Criança

Como a Teoria das Múltiplas Inteligências pode ajudar a relação do seu filho com os estudos

Cada criança apresenta uma forma própria de pensar, com suas aptidões e habilidades - iStock
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Publicado em 25/11/2022, às 12h16 - Atualizado às 12h47 por Fernanda de Andrade, filha de Débora e Marcos


Que atire a primeira pedra quem nunca teve alguma dificuldade durante a época da escola, quem nunca passou dias, semanas e até meses estudando para uma prova em que sabia que tinha dificuldade, enquanto o colega que recapitulou o conteúdo na véspera da avaliação conseguiu uma nota muito maior. Essa diferença na aptidão de matérias é uma parte comum dos anos escolares e pode até mesmo ser frustrante para alguns alunos.

Cada criança é única da sua própria maneira, e isso reflete no desempenho dela na escola. Já percebeu como aquela criança que apresenta uma grande dificuldade nas aulas de educação física consegue escrever redações impecáveis? Ou aquela que não entende muito bem as matérias de ciências faz desenhos incríveis? Todos os exemplos de crianças estão juntos na mesma sala de aula da mesma escola, e por mais que não tenham as mesmas facilidades e habilidades, elas muitas vezes são cobradas da mesma maneira nos mesmos quesitos.

Criança montando blocos
Cada criança apresenta uma forma própria de pensar, com suas aptidões e habilidades (Foto: iStock)

Essa diferença no desempenho, principalmente nas matérias tidas como mais importantes, pode afetar a autoestima da criança dependendo do contexto familiar dela: “Isso sempre vai depender da forma que os pais lidam. Eu, como criança, ao olhar para o meu lado, e ver que as crianças estão se desenvolvendo de forma diferente que a minha, não afeta a minha autoestima. Mas quando existe muito julgamento de que outro aluno, por tirar notas melhores, por saber mais, é melhor do que eu, vai interferir na autoestima da criança”, disse a psicóloga, arteterapeuta e arteeducadora Bianca Sollero, mãe de Elisa e Felipe, “Se a família reitera que as pessoas que tiram notas mais altas são melhores do que as outras, a autoestima dela vai ficar completamente abalada”. 

As notas e falta de aptidão em alguma área não significa falta de inteligência, e sim que a inteligência da criança está em âmbito diferente. A Teoria das Múltiplas Inteligências de Howard Gardner diz que cada pessoa tem a sua própria inteligência, existindo nove delas. O Pós PhD Neurocientista Fabiano Abreu Agrela, pai de Nicolau e Gabriela, explicou melhor a Teoria das Múltiplas Inteligências: “Gardner teorizou que as pessoa não têm apenas uma capacidade intelectual, mas diversos tipos de inteligência, incluindo a musical, lógico-matemática, espacial, corporal e cinestésica, intrapessoal, interpessoal, naturalista e linguística”. Voltando para o mundo da educação, é possível entender que cada criança se encaixa em sua própria (ou próprias) inteligência, como se fossem “caixinhas”. Mas não de uma forma limitante, mas de maior aptidão.

Colocando os pingos nos I’s 

Existem nove inteligências na teoria de Howard Gardner: Lógico-Matemática, Linguística, Visual-Espacial, Corporal-Cinestésica, Musical, Interpessoal, Intrapessoal, Naturalista e Existencial. Vamos nos aprofundar em cada uma delas. 

Lógico-Matemática

Você lembra daquele colega que sempre aprendia muito mais rápido que os outros durante as aulas de exatas? Provavelmente ele fazia parte desta “caixinha”. As pessoas que se encaixam nesta inteligência têm uma maior aptidão com raciocínios dedutivos e os (temidos) conceitos matemáticos. Aquela equação de segundo grau que grande parte dos alunos quebrou a cabeça para resolver aos 12 anos foi apenas um exercício de rotina para a pessoa da caixinha Lógico-Matemática. 

Linguística

O tipo de inteligência linguística é voltada para o mundo da comunicação. A criança que tem uma facilidade maior para se comunicar com o ambiente em sua volta, na leitura e na escrita certamente pertence a esta caixinha. Muitas vezes aquele aluno que sempre vai bem na aula de português e escreve redações sem praticamente defeito algum apresenta uma aptidão no aprendizado de outros idiomas também!

Visual-Espacial

A inteligência Visual-Espacial é muito ligada aos artistas e pessoas que conseguem passar para o papel exatamente o que vêem ou sentem. Por meio de formas, cores, texturas e até mesmo espaço físico, elas encontram uma certa facilidade em criar, recriar e interpretar imagens diante de si. Além das aulas de artes, é possível que crianças desta “caixinha” também tenham tido mais aptidão nas aulas de geografia.

