Publicado em 03/08/2021, às 12h15 - Atualizado às 18h44 por Andressa Simonini, Editora-executiva | Filha de Branca Helena e Igor
O sonho da gravidez nem sempre é acompanhado pelas expectativas que criamos. Engravidar não é fácil para todo mundo. É preciso falar sobre isso para não sobrecarregar a carga emocional dos parceiros, principalmente da mulher. Uma das principais causas para o aborto espontâneo e de repetição é a trombofilia.
Para tirar algumas dúvidas sobre essa causa, convidamos a Doutora Regina Biasoli, mãe de Beatriz, que é especialista em trombofilia, principalmente em fase gestacional de mulheres com histórico de abortos de repetição, para esclarecer algumas questões.
Além disso, ela trabalha lado a lado com pacientes que passam por falhas de fertilização in vitro, pré-eclâmpsia, trombose e história gestacional de déficit de crescimento intra-uterino (Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide). São muitas causas que podem distanciar a mulher do sonho de ter filhos, mas a boa notícia é que tem solução na maioria dos casos. Isso se acompanhado de profissionais bons e qualificados.
REGINA BIASOLI: A trombofilia é uma designação, não é uma doença. É um termo que quer dizer que aquela pessoa tem uma vulnerabilidade maior para formar trombose em situações de risco. Existem vários tipos de trombofilia e preocupações com o trombofílico: ele vai poder estar exposto a um fator de risco como viagens longas de avião, a gestação, a obesidade, o parto, pós-operatórios diversos de diversas especialidades.
Então essas situações são gatilhos para um trombofílico poder criar uma trombose, e pode ser em qualquer local do corpo: pode ser perna, pode ser no pulmão, que é a embolia pulmonar, pode ser no cérebro, que é o Acidente Vascular Cerebral (AVC), mais conhecido como derrame. Então tudo depende do tamanho do entupimento que é formado, que a gente chama de trombo, e onde ele vai parar.
RB: De um vaso sanguíneo. Você imagina um cano de água com sujeiras que vão se unindo e entopem a via. É exatamente isso que é a trombose. Então essa sujeira que entupiu o cano, que é o vaso sanguíneo, é o trombo.
Então essa é uma condição que pode ter inúmeros desfechos na vida de uma pessoa, de trombose à AVC. Uma trombose na perna, que é rápida, que é visível, que o paciente sente dor, que dá tempo de ir até um hospital, e até um AVC gravíssimo que não dá tempo ou uma embolia pulmonar que não dá tempo.
Só que especialmente na fase da gestação, as trombofílicas têm um risco maior de abortamento, porque a trombofilia é um termo para inúmeros tipos, mas que se dividem basicamente em dois grandes grupos: aquelas trombofilias que a gente herda de pai e mãe e aquelas trombofilias que a gente adquire durante a vida.
RB: A maioria das trombofilias, realmente a maioria, é hereditária. Mas essa parcela de trombofilia adquirida, que como a gente adquire durante a vida, estamos falando de anticorpos, estamos falando do sistema imune, da mesma forma como você adquire um anticorpo quando você toma uma vacina você pode formar esses anticorpos da trombofilia.
A medicina explica muito pouco como é que eles surgem, mas eles podem surgir desde a infância. Os anticorpos com crianças que têm muita infecção de garganta, fazem uso de muito antibiótico, é uma situação já clássica e bem confirmada na medicina, mas esses anticorpos podem surgir em qualquer momento da vida, depois de um tratamento com antibióticos, ou depois de uma gravidez. A própria gestação é um gatilho para a formação desses anticorpos. Essa trombofilia adquirida na gestação tem uma característica bastante especial: esses anticorpos entendem o feto como um corpo estranho, então eles vão fazer de tudo para a pessoa abortar. Então existem muitas mulheres com um aborto de repetição que são trombofílicas e não sabem.
RB: Sim, aí que entra a nossa especialidade no tratamento. Então essa paciente tem que ser abordada de uma forma geral para a gente entender qual ou quais trombofilias ela tem, porque conforme o tipo e a quantidade ela vai ter uma classificação de risco de trombose. A gente chama isso de estratificação de risco trombótico. Então conforme o risco dela, vai ser um tratamento diferente do outro.
Exemplo: uma gestante, que é de alto risco trombótico, que já teve abortamento de repetição, e um dos abortamento prévios, por exemplo, já mostrou que ela fez várias trombose na placenta, essa paciente vai ter que receber aquela injeçãozinha na barriga a gravidez inteira e até muitos dias depois do parto, até um máximo de 45 dias, e tem o quanto em contrapartida tem pacientes de baixo risco que tem esses anticorpos, mas não estão grávidas, que às vezes um simples ácido acetilsalicílico pode ajudar. Esse tratamento vai depender de onde essa paciente se encontra. E tem pacientes que são ainda mais graves, que precisam de mais um remédio adjuvante para aniquilar esses anticorpos.
RB: Ela é rara, mas ela existe. Eu tenho duas pacientes que eu estou me lembrando agora que são tão graves, com trombose cerebral, até com dispositivo intracraniano que o neurologista pôs para controlar uma válvula, para controlar a pressão intracraniana, e elas querem engravidar. Então é altíssimo o risco, inclusive risco até de morte para a própria mãe, não só do feto.
Em casos extremos e casos raros a gente pode até entrar com um aconselhamento para essa questão da maternidade e contra indicar, mas a maioria é possível de tratamento, é possível de acompanhamento, com um bom desfecho na maioria dos casos. Existem casos resistentes. A gente trata, tem jeito, damos o remédio, mas infelizmente a trombofilia às vezes tem muito mais força do que as medidas adotadas, e a paciente também pode abortar, mas é uma minoria.
RB: Olha eu vejo que evoluiu muito mesmo, mas ainda é um assunto de muito sofrimento. Então tem vários ângulos para a gente responder isso, primeiro do ponto de vista do paciente em termos de casal, a paciente e mais o cônjuge, é um custo emocional muito grande porque um abortamento já é muito traumático, imagina uma situação de abortamento de repetição. E se não for abortamento, se a gente for para o outro lado da balança da infertilidade, casais que tentam engravidar e não conseguem, e acabam indo para clínicas de fertilização, acabam tendo um caminho muito sofrido, um custo emocional muito alto, além do custo financeiro. Se a gente olhar pela ótica dos médicos, eu que faço muito esse tipo de patologia, eu percebo que a gente evoluiu nos tratamentos, na abordagem, na tecnologia, mas eu percebo ainda que não tanto no humanismo, porque a maior queixa das pacientes, muitas chegam para mim, se queixam da abordagem de outros médicos, com a falta de sensibilidade, de tratar abortamento de repetição como uma coisa muito simples e não causa quase nada na mulher. “Ah, então no terceiro você vem aqui que a gente pede tudo”. Porque o protocolo diz isso, “Vamos investigar no terceiro abortamento”. O médico tem que ponderar muito esse protocolo, porque tem casais que podem obedecer o protocolo tranquilamente, tem casais que chegam no terceiro abortamento e o casamento já acabou, o casal não conseguiu superar, a mãe entrou em depressão.
RB: Os dois. Vamos supor que uma trombofílica engravidou e a gravidez está avançando. A trombofilia pode causar um baixo crescimento intra-uterino da criança para o feto, a trombofilia pode ser a responsável por um quadro de pressão alta na gestação, principalmente no terceiro trimestre, que nós chamamos de pré-eclâmpsia e eclâmpsia, gravíssimo, de morbidade e mortalidade alto dependendo dos serviços, principalmente nos menos favorecidos. No pós-parto pode ser um grande risco pra mulher também. Muitos colegas que tratam a parte obstétrica só se preocupam com o antes e esquecem o pós. E aí, aquela gestante que deu à luz e teve uma trombose no pós-parto teve uma embolia pulmonar, um AVC. Cada momento da gestação e do pós parto é especial e tem que ser muito bem visto.
RB: Nós tratamos as trombofílicas. Nós damos anticoagulante no pós-parto para que isso não ocorra, e geralmente é um tratamento muito bem sucedido, costuma na maioria, quase o total dos casos dar certo, um ou outro só que a gente não consegue e existe um quadro traumático mesmo assim. Existem outras medidas que não são farmacológicas e que a paciente pode também lançar mão para ajudar na prevenção. Por exemplo: meias elásticas.
RB: São sim, as meias de compressão vão ser muito importantes nesse período de pós-parto, principalmente nesses 45 dias, e sempre ter uma hidratação muito grande. Um organismo bem hidratado já é uma grande prevenção para trombose, já é uma grande prevenção.
RB: As meias elásticas são grandes aliadas desde que colocadas corretamente, porque se a pessoa não colocar de forma correta, elas têm efeito contrário, e acabam piorando a parte vascular. A maneira certa de usar é quando você deixa as meias elásticas no criado mudo, acorda de manhã, e antes de colocar o pé no chão, você coloca as meias para depois levantar. A ideia é a seguinte: a partir do momento que você pisou no chão e levantou, toda a sua malha vascular, toda a sua vasculatura, os seus vasos sanguíneos, já sofreram ação da gravidade, e já tiveram uma micro dilatação. Então você não pode colocar uma pressão de uma meia em cima de um vaso que já está um pouco dilatado. Se caso você levantar e quiser tomar um banho, por exemplo, a orientação para as pessoas que precisam usar a meia elástica é de que haja um descanso de pelo menos 20 minutos a meia hora depois do banho, para que elas sejam colocadas. Mais importante que isso, o descanso com as pernas bem pouco elevadas.
RB: Não, não, em torno de 30 a 45 graus, que dá uma almofada boa, uns dois travesseiros. Porque se você colocar as pernas lá para cima você fecha o quadril, você fecha o ângulo da perna com o quadril. Então são pequenos detalhes que fazem muita diferença.
RB: Então, o que a gente tenta orientar com o protocolo é que esse tipo de investigação seja sempre feito quando existe algum real motivo. Se teve os abortamentos, se tem alguém na família com trombofilia e de repente vale a pena pegar o exame do familiar e levar à um hematologista para poder ver se é cabível. Pedir todo o perfil de exames para as pessoas que tiveram realmente qualquer tipo de trombose é obrigatório.
RB: Não pelo aborto. Ela tem que ela tem que ter uma conversa muito clara com o obstetra dela e com o hematologista para ver se naquela situação cabe a pesquisa da trombofilia ou não, porque se a gente colocar uma coisa de fluxograma, protocolo, a gente fecha os olhos para qualquer paciente, não olha a vida que ela tem e faz uma coisa mundial, a indicação é depois do terceiro aborto, mas se tiver que fazer esse diagnóstico desde o início muita coisa tem que ser vista, porque, por exemplo, um primeiro abortamento, um único abortamento, várias são as causas, não é só trombofilia, então pode ser até uma causa genética, que às vezes é possível, dá tempo, existe uma condição hospitalar de mandar esse material do aborto para exames mais aprofundados e se descobrem às vezes síndromes genéticas que realmente não teria como aquela gravidez ir para frente. E uma outra causa também é um motivo imunológico. Então veja, não é só trombofilia. Então, a partir do momento que existem esses exames, que se analisar muito a história familiar da paciente, então aí sim pode ser que haja, sem dúvida nenhuma, casos de exceção.
RB: Não, aborto não é causa de trombofilha de ninguém. É o contrário, a trombofilia adquirida que causa o aborto.
RB: Agora uma gestação normal, por exemplo, uma mulher que nunca abortou e tem uma gestação normal, essa gestação, a gestação sim por si só, por ser uma fábrica, uma metralhadora de hormônios, de anticorpos, tudo, pode favorecer o aparecimento desses anticorpos.
RB: É, em alguns casos a gravidez é a causa, só que nós não temos exame para provar isso, vamos por uma dedução. Essa mulher nunca teve nada, teve até filhos normais e de repente numa gestação tudo aconteceu.
RB: Olha, a pré-eclâmpsia é um processo. A pressão começa a aumentar, daí a importância do pré-natal, porque é ali que começa a se verificar que a pressão arterial daquela mulher está aumentando. Então o pré-natal é o maior facilitador desse diagnóstico.
RB: Fundamental, fundamental.
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