Família

Luana Génot fala sobre educação antirracista: “Tem que começar pelos adultos”

Veja a entrevista completa - arquivo pessoal
arquivo pessoal

Publicado em 19/09/2020, às 17h16 - Atualizado às 17h28 por Yulia Serra, Editora | Filha de Suzimar e Leopoldo


A fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, mãe de Alice, de 2 anos, abre o coração sobre as duas principais referências de sua vida, a mãe e a avó, e conta como a maternidade tem inspirado o trabalho que faz, com as causas sociais e raciais. A palestrante conta os desafios de conciliar carreira e maternidade e o que deseja para o futuro. Para ela, as mudanças precisam começar agora! Confira toda a conversa.

Veja a entrevista completa (Foto: arquivo pessoal)

Você foi criada pela sua mãe, como foi crescer dessa forma?

LUANA GÉNOT: Minha mãe é uma referência, meu maior exemplo, desde garra, busca por dias melhores
e determinação. O que ela quer, ela consegue e eu me inspiro nela para ir até o fim. Crescer com ela foi herdar
habilidades e inteligência emocional muito fortes, assim como conquistas materiais que nos foram negadas como mulheres negras. O que faltava de matéria em casa, sobrava de inteligência emocional, no sentido de se
virar e fazer as coisas acontecerem.

Teve alguma outra presença marcante na sua infância?

LG: A minha avó também é outra figura muito incrível e inspiradora. Ela e minha mãe me deram disciplina para
sempre respeitar o outro e dividir o pão. Eu tenho isso até hoje comigo. São habilidades fundamentais para construção de caráter e visão de futuro. Você celebra tanto o passo a passo quanto as conquistas.

A presença paterna fez parte da sua vida?

LG: Eu considero que fui criada pela minha rede de apoio. Meu pai e minha mãe se separaram cedo, mas não
tenho lembrançade momentos que a gente tenha vivido juntos com constância, apenas coisas pontuais. Foi uma
relação de distância, era uma presença material: dava dinheiro, comprava presentes. No início, fiquei com muita
raiva, mas amadurecendo eu fui entendendo que tinham relações que viviam a distância e transformei essa raiva em algo positivo. Hoje nos relacionamos à distância, nos vemos a cada dois meses, mas considero nossa relação de
troca mais sincera e profunda, podendo colocar assuntos difíceis na mesa sem tabu.

O que a maternidade mudou na sua vida?

LG: Muita coisa. A maternidade é uma mudança de chave, desde a descoberta da gravidez. Uma das mudanças mais profundas aconteceu quando minha ginecologista disse para mim: “Você se deu conta que não é mais só a filha da Ana? Agora também vai ser a mãe da Alice.” Ali senti uma responsabilidade enorme, pra ser tão boa quanto a minha mãe foi pra mim.

E como lidou com isso?

LG: Depois de um tempo, eu entendi que não era para ser igual, era pra ser eu, com todas as controvérsias, questões e defeitos. Fiquei mais aliviada trabalhando isso em mim. Quando a minha médica disse “mãe de Alice”, eu pensei que tinha que abandonar todo o resto, mas com o passar dos dias percebi que ser mãe era parte de mim, mas não representava o todo. Quando essa chave virou, ficou tudo bem mais tranquilo para lidar no pensamento. No dia a dia, é extremamente cansativo, a maternidade tem muito amor, mas também muita dor. Não podemos romantizar essa fase.

Como você concilia o trabalho com a maternidade?

LG: Não foi algo imediato, mas fui trabalhando na cabeça. Fui aprendendo a estabelecer mais meus limites. É um processo de aprender a valorizar aquilo que considero ser de qualidade, muito mais do que a quantidade. Hoje, já consigo dizer muito mais facilmente não, por entender aquilo que eu quero. Assim, consigo melhor conciliar minha vida como mãe e profissional.

O que sua mãe te ensinou que você quer repassar para sua filha?