Corporal-Cinestésica 

As crianças que se encaixam nesta inteligência possuem uma facilidade enorme no controle do próprio corpo, movimentação. Elas conseguem ter movimentos precisos e habilidades para se movimentar exatamente como pedido. Aquele seu amigo que é ótimo em esportes é um exemplo da inteligência Corporal-Cinestésica. Além dele, um cirurgião, que conta com movimentos precisos como ferramenta de trabalho, também faz parte desta “caixinha”!

Musical

A inteligência Musical, como o nome já diz, consiste na aptidão ao mundo da música, na capacidade de uma pessoa em conseguir aprender, diferenciar e interpretar diversos padrões, notas, ritmos, timbres e melodias. Aquela criança que passa o dia “batucando” com  os dedos na mesa da escola, ou tem facilidade em aprender novos instrumentos, aprender notas musicais… certamente ela faz parte do tipo de inteligência Musical. 

Interpessoal

Parecida com a Linguística, a inteligência Interpessoal foca especialmente na área de se comunicar com as pessoas no ambiente a sua volta. A pessoa que está dentro desta caixinha consegue ter relações com os outros como ninguém. Ela compreende, consegue fazer negociações e sabe persuadir quando necessário. Lembra do seu amigo de escola que sempre ocupava o cargo de representante de sala? Provavelmente ele se encontra neste grupo!

Intrapessoal

Essa inteligência e a inteligência anterior têm nomes muito parecidos, mas não confunda! Como a Interpessoal é voltada “para fora”, a Intrapessoal é voltada “para dentro”. É uma habilidade de entender a si próprio (a famosa inteligência emocional), os seus sentimentos e como você age de acordo com eles. O autoconhecimento é uma das características dessa inteligência, e por mais que seja “voltada para si”, também está muito presente em pessoas que são comunicativas com o mundo em sua volta.

Naturalista 

Sempre conhecemos alguém que possui um dom natural com animais e com a natureza. As pessoas que se encaixam na Inteligência Naturalista conseguem ter uma relação diferenciada com o meio ambiente, fauna e flora, além de ter uma facilidade ainda maior para aprender mais sobre o conhecimento geológico. 

Existencial

A inteligência Existencial foi a última a ser considerada e “descoberta” por Howard Gardner. Assim como o próprio nome já anuncia, ela engloba pessoas que têm a aptidão de refletir sobre a existência humana, e é muito comum em quem propõe outras reflexões, como professores e filósofos.

Cérebro com setas
Segundo a teoria de Howard Gardner, existem nove inteligências em que as pessoas podem se identificar (Foto: Freepik)

Descobrir em qual(quais) “caixinha(s)” ela está dentro pode significar uma nova chance para se entender e ter uma nova relação consigo mesma. Segundo Roberta Bento, mãe de Taís e especialista na relação de família e escola, a Teoria das Múltiplas Inteligências ajudou no quesito diversidade dentro escola: “Trouxe uma enorme contribuição para a quebra do paradigma até então dominante de que pessoas inteligentes seriam aquelas que dominam os cálculos ou a escrita […] Valorizar os talentos específicos e pontos fortes de cada aluno é um caminho para conseguir um envolvimento maior dos estudantes durante as aulas, e para ajudar cada aluno a descobrir muito sobre o próprio processo de aprendizagem”.

A escola, contudo, acaba ficando para trás em meio a essas descobertas: “A educação escolar não está acompanhando a evolução. Hoje temos muitos casos de crianças com TDAH entre outros distúrbios, muitos derivados da ansiedade. Por isso, o processo tem que ser individual e não plural”, disse o Dr. Fabiano, “Em minha consultoria já lidei com crianças de altas habilidades que começaram a falar antes dos 2 anos de idade e outras que só começaram depois dos 4. Criança com 12 anos de idade que não sabe falar inglês com o QI mais alto que crianças com 4 anos falando inglês”. 

A psicóloga Bianca Sollero explicou melhor como esse “atraso” na educação pode acabar afetando a forma que a criança se enxerga: “No Brasil, o sistema educacional prioriza as inteligências Linguística e Lógico-Matemática. Portanto, se uma escola valoriza apenas essas duas inteligências, obviamente uma criança que tem uma orientação natural para outros tipos de inteligência vai se sentir inadequada. Quando temos uma escola que entende que as outras inteligências são tão importantes quanto as duas anteriores, a autoestima desta criança não será tão abalada”. Porém, ela complementa: “Infelizmente, é muito raro que uma escola ou professor consiga identificar que uma criança tenha uma inteligência fora das mais valorizadas”.

