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Efeitos da pandemia: estresse das mães na gravidez pode influenciar diretamente no cérebro do bebê

O aumento do cortisol, hormônio do estresse, pode causar impactos na gravidez e fazer com que, no futuro, o bebê possa vir a ter depressão ou ansiedade, por exemplo - iStock
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Publicado em 25/02/2021, às 09h51 - Atualizado em 12/04/2023, às 14h29 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco


Há exatos um ano e três meses, o primeiro caso de coronavírus era confirmado na província de Wuhan, na China, o epicentro da doença. Daquele momento até agora, 107 milhões de pessoas contaminadas não sabiam que teriam suas vidas afetadas por um vírus, e muito menos que o restante do mundo sofreria um impacto tão grande causado pela pandemia.

Com um estresse coletivo desencadeado pelo momento atual, surge o questionamento de como será o futuro dos coronials, os bebês nascidos durante a pandemia. Ao analisarmos questões históricas, como a Tempestade de Gelo, que aconteceu na América do Norte em 1998, ou até mesmo a Gripe Espanhola em 1918, na Europa, chegamos a um ponto em comum: o isolamento social. “O medo, a insegurança, a sensação de estarmos vulneráveis e o sentimento de impotência perante o imponderável, pelo menos enquanto não se encontra a cura, tudo isso mexe muito com o emocional. A vida fica mais dura, tensa, amarga, o pessimismo passa a se sobrepor ao otimismo. Contudo, historicamente, nos períodos dos pós epidemias e pandemias, houve avanços, evoluções, mudanças de mentalidade, comportamento e transformações importantes”, comenta Ricardo Almeida, graduado em História pela PUC-SP e pós-graduado em Psicopedagogia Institucional e Gestão Escolar, pai de Alexandre e Maria Clara.

Ana Lua, analista de marketing e mãe de Matteo, não teve uma gravidez fácil e passou por muitos momentos de medo e insegurança durante a gestação em 2020. “Descobri a minha gravidez bem no final de março do ano passado e o mundo inteiro já estava confinado dentro de casa, mas no Brasil ainda era bem recente. Tínhamos poucas informações sobre esse assunto, ninguém sabia ao certo se a gestante fazia ou não parte do grupo de risco, cada um falava uma coisa. Então eu tinha muito medo do que isso poderia causar em mim ou no bebê, caso eu fosse infectada. Ainda era muito obscuro”, lembrou.

O aumento do cortisol, hormônio do estresse, pode causar impactos na gravidez e fazer com que, no futuro, o bebê possa vir a ter depressão ou ansiedade, por exemplo (Foto: iStock)

Os traumas causados pela pandemia

Segundo um estudo para o projeto “Tempestade de Gelo”, que tem o objetivo de analisar o estresse pré-natal e comportamentos externos relacionados ao isolamento de 1998, feito em parceria por pesquisadores da Douglas Mental Health University Institute, McGill University e da University of Konstanz, foi sugerido que o aumento do estresse, relacionado ao cortisol, “pode influenciar resultados comportamentais subsequentes, alterando a maturação da amígdala (cerebelosa)”. Apesar da situação não estar diretamente ligada ao isolamento, os resultados podem ser influenciados pelo momento do estresse na gravidez, além das experiências vividas pela mãe durante aquele período.

Durante 11 anos e meio, 100 famílias participaram de avaliações padronizadas, além de estudos de ressonância magnética do cérebro. Dos dados comportamentais válidos de 63 participantes, 33% foram expostos a Tempestade de Gelo antes da concepção, 22,2% no primeiro trimestre, 23,8% no segundo trimestre e 20,6% no terceiro trimestre. A partir do estudo, acredita-se que o estresse pré-natal possa, de alguma maneira, influenciar no crescimento das amígdalas cerebelosas, podendo fazer com que a pessoa desenvolva algum tipo de ansiedade, depressão ou agressividade no futuro.

Apesar de ser em um momento diferente da pandemia de coronavírus, muitos pontos se entrelaçam no caminho, principalmente quando relacionamos aos sentimentos vivenciados pelas gestantes em 2020, também influenciadas pelo medo, estresse e incertezas. “Isso pode acarretar em um aumento do cortisol, o hormônio do estresse, que não deveria passar pela placenta por existirem diversas enzimas inibitórias. Mas, não só na pandemia, visto isso também na mulher moderna por ter mais preocupações do que antigamente, faz com que esse hormônio passe pela placenta causando a maturação do sistema da criança, além de alterar partes do cérebro e do sistema nervoso central”, explica a neuropediatra, Karina Weinmann, filha de Jacira e Hugo. “Podemos perceber isso a partir do aumento da amígdala cerebelosa, que está na região temporal e é importante pela dor, prazer, medo, raiva, tristeza e alegria, regulando as emoções no sistema límbico e que está muito ligada ao hipotálamo, hipocampo e ao córtex frontal, que é o lóbulo do comportamento“, completa.