As gerações mudam, mas algumas coisas ficam (Foto: arquivo pessoal)

LG: Determinação. Durante minha infância, embora sempre gostei de falar, eu tinha muita vergonha por uma série de questões – inclusive racismo e machismo. Minha mãe, percebendo isso, foi exercitando comigo nos detalhes do dia a dia. Ela sempre foi muito sensível para perceber isso e me incentivar. Minha mãe foi muito focada de reforçar o que via de melhor em mim e me fazer continuar, sejam em coisas mais banais ou complexas.

Qual a principal dificuldade em educar uma menina hoje?

LG: Além da questão de gênero, tem que acrescentar a questão racial. Eu vejo poucos desenhos representativos dessa menina negra, por exemplo. Apesar de ter avançado, a carência é muito grande. Na sequência, sobre gênero, tem a questão de ainda termos essa questão muito engessada de meninos usam azul e meninas rosa, como se cada um tivesse um lugar. Precisamos mudar essa mensagem e espalhar além da nossa bolha para dar a possibilidade das meninas transitarem e fazerem o que elas quiserem.

A maternidade mudou a sua relação com o trabalho?

LG: A mudança, para além da minha filha, é para mim. Eu estou até com mais pressa de fazer as coisas, tenho
menos postergação. Eu quero um futuro melhor para a minha filha, mas antes pra mim. Se eu trabalhar aqui para ter um hoje melhor o futuro dela vai ser melhor ainda. A gente não pode demorar para resolver questões que já deviam ter sido resolvidas. Não dá para postergar mais. Isso me fez ser mais criteriosa nas minhas escolhas para acelerar essas mudanças.

É necessário envolver todo mundo nesse processo de mudança?

LG: Sim! A gente precisa encarar essas lutas sem negligenciar o lugar de fala e protagonismo de quem sente isso na pele. Mas ao respeitar, entenda que o nosso lugar é lutar junto. É algo que não afeta só a mim, mas toda a sociedade. Quando você tem mulheres negras altamente capacitadas, seja pela academia ou vivências que tiveram, e não consegue projetar para elas oportunidades, todo mundo perde.

Qual a importância de criar crianças antirracistas?

LG: Fundamental e tem que começar com os adultos. Muitas vezes delegamos para as crianças, mas e você, pai ou mãe? Estão lendo mais sobre o assunto? Dentro do vocabulário, estão reduzindo as microagressões e piadas? Se você vê cor, vai passar isso para seu filho. A educação antirracista é emergencial para pais e rede de apoio para ajudar as crianças no processo de se letrarem e chegarem na adolescência e vida adulta com uma nova percepção.

Luana e o marido curtindo um passeio em família (Foto: arquivo pessoal)

Como os pais podem fazer essa educação dentro de casa?

LG: Assim como fazemos lista de mercado, também podemos fazer nossa lista de itens a seguir pela causa antirracista. No Instituto, criamos um Manifesto para que as pessoas possam ter um grupo de questões para se envolver no dia a dia. É como uma inspiração, um mantra. Deve ser um assunto do branco e do negro.

O que você espera ensinar para a sua filha?

LG: Eu já estou ensinando. Tenho muitos livros em casa mostrando figurinhas, comprei um que ela consegue ver
menina com cabelo parecido. Converso com muitas mães que estão em outras fases e elas falam da necessidade de
levar o assunto para dentro de casa, com profundidade. Minha mãe lá atrás, desde muito cedo na escola, tinha
essa questão incisiva de quando eu estava cabisbaixa ela trazia o assunto com profundidade. Quero levar para minha filha conforme a idade explicando da vida, referência e mercado de trabalho.

Como acredita que será no futuro?

LG: Não tenho expectativa de viver em uma bolha, que pela mãe dela falar sobre isso, ela não vai sofrer racismo, mas vou mostrar referências, ter contato com elas, transitar por vários lugares para minha filha entender que o homem e a mulher negra não estão apenas em um lugar. Quero justamente mostrar que há multiplicidade para que a história dela possa se construir em cima disso.

Para você, família é tudo?

LUANA GÉNOT: Sim. Parece clichê, mas é tudo, seu apoio material e imaterial. Material no abraço, toque e imaterial na troca de energia. Uma troca de olhar com minha filha é tudo que preciso para começar o dia. Nossa família já era unida e com a pandemia estamos ainda mais. Estar próximo trocando essa energia é muito importante.


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