Quebra-cabeça

Mesmo que pareça uma causa sem solução, existem caminhos para ajudar cada criança a encontrar a(s) “caixinha(s)” com a(s) qual(quais) mais se identifica. “Não há dúvida alguma de que valorizar os diferentes talentos e caminhos para a aprendizagem que cada aluno apresenta é mais do que uma forma de melhorar o desempenho: é antes de tudo, atender ao direito de cada estudante […] Alunos com melhor autoestima e motivados conseguem aprender melhor e querem mais”, afirma Roberta Bento.

A mãe de Taís também explicou como as escolas podem passar a serem mais inclusivas dos diversos tipos de inteligências: “O ponto de partida deve ser a formação dos professores, para que conheçam a teoria e possam juntos construir maneiras práticas de levar para as aulas tudo aquilo que pode transformar o processo ensino-aprendizagem. […] Formar grupos de estudo e, aos poucos, inserir no planejamento das aulas os ajustes para que cada inteligência seja estimulada pouco a pouco”. Além disso, Bianca complementou alegando que é possível estimular a inteligência fora do ambiente escolar: “Existem, sim, algumas formas de se desenvolver fora da escola, mas é importante lembrar que ela é a instituição a qual cabe o conhecimento e avaliação destas habilidades para orientar os pais e mães. Apesar disso, ela não é obrigada pela Lei Nacional de Diretrizes e Bases a oferecer um bom desenvolvimento musical, por exemplo. Porém, cabe a ela como instituição que conhece o desenvolvimento humano e as pedagogias, entender que cada criança precisa desenvolver a sua inteligência”.

Quebra Cabeça
A Teoria das Múltiplas Inteligências pode ajudar o seu filho a se encaixar melhor (Foto: iStock)

Fora isso, o doutor Fabiano Abreu Agrela deu alguns caminhos para o melhor desenvolvimento das inteligências em um geral: “O melhor estímulo é a leitura, também os hábitos como não dormir tarde, alimentação com nutrientes que ajudam na plasticidade cerebral, prática de exercícios físicos e usar o mínimo as redes sociais”. Roberta Bento refletiu sobre a inclusão destas inteligências: “Ao usar o talento e maior interesse que um estudante tem pelo desenho ou música para ajudá-lo a entender conceitos matemáticos ou de linguagens, ajudamos a mudar para sempre a crença que esse aluno tem sobre si mesmo. É necessário mudar o sistema de avaliação. Não é justo cobrar que um pássaro nade como forma de provar que ele aprendeu sobre os recursos naturais do planeta. Ou que um peixe voe para conseguir uma nota que o aprove naquele ano letivo”.

Quando eu crescer quero ser…

Cada inteligência tende a seguir para uma área profissional. Veja a do seu filho!

Lógico-Matemática: Mostram habilidades na área das Ciências Exatas e da Programação.

Exemplos conhecidos: Albert Einstein, Mark Zukerbeg e Nikola Tesla.

Linguística: Pessoas que se encaixam nesta inteligência tendem a seguir as profissões como linguistas, jornalistas, escritores e palestrantes. 

Exemplos conhecidos: Machado de Assis e Cecília Meireles.

Visual-Espacial: Alunos que pertencem a esta inteligência muitas vezes buscam ser arquitetos, profissionais de moda, escultores, engenheiros, cartógrafos e geógrafos. 

Exemplos conhecidos: Coco Chanel e Oscar Niemeyer.

Corporal-Cinestésica: Esta inteligência está ligada a diversas áreas: atores, cirurgiões, esportistas e dançarinos. 

Exemplos conhecidos: Meryl Streep e Ana Botafogo.

Musical: Todas as pessoas que estão relacionadas ao mundo musical estão aqui, tanto na área de apresentação (como cantores, músicos e DJ’s) quanto na avaliação e ensino (críticos musicais, diretores musicais e professores de música). 

Exemplos conhecidos: Tom Jobim e Michael Jackson.

Interpessoal: As pessoas que se identificam na inteligência Interpessoal seguem para as áreas de vendas, marketing, RH, política e até líderes religiosos. 

Exemplos conhecidos: Silvio Santos e Papa Francisco.

Intrapessoal: Pessoas que são da inteligência Intrapessoal apresentam uma personalidade mais introspectiva, sensível e observadora. A filosofia, psicologia e literatura são boas áreas para seguirem. 

Exemplo conhecido: Machado de Assis (Lembra quando falamos que uma pessoa pode se encaixar em mais de uma inteligência?)

Naturalista: Biólogos, agricultores, engenheiros florestais, oceanógrafos… Todos eles se encaixam nesta inteligência. 

Exemplos conhecidos: Chico Mendes e Charles Darwin.

Existencial: Profissões que instigam a curiosidade e questionamentos em outras se encaixam aqui, como sociólogos, professores, filósofos e líderes religiosos. 

Exemplos conhecidos: Simone de Beauvoir e Gabriel Marcel.

Fonte: Instituto Brasileiro de Coaching


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