Publicado em 19/09/2023, às 12h05 - Atualizado em 22/09/2023, às 14h11 por Mayara Neudl, Estagiária | Filha de Lidia e Rogerio
Uma mulher de 42 anos, casada, com duas filhas, realizada profissionalmente e no auge de sua carreira. Foi nesse cenário, durante uma viagem internacional que concretizava o sucesso de um projeto liderado por ela, que Helaine Capucho se viu sem conseguir parar de chorar – e finalmente entendeu que precisava de ajuda profissional para cuidar de sua saúde mental.
Helaine é farmacêutica, com especializações, mestrado e doutorado em sua área, professora na Universidade de Brasília e mãe de Milena e Catarina, de 8 e 6 anos de idade. Quando tudo aconteceu, há dois anos, era o início da segunda onda da pandemia de Covid-19, e ela havia sido convidada para gerenciar a área de farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
“Virando noites e trabalhando sem dia e sem hora, para analisar as vacinas e colocá-las no mercado”: essa passou a ser a rotina de Helaine, que além do trabalho, tinha que lidar com a carga emocional que a pandemia causou, sem poder sair de casa e sendo ainda mais exigida enquanto mãe, já que ajudava na educação à distância e nos cuidados das filhas. Tudo isso culminou em crises de choro, dificuldade de concentração, exaustão e enjoos.
Ela também percebeu outros sintomas: perda das palavras técnicas – que a impedia de exercer sua atividade profissional com segurança –, falha na memória, isolamento social até mesmo familiar, muita vontade de dormir – às vezes no meio do dia, o que não era comum para ela –, problemas gastrointestinais como diarreia e enjoo, e dificuldade na fala e de concentração.
Helaine procurou ajuda psicológica e psiquiátrica, e recebeu o diagnóstico de burnout. Segundo Vanessa Abdo, mestre e doutora em psicologia social, escritora, embaixadora da Pais&Filhos e mãe da Laura e do Rafael,essa condição tem origem no trabalho, mas tende a afetar todos os campos da vida. “É um estado de exaustão física, mental e emocional acumulado pelo estresse prolongado no trabalho e também em outras áreas. É uma sensação de esgotamento, de diminuição da realização pessoal. A pessoa não se sente mais ela mesma”.
Apesar de ser uma condição silenciosa, ela pode ser devastadora. “Para um diagnóstico, é preciso procurar ajuda profissional quando os sintomas são prolongados e começam a interferir na vida daquela pessoa como um incapacitante, trazendo, por exemplo, isolamento social exagerado”, explica Vanessa. De acordo com ela, psicólogos e psiquiatras são os profissionais indicados para formalizar o diagnóstico e pensar em estratégias de tratamento.
Na época, Helaine também era responsável por desmentir informações falsas vinculadas ao seu trabalho: “Eu fui para rádio, televisão, me expus para poder informar a população sobre a realidade”. Estar em evidência também colaborou para os problemas psicológicos. “Eu sofri muitos ataques nas redes sociais: ameaças, fotos da minha família rodando em sites, meu nome com tarja de perigo do lado… porque eu fazia parte do tal ‘corpo técnico da Anvisa’ que as pessoas queriam o nome”.
Helaine relata que quando passou a envolver a sua família, a pressão psicológica se agravou, o que a levou a fechar suas redes sociais. Tudo isso coincidiu com a área de atuação gerenciada por ela estar em maior evidência internacional.
Foi nesse contexto, no Congresso Mundial de Farmacovigilância, em Verona, na Itália, em que ela teve o episódio de choro: “Não conseguia entender, era um momento que eu deveria estar feliz. Minhas filhas já tinham voltado para a escola, já tinham se adaptado de novo, mas eu não parava de chorar e não conseguia entender o que era”.
A Síndrome de Burnout passou a ser reconhecida como uma doença diretamente ligada ao trabalho pela Organização Mundial da Saúde em janeiro de 2022, na décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11).
Em 2021, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) fez um levantamento que indicava que um a cada quatro brasileiros eram acometidos com a síndrome. E, ainda no mesmo ano, um relatório foi emitido pela Associação Internacional de Controle de Estresse e Tensão, a International Stress Management Association (ISMA) onde o Brasil aparece em segundo lugar no ranking mundial de casos da doença, ficando atrás só do Japão.
No caso de Helaine, com o diagnóstico veio também o afastamento do trabalho por atestado médico, o que ela relata ter sido muito difícil de lidar: “Como explicar para as minhas filhas que eu ia ficar em casa? Que agora, quem precisava de cuidado era a ‘mamãe’? Eu acho que a maior dificuldade foi assumir para elas: A ‘mamãe’ precisa de cuidado’”.
Se mostrar vulnerável para Milena e Catarina foi mais um desafio enfrentado nesse processo. “Porque nós, mães, queremos ser a ‘super mãe‘, aquela que não tem fragilidades, que dá exemplo, que está forte o tempo inteiro do lado das crianças. Eu nunca tive a pretensão de parecer a Mulher Maravilha, mas é muito difícil quando você não consegue levantar”, relata Helaine.
