Publicado em 07/10/2020, às 11h47 - Atualizado às 12h14 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Durante a gravidez, a ligação entre mãe e filho acontece pela placenta, garantindo a troca de oxigênio e sangue, carregando anticorpos e retirando as impurezas. Em alguns casos, no final da gestação, pode acontecer o acretismo placentário ou placenta acreta, que apesar de raro, é importante ficar de olho e saber tudo sobre o assunto.
Cláudia Fernandes Lopes, de 53 anos, sempre teve o sonho de ser mãe e durante a gravidez de Anthony, atualmente com 10 meses, ela enfrentou diversos desafios. No processo de fertilização, por ser uma gestação de alto risco, a mãe passou por seis cirurgias, por conta de miomas e pólipos recorrentes.
“Minha médica de reprodução humana, a Dra Eliana Morita, que também é obstetra de alto risco e além de ter conseguido me engravidar fez meu pré-natal e parto, sabia que eu tinha grandes chances de ter placenta acreta, mas preferiu não comentar por conta da gravidez de alto risco e diabetes gestacional. Eu nem sonhava com essa possibilidade, já que nunca tinha ouvido falar nesse problema”, comentou em entrevista à Pais&Filhos.
Para tirar todas as dúvidas do assunto, conversamos com a Dra. Eliana Morita, especialista em Reprodução Humana, Gestação de Alto Risco e ultrassonografia da Clínica de Fertilidade Hinode, sobre o que é o problema, quais são os riscos e se existe algum tratamento.
“A placenta acreta é uma placenta de aderência anormal, como se criasse “raízes” para dentro do útero em busca de uma melhor vascularização. Normalmente, ela se descola facilmente logo após o parto, mas nos casos de acretismo é preciso a intervenção manual do médico, o que pode resultar numa intensa hemorragia pós-parto. O quadro de placenta acreta pode ser suspeitado nas ultrassonografias durante a gestação e confirmado através de Doppler ou ressonância magnética”, explica.
Na maioria dos casos, não existem sintomas específicos para identificar o problema. Mas, em mulheres que passaram por curetagens, cirurgias uterinas como, por exemplo, miomectomia, e que tenham adenomiose, miomas submucosos ou lesões endometriais “possuem um risco aumentado para o desenvolvimento de acretismo placentário”. Apesar dos sintomas não serem perceptíveis na gestante, quando existe a placenta prévia pode acontecer a perda de sangue no final da gestação.
A intervenção, feita sempre de forma cirúrgica, pode causar hemorragia no parto. “Se muito aumentada, pode colocar a vida da mulher em risco e, nesses casos, é preciso intervir rapidamente através da histerectomia (retirada do útero) a fim de estancar o sangramento. Para o bebê, o risco maior é o de prematuridade, principalmente nos casos graves de acretismo, já que a cesárea precisa ser antecipada”.
“Se a mulher pretende engravidar novamente, o risco de um novo cenário de acretismo é aumentado em comparação a população em geral. Nesse caso, essa paciente deve ser informada quanto aos riscos para uma próxima gestação”, comenta.
Infelizmente, em casos de acretismo, a perda da capacidade de contração do útero é frequente. Se associado à atonia uterina, ou seja, quando o órgão fica incapacitado de se contrair sozinho, existe um risco grande de hemorragia. Nestes casos, a obstetra reforça que a atuação médica deve ser “rápida e decisiva”.
No caso de Claudia, a médica apontou como uma condição incomum, apesar da gravidez planejada. No dia em que foi para o hospital, com 36 semanas de gestação, foi descoberto sinais de que a placenta poderia parar, trazendo ainda mais riscos. “No dia que completei a 37ª semana, um novo ultrassom detectou que a placenta estava cheia de trombos e poderia parar a qualquer momento. A Dra. Eliana decidiu marcar a cesárea para aquela noite mesmo”, contou a mãe.
Durante a cirurgia, os momentos de medo tomaram conta: “O parto começou por volta das 22h40 e o Anthony nasceu às 23h31. Foi durante essa espera que senti que alguma coisa estava errada. Perguntei porque o Anthony estava demorando e ela me explicou sobre a placenta acreta. Na verdade, ela estava tendo dificuldades em desprender algumas partes da placenta do meu útero. Mas quando ela colocou o Anthony em cima do meu peito fui inundada de uma sensação de felicidade”.
Quando tudo parecia estar bem, Claudia teve mais um susto. Logo após o parto, Anthony foi levado para uma ala ao lado e ela percebeu todas as gases repletas de sangue. “Na tentativa de salvar meu útero, a Dra Eliana colocou a mão dentro da minha barriga e o massageou por 40 minutos tentando fazer com que ele se contraísse novamente. Como não conseguiu, ela resolveu fazer um procedimento diferente e o retirou da barriga para dar uns pontos. Foi isso que fez com que ele voltasse ao normal e ela pudesse me fechar. Foi sem dúvida uma noite de muita emoção, que jamais esquecerei”.
Hoje, com a intenção de ajudar outras mães, Claudia criou o Instagram @fertilizacaoaposos40 e deixou um recado especial para quem também passou por isso: “De esperança e otimismo. se mantenham firmes porque o filho nos braços vai fazer tudo ter valido a pena. Aliás, aproveito também para deixar uma mensagem para as mulheres mais velhas que ainda tentam engravidar e para as que estão também grávidas e enfrentando o alto risco: façam todos os exames necessários, busquem médicos competentes e redobrem os cuidados que tudo vai dar certo. Não desistam do seu sonho de serem mães por medo de enfrentarem uma gravidez de alto risco ou até uma placenta acreta, como no meu caso. A medicina está avançada e o universo conspira a favor das mães”.
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