Felizmente, com o tratamento adequado e uma rede de apoio forte é possível diminuir os impactos da pandemia nos comportamentos emocionais da criança (Foto: Freepik)

Ainda sobre os números aumentados de cortisol, Karina comenta que é algo importante para ficar de olho: “As crianças estão nascendo mais agitadas, intolerantes, além de querer tudo no tempo delas. Então a probabilidade de ter problemas comportamentais e emocionais ou dificuldade no aprendizado é muito grande. Inclusive, o nível de hiperatividade e déficit de atenção aumenta e até mesmo de esquizofrenia precoce, coisa que antigamente a gente não via tanto”.

O bebê pode sentir o que está acontecendo desde o útero da mãe

O psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho, filho de Ademir e Wania, reforça que desde o útero o bebê consegue “sentir” o que está acontecendo. “Se a mulher passa por longos períodos de tensão ou estresse, essas informações chegam ao bebê. Mas não convém sermos deterministas no que diz respeito a que tipo de resultado isso terá no bebê. Fato é que mães mais tranquilas e seguras costumam criar seus filhos de modo mais tranquilo e num ambiente mais previsível, fazendo com que as crianças cresçam também mais tranquilas e autoconfiantes“.

Apesar de não ser possível afirmar com certeza se o bebê terá ou não no futuro impactos causados pela pandemia, o psicólogo explica que é importante olhar com carinho para os coronials. “Certamente o fato de ficarmos mais de um ano, quem sabe dois, num funcionamento bastante atípico do que normalmente tínhamos, deve ser considerado para que possamos cuidar da melhor maneira possível desses bebês e crianças. O fato do bebê ter apenas os pais como figuras mais próximas, contato reduzido ou inexistente com outras crianças e o próprio ambiente doméstico como sendo o lugar onde se convive intensamente, onde se estabelece o único espaço seguro de exploração, pode ter efeitos no desenvolvimento das crianças. O que ainda não sabemos é se eventuais atrasos serão facilmente recuperados no futuro ou se eles irão gerar crianças mais medrosas, que possuem mais dificuldade em explorar e arriscar, ou com maiores dificuldades nas relações interpessoais”, comenta.

Pensando no isolamento da família como um todo, o Ronaldo Coelho explica sobre a importância de ter cuidado antes de um pensamento mais determinista. “O estresse do confinamento tanto para pais, bebês e crianças, podem ter produzido marcas e prejuízos importantes de serem considerados. Mas, antes de sermos deterministas com a geração, seria importante tomarmos uma postura de cuidado com essas dimensões, pois o determinismo pode em si ser o olhar que estereotipa e produz o sujeito. É importante lembrar que especulações sobre o futuro de uma geração podem se equivocar e o que sabemos até o momento sobre desenvolvimento infantil deve ser tomado mais como norte, para que se cuide das crianças, do que como determinismo”.

É possível reduzir os impactos da pandemia

Atualmente, mesmo após o nascimento de Matteo, Ana Lua ainda tem uma preocupação extrema com o filho e precisou recuar em muitos momentos, como receber o mínimo possível de visitas em casa por conta da segurança do bebê. “Acredito que esse pós-parto esteja sendo mais difícil do que o período pré-natal”. Ela é uma das milhares de mulheres que viveram a gestação e o puerpério somados à fragilidade e insegurança da pandemia, resultando em uma combinação pouco confortável.

“A gravidez já é um momento de maior vulnerabilidade psicológica e aí, com a pandemia e todo o impacto da dinâmica, pensando, por exemplo, nas gestantes que já têm outro filho e que tiveram que lidar com o trabalho, como cuidar de uma criança sem escola, muitas vezes sem suporte de um funcionário em casa, da família e isolada, trouxeram um impacto maior. Muitos estudos mostram um aumento expressivo dos transtornos mentais por todos os efeitos da pandemia. Geralmente são quadros de ansiedade, depressão, pânico, e isso impacta para as gestantes, já que a gravidez é um momento de maior vulnerabilidade psicológica somado a esse estresse externo”, explica o Dr. Igor Padovesi, ginecologista e obstetra da USP e do Hospital Albert Einstein, colunista e embaixador da Pais&Filhos, pai de Beatriz e Guilherme.

Apesar de todos os impactos, a Dra. Fernanda Pepicelli, ginecologista e obstetra pela Febrasgo, mãe de Rafael, destaca que a pandemia também trouxe momentos para o fortalecimento de vínculos da família. “A pandemia fez com que as mães ficassem mais tempo com os bebês. Antes uma boa parte voltava 8 horas de um escritório com 4 meses. Minhas pacientes estão conseguindo ter amamentação exclusiva até os 6 meses e um acompanhamento mais próximo deste desenvolvimento. Então, apesar de todo estresse, acredito que teremos benefícios para estes bebês por conta de um convívio mais próximo”.

Como uma alternativa de reduzir os impactos causados nas gestantes por conta da pandemia, o Dr. Paulo Telles, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pai de Leonardo e Carolina, explica que é importante iniciar os cuidados ainda na gestação. “Um bom pré-natal, com assistência psicológica, emocional e nutricional já começam a ajudar. Da mesma forma que efeitos negativos inerentes da pandemia podem atrapalhar, podemos sim através destes cuidados com a mãe e o bebê também gerar alterações positivas e estimular a expressão de genes bons e inibição de genes ruins. Isso com muito afeto, carinho, boa nutrição, ambiente seguro físico e emocional, suporte familiar, bom atendimento médico e vacinação sem dúvidas irão ajudar a reverter estes impactos”.

Karina Weinmann dá dicas de atividades para realizar ao longo do dia que podem diminuir o estresse na gravidez durante a pandemia (Foto: iStock)

Já a Dra. Flávia Oliveira, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, mãe de Pedro e Lucas, orienta que cabe ao médico que acompanha a gestante detectar o mais rápido possível transtornos de humor que possam vir a aparecer como efeitos da pandemia e isolamento social na gestante. “Ele pode ponderar se há necessidade do auxílio de um profissional atrelado à saúde mental como, por exemplo, um psicólogo ou psiquiatra. Além disso, o manejo do estresse engloba alguns aspectos básicos de um estilo de vida saudável, o que vem de encontro com o conceito da Medicina do Estilo de Vida. Essa área mais nova (baseada em ciência) em nosso país tem foco na prevenção de doenças através da busca de equilíbrio entre os seguintes pilares: qualidade do sono, nutrição (através da Medicina Culinária), atividade física, manejo do estresse, busca da felicidade e evitar consumo de drogas, como tabaco e álcool. Todos esses aspectos devem ser abordados durante a gestação, com a implementação de estratégias para que se forme uma rotina adequada às necessidades da gestante e de sua família”.

Karina Weinmann completa sobre algumas práticas que podem fazer a diferença no dia a dia da gestante. “Fazer yoga, tentar abstrair o estresse ou até mesmo ouvir música – porque o bebê escuta dentro da barriga da mãe e é importante para o desenvolvimento. Então, o ideal é tentar se acalmar e não deixar se afetar nesse sentido. Além disso, a prática de atividades físicas e uma alimentação saudável são indispensáveis”, conclui.

A pandemia também trouxe impactos na alimentação da família

Ao passarmos mais tempo em casa devido ao isolamento social, nasce também um maior consumo por comidas práticas e que facilitam o dia a dia. Segundo dados de pagamentos da empresa Rede, até maio de 2020, ainda no começo da pandemia, o deliveryteve um aumento de 59% no Brasil. Pensando nisso, a neuropediatra faz um alerta sobre um maior consumo de comidas industrializadas, que podem afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê. “Por conta dos conservantes, isso pode atrapalhar a conversa de um neurônio com o outro e ainda alterar o gene da mãe, promovendo uma apresentação clínica diferente da criança. Se, por exemplo, a mãe tem uma tendência a ansiedade, o bebê pode vir ainda mais ansioso por conta do gene que foi alterado devido às comidas industrializadas”.

Redes sociais x pandemia

Apesar do distanciamento social, foi possível notar uma maior aproximação das famílias de maneira virtual. Como uma alternativa de driblar a saudade, muitas mães encontraram o aconchego e o carinho nas chamadas de vídeo durante um momento tão delicado.

Para Issaaf Karhawi, doutora em Comunicação Digital pela Universidade de São Paulo (USP), e filha de Abdon Salan e Rosângela, as redes sociais trouxeram impactos positivos na rede de apoio, além de contribuir para a diminuição de distâncias e aproximar pessoas, mesmo que de longe. “O termo redes sociais sempre caracterizou as nossas relações sociais. Portanto a sua família é uma rede social, as pessoas do seu trabalho compõem uma rede social e assim por diante”, explica.

Quanto a migração do analógico para o digital, é superimportante entender que as redes sociais são ferramentas e a apropriação delas é definida por cada um de nós. “Nós ganhamos um grande presente das redes sociais, que foi a possibilidade de nos relacionarmos com os outros sem a necessidade de presença física. Se pararmos para pensar, ela sempre foi obrigatória para que pudéssemos nos relacionar com alguém. O digital muda isso, além da nossa relação com o tempo e o espaço”, comenta Issaaf.  “Você pode estar em outro fuso horário, em outra localidade e ainda assim se tornar presente para alguém. Então, pensando nisso, as redes sociais encurtam distâncias, aproximam e podem ser sim espaços de acolhimento para mulheres grávidas, que passam pela pandemia e pela gestação sozinhas e em isolamento”, conclui.


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