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Coronials: os desafios de pais e filhos que (re)nasceram na pandemia

O termo coronials surgiu a partir de um trocadilho com millenials - Freepick
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Publicado em 05/02/2021, às 15h17 - Atualizado em 29/03/2021, às 14h34 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco


No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia do novo coronavírus no mundo. Naquele momento, ninguém sabia que tanta coisa ia mudar em tão pouco tempo e como, de modo geral, as pessoas seriam afetadas por essa transformação.

Em meio a tantas mudanças, quem recebeu a notícia do teste positivo de gravidez em algum momento do segundo semestre de 2019 ou no começo de 2020 não imaginava o que iria encontrar pela frente: passar pela experiência da maternidade ou paternidade em um momento tão delicado. Essa geração de bebês nascidos durante a pandemia ganhou um nome próprio: coronials, ou Geração C.

O termo vem de um trocadilho feito a partir dos millenials. Apesar de soar como brincadeira, o nome representa um marco na sociedade do século XXI, já que a virada de gerações geralmente é marcada por momentos históricos, não podendo ser diferente em tempos de pandemia.

O termo coronials surgiu a partir de um trocadilho com millenials (Foto: Freepick)

Baby boom?

Com a chegada do isolamento sociale as pessoas trabalhando em esquema de home office, surgiram nas redes sociais especulações de que poderia acontecer um “baby boom” no Brasil e no mundo, como aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, em que países, como os Estados Unidos, se depararam com um súbito aumento de natalidade. Mas do início da pandemia até o final de dezembro, segundo um levantamento realizado pela Pais&Filhos, foi possível notar uma queda, apesar de pequena, no nascimento dos bebês da geração coronials. Atualmente no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia, o tempo médio para o nascimento de um bebê é a cada 20 segundos.

Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, não houve um aumento pela procura de pré-natale registro de nascimentos neste período. “A taxa de natalidade antes da pandemia, por conta do medo do coronavírus, foi afetada com a diminuição do número de gestantes”, explica o Dr. Flávio Tanesi, obstetra do centro médico, pai de Patrícia, Renata e Flávia. Já segundo o Hospital Moinhos do Vento, que fica em Porto Alegre, de 2019 para 2020, houve uma queda de 3,3% na taxa de natalidade. De acordo com o Chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento, Edson Vieira da Cunha Filho, pai de Bibiana e Martín, será apenas em 2021 que veremos estes reflexos. “Creio que a natalidade de uma forma geral não venha a mudar, pois estes dois lados expostos acabaram se anulando e equilibrarão o número final de nascimentos, mas apenas o ano de 2021 irá nos prover esta resposta correta”, comenta.

Raphael Garcia Moreno Leão, coordenador da Ginecologia e Obstetrícia do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama (HMCG), uma das unidades que integram o grupo Leforte, comentou que o número de nascimentos também teve uma queda discreta em 2020 quando comparado a 2019. “Mas, precisamos considerar que no Brasil, a taxa de natalidade vem caindo ao longo dos anos: passou de 20,14% em 1995 para 13,69% em 2020. Por isso, não é possível concluir que a queda ocorreu por conta da pandemia”.

Para a Dra Graziela Lopes Del Ben, Chefia Médica da Neonatologia e UTI Neonatal-Hospital Maternidade São Luiz, filha de Mariluci e José, a queda da taxa de natalidade também se tornou evidente desde 2016. Mas, “no período entre início da pandemia até momento atual observamos uma redução no número de nascimentos, mais acentuado no 2º semestre. Contudo, ainda não há dados ou evidências que demonstrem uma relação direta entre redução dos nascimentos e a Covid19 como causa direta e única. Neste contexto, a redução pode ser multifatorial:

  • 1. O aparecimento de uma doença nova como a Covid-19, com alto índice de contágio e desfecho desfavorável em alguns grupos determinando isolamento social e distanciamento físico
  • 2. Fatores socioeconômicos
  • 3. Fator desemprego e perda de seguro saúde
  • 4. Fatores emocionais e psicológicos: o “temor” de uma doença nova e suas repercussões fetais e neonatais não totalmente conhecidas”.

Nascidos na pandemia

Para as mulheres que estiveram grávidas neste período, os desafios não foram fáceis, principalmente ao ficarem longe da família em um momento em que se precisa de tanto apoio. Mãe de primeira viagem, Yaskara Santos, viveu na pele o que é estar grávida durante uma pandemia. Em meio a tantos medos, o principal deles foi de como seria o desenvolvimento do filho, Alyson. “Foi um momento bem difícil, pois houve o medo de contrair o coronavírus e prejudicar, de alguma maneira, o meu bebê. Houve incertezas e também a insegurança de como estaria o país quando ele de fato chegasse”. Felizmente, por morar junto dos pais e das irmãs, ela relatou o momento do pós-parto como algo mais tranquilo. “Tive muito apoio da minha família, então foi algo de extrema importância e que fez toda a diferença”.

Nanna Pretto, mãe de Gabriel, Rafael e Luisa, jornalista, colunista e embaixadora da Pais&Filhos, também precisou se redescobrir em tempos de coronavírus, principalmente quando a caçula estava a caminho. “Descobrimos lá no início, em abril, e não sabíamos absolutamente nada sobre gravidez e coronavírus“, lembra. “Então, eu fiquei completamente isolada e a minha família também. E mesmo assim, meu filho mais velho e o meu marido pegaram covid-19 em junho. Estávamos na mesma casa e foi tudo muito tenso, mas eu e o Rafael continuamos imunes”.

Durante esse momento em casa, Nanna sentiu muita falta da família, mas agradeceu por todo acolhimento que teve da sogra e do sogro. “Essa foi a única rede de apoio que eu tive. Os meus pais, por exemplo, que não moram em São Paulo, não me viram grávida, as minhas irmãs também não. As minhas cunhadas foram me ver grávida só depois de um tempo. Eu não tive muitos encontros durante minha gestação com a família e os amigos e isso é muito ruim, porque você está gerando uma vida e precisa ficar longe de outras que você também ama”.

Lições do presente

Assim que a pandemia começou, Yaskara que ainda estava grávida, lembrou dos momentos de insegurança que hoje foram preenchidos pela tranquilidade e pelos sonhos que tem para o filho. “Me senti insegura em diversos momentos por não saber como eu iria lidar com a chegada de um bebê num momento como esse. Não sabia como seria ter que passar pelo parto sozinha ou quando ele nascesse. Senti medo de acontecer o pior”, lembrou. “Felizmente, esse sentimento mudou e me sinto mais tranquila e preparada para lidar com tudo. Aos poucos fui me adaptando às mudanças”.

As famílias procuraram mais por terapias online durante a pandemia para cuidar da saúde mental, principalmente na gravidez (Foto: iStock)

Luisa, filha de Nanna, veio ao mundo para ressignificar todo o carinho e amor necessário em tempos de pandemia. “A Luisa ainda tem 45 dias, então tudo é novo. É um processo de conhecimento para todos, seja conhecendo a Luisa, ela nos conhecendo e ainda todo o autoconhecimento. A minha filha e o redescobrimento da nossa família é o legado da pandemia. Diante de tudo de ruim, eu tento olhar para a felicidade que estamos vivendo com a chegada dela”.

Os sentimentos da família

Ronaldo Coelho, psicólogo e psicanalista, filho de Ademir e Wania, explica que cuidar da saúde mental também é um gesto de carinho e faz toda a diferença, principalmente durante este primeiro momento com o bebê. “É como beber água, é importante sempre! E beber água é cuidar da saúde. Cuidar da saúde mental não é só fazer terapia ou tomar medicações, é cuidar de dormir bem, de ter um sono restaurador, de ter uma rotina que seja sustentável, que não seja demasiado estressante, é ter um tempo para cuidar de si, das relações significativas na vida, cuidar dos sentimentos e de tudo o que angustia e faz sofrer, ter um tempo para o lazer e para o descanso. Então, num momento em que um bebê chega, vem um turbilhão de emoções e uma dimensão enorme de trabalho que precisa ser dividida pelo casal de modo a organizar a rotina deles. Negociações de tempo, espaço e tarefas, direitos e deveres de cada um na relação. Tudo isso é extremamente estressante. Por isso, os cuidados com a saúde mental também devem ser redobrados”.

Já para a pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria, especialista em Emergências Pediátricas pelo Instituto Israelita Albert Einstein, Dra. Francielle Tosatti, filha de Mari e Vilson, talvez nunca tenha havido um momento tão importante para falar sobre a saúde mental parental como esse. “Compartilhem seus pensamentos, sentimentos, suas dúvidas e angústias, suas alegrias e expectativas, seja um com o outro, com um amigo, com um terapeuta, escrevendo um diário ou até mesmo cantando em voz alta aquela música que fala contigo! É sobre você se sentir bem com você mesmo! E isso irá refletir no bem estar do seu bebê”.

Segundo Edson Vieira, aconteceu um aumento nos consultórios on-line de psiquiatras e psicólogos durante a pandemia. Entre as principais causas de procura pela ajuda de um especialista, ele cita: “Aumento na incidência de depressãopor pessoas que perderam seus bens e investimentos, stress pós-traumático pela perda de familiares, ansiedade e fobias decorrentes do isolamento social, burn-out por trabalho excessivo nos três turnos gerados pela necessidade de cuidar das crianças que ficaram em casa durante o dia e o terceiro turno gerado por esta demanda à noite (além do excesso de lives, programas, palestras, reuniões que surgiram em virtude do distanciamento)”.

O que fica no futuro?

Algo que ainda vem a ser discutido pelas famílias é se os coronials terão ou não características comportamentais e psicológicas resultantes da pandemia. Outro ponto relevante é: o afastamento dos parentes e amigos próximos, além de um menor contato com o ambiente externo pode ter algum tipo de consequência? “É impossível predizer qual o impacto que esse momento histórico pode ter nesta geração, mas é importante que se possa atentar para alguns fatores. O fato do bebê ter apenas os pais como figuras mais próximas, contato reduzido ou inexistente com outras crianças e o próprio ambiente doméstico como sendo o lugar onde se convive intensamente, onde se estabelece o único espaço seguro de exploração, pode ter efeitos no desenvolvimento das crianças. O que ainda não sabemos é se eventuais atrasos serão facilmente recuperados no futuro ou se eles irão gerar crianças mais medrosas, que possuem mais dificuldade em explorar e arriscar, ou com maiores dificuldades nas relações interpessoais. Mais do que sermos deterministas, seria importante tomarmos uma postura de cuidado com essas dimensões, pois o determinismo pode em si ser o olhar que estereotipa e produz o sujeito”, explica Ronaldo Coelho.

Com o afastamento social, os avós, uma das principais redes de apoio das famílias, também sofrem junto com esse momento, além de uma série de preocupações extras relacionadas à pandemia. “Não participar desse momento e das vidas dos netos diariamente causa uma tristeza imensurável para os avós, que podem, inclusive, abrir quadros de ansiedade e depressão. Por isso, muitas famílias tem buscado por soluções”, comenta Francielle Tosatti.

Por outro lado, o psicanalista lembra ainda sobre a ansiedade dos avós quererem ajudar fisicamente neste momento, mas serem impedidos devido ao isolamento, causando angústias. “No caso dos avós que querem estar próximos de seus netos e ajudar a cria-los, fazer parte de seu processo de desenvolvimento, esses são os que mais sofrem quando não podem estar juntos. Sofrem por se angustiarem em não poder ajudar nos cuidados que sabem ser pesados e também pelo lado emocional de sentirem que estão perdendo um momento importante que não vai retornar”.

Os coronials vieram para ressignificar um momento histórico e trazer esperança (Foto: Getty Images)

Os netos, por um outro lado, também podem transformar a vida dos avós, principalmente os coronials, que chegaram em um momento de extrema sensibilidade e transformação, como foi na família da Nanna. “A vinda da Luisa ressignificou a vida da minha sogra e do meu sogro, porque os avós estavam muito sentidos de não terem os netos e a presença de todos em casa e o fato de ter a primeira neta chegando, deu uma ressignificada na necessidade deles se cuidarem para se preparar para o nascimento dessa neta. Então a vinda da Luísa foi muito importante”.

A relação deve continuar

Como uma alternativa para unir a família e estar presente, mesmo que de longe, os pais ainda tem investido no contato virtual, que também é uma forma de carinho e cuidado. “O contato, ainda que virtual, é recomendado, necessário e fundamental tanto para os avós, como para os pais e os netos. O conceito de ‘micro bolha‘ tem funcionado muito bem em diversas esferas, porque não poderia ser aplicado na esfera familiar? Algo para cada família refletir! Os pais, já devem estar com os cuidados em dia pela chegada do bebê, praticando o isolamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos, que são atitudes que também protegem os avós. Nesse conceito, cabe a cada família a consciência de viabilizar a existência da sua bolha, assumindo todos os cuidados um pelo outro, que devem ser mantidos durante os encontros”, conclui a pediatra.


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