses e possibilidades. Derivaram disso a alegria do convívio e a capacidade de organização para enfrentarem juntos as dificuldades. Não escondem, porém, as frustrações, os descontentamentos, os problemas vividos e, especialmente, lamentam a falta de paciência em muitos momentos. Aprendemos a ter consciência dos próprios limites e da importância do cuidado, de si e dos outros, como inevitável ferramenta para construir possíveis vida em conjunto.
Cabem as palavras de Carlos Drummond de Andrade (O homem e as viagens): “(…) Só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração/experimentar/colonizar civilizar/humanizar/o homem/descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con- viver”.
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