Apesar de não querer que as filhas percebessem que a mãe estava doente, a farmacêutica não conseguia ter esse controle. “Uma coisa que eu nunca faço, mas eu precisava, era deitar no meio do dia, e deixar elas brincando sem mim, sem o suporte da mãe em alguns momentos. Eu deixei de levar na escola algumas vezes porque eu não tinha condições, eu me escondia para chorar”, lembra.
A doutora Vanessa Abdo pontua que pessoas rigorosas consigo mesmas podem ser mais propensas à doença: “São pessoas extremamente exigentes, que focam só na carreira, que não têm um suporte social. Muitas vezes mães que têm uma carga mental muito grande, uma sobrecarga de função e uma falta de controle de limites. Como as mães têm acúmulo de responsabilidade, tanto as maternas quanto as familiares, e ainda uma pressão profissional e social muito grande, elas acabam tendo uma sobrecarga emocional e física”.
Foi exatamente o perfeccionismo que Helaine relata que, aos poucos, a levou ao burnout: “Tentar ser perfeita, agradar todo mundo, não dizer ‘não’ para deixar as pessoas felizes… Eu sempre tratei todo mundo tão bem e a mim tratava sempre com muita rispidez”.
A psicóloga ainda ressalta que as mães podem, sim, experimentar um sentimento de exaustão, de culpa, de frustração e até a perda da identidade pessoal. “É preciso se questionar: ‘Quem sou eu para além de ser funcionária e mãe?’. As mães sempre precisam ter um estado de atenção maior, porque faz muitos séculos que elas carregam essa sobrecarga”.
Helaine, apesar de ter o suporte do marido que sempre foi um pai presente, relata que lutou contra uma culpa de precisar cuidar de si mesma. “Quando elas nasceram, eu achava que meia hora fazendo minha unha era muito tempo para ficar longe delas, já que eu já trabalhava fora. Imagina ficar duas, três horas, ir para um consultório, fazer uma massagem…”.
Para ter uma vida saudável e equilibrada emocionalmente, também é preciso reservar momentos para si mesma, afinal só cria filhos felizes, uma mãe feliz. “Eu comecei a fazer coisas para ficar comigo mesma e entender quem eu sou, o que eu quero. Eu sempre me dediquei à família, ao trabalho, ao marido e às filhas e esqueci de mim por muitos anos. Esse ‘voltar para mim’ também foi – e tem sido, porque não é de uma hora para outra – um processo bastante difícil”.
O tratamento é um processo gradativo, e mesmo que pareça difícil durante o caminho, o destino vale a pena. “Para prevenir [o burnout] é preciso manter as outras áreas da vida funcionando. A família, o lazer, a espiritualidade, fazer atividades físicas, ter amigos, relacionamentos… tudo isso ajuda a dissolver a importância que o trabalho tem e melhorar a qualidade de vida“, explica Vanessa.
A especialista faz um alerta para que a doença seja tratada com seriedade. “A gente percebeu um aumento dos números de suicídios nos últimos anos. Parte disso está atrelado a uma pressão social em relação ao trabalho, mas não só a ele. É preciso cuidar de forma muito atenta da nossa saúde mental e das pessoas do nosso entorno, porque é um problema de todo mundo. Quando uma pessoa comete suicídio, a sociedade falhou”.
Depois do que passou, Helaine diz que o mais importante para as mães que se identificam com o seu relato é reconhecer que precisa de ajuda e não ter vergonha disso. “Tem vários grupos [de acolhimento] gratuitos, universidades ao longo do país. O que não pode é a gente ficar sozinha, achando que vai dar conta, porque não é fácil”.
Além disso, o que vem aprendendo com o tratamento na terapia é sobre autocompaixão, “se tratar bem como você trata os outros”. “As vulnerabilidades devem ser assumidas. O que a gente puder fazer para melhorar, ok, mas que a gente não se espelhe no outro como se o outro tivesse a vida perfeita. Que a gente possa olhar para si e fazer o melhor”, finaliza ela, reforçando que “ninguém é menor porque teve um burnout”.
Família
Junior diz que marca hora para ter relações sexuais e explica o motivo
Família
Wesley Safadão não vai à aniversário de filho com Mileide Mihaile: "Não entendo"
Família
Barbara Evans mostra encontro da filha com gêmeos recém-nascidos: "Coração completo"
Bebês
Mulher de 25 anos já é mãe de 22 filhos e não quer parar: ”Eu ainda quero mais 80 filhos”
Criança
Mãe fica envergonhada após ler mensagens que filho de 7 anos escreveu nos cartões de Natal
Família
Wanessa Camargo surpreende filho com presente gigante instalado na mansão da família
Família
Kelly Key fala sobre sua mudança para Angola com a família: “Terra de oportunidades”
Bebês
“Ela não vai te perdoar”: mãe coloca nome de vegetal na filha e recebe críticas nas redes